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O liberalismo na economia e nos costumes rendeu enormes lucros à Holanda nas últimas décadas. Vanguardista na liberação da maconha e da prostituição — que transformaram os coffee shops com consumo liberado da erva e a exibição de garotas de programa em vitrines em atrações turísticas em Amsterdam —, o país das liberdades foi varrido por uma onda conservadora que culminou na vitória da extrema direita nas eleições parlamentares na quarta-feira.

Embora o avanço da retórica conservadora não seja novidade na Europa — que nos últimos anos viu a extrema direita ganhar espaço em nações como Alemanha, Itália, Suécia e Finlândia —, muitos ficaram surpresos com o resultado do pleito na Holanda, conhecida por suas políticas progressistas.

Grande parte da imprensa internacional atribuiu o resultado aos efeitos da grave crise imobiliária que afeta o país. Em 2021, a Holanda precisou estabelecer restrições a plataformas como AirBnb devido aos 20 milhões de turistas que recebe anualmente apenas em Amsterdam, um fluxo que supera o número de residentes.

A responsabilidade, no entanto, foi jogada no colo dos imigrantes tanto pela legenda vitoriosa, o Partido pela Liberdade (PVV), quanto pelos governistas do Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD) — apesar de a candidata à sucessão do primeiro-ministro Mark Rutte, Dilan Yesilgoz-Zegerius, ser uma refugiada de nacionalidade turca.

Menos drogas e sexo

Mas o movimento em direção a uma Holanda diferente da que o mundo está acostumado já dava sinais antes das eleições. Em março, o governo de Amsterdam lançou uma ampla campanha contra o turismo sexual e o uso recreativo de drogas na capital, tendo como alvo homens jovens do Reino Unido. "Está vindo para Amsterdam para uma noite agitada? Fique fora daqui!", dizia um dos anúncios.

Uma busca por termos como "despedida de solteiro" ou "hotel barato" na internet feita por esse público é redirecionada para anúncios do governo alertando para os riscos dos exageros nas noites de Amsterdam, que incluem multas de até 140 euros (R$ 748), registros criminais e danos à saúde, afirma uma reportagem do The Guardian. Apesar das controvérsias, moradores da capital holandesa comemoraram a queda de 22% nos voos vindos de Londres após a ação.

Entre as medidas conservadoras implementadas neste ano na capital estão a proibição da venda de álcool em lojas nos fins de semana, horários de fechamento mais cedo para bordéis e pubs e multa de 100 euros (R$ 534) por fumar maconha na rua no distrito Red Light e arredores, conhecido pela exposição de mulheres semi-nuas em vitrines.

— Agora temos que optar pela restrição em vez do crescimento irresponsável — disse o vice-prefeito da capital, Sofyan Mbarki.

Os indícios da mudança não se restringem à capital. Em Rotterdam, segunda maior cidade do país, o governo iniciou uma campanha no mês passado associando o consumo recreativo de drogas ao crime organizado.

Ainda que a cannabis seja comercializada na Holanda, a falta de regulação na cadeia produtiva devido a regras impostas pela União Europeia (UE) proíbe o seu cultivo para venda, criando o chamado "problema da porta dos fundos": os coffee shops podem vendar a erva, mas o seu fornecimento vem do mercado ilegal. Na prática, o cenário favoreceu a expansão do narcotráfico no país, incluindo de drogas mais pesadas, como sintéticos. Em setembro, o governo holandês anunciou que testaria uma experiência de produção legal para frear as organizações criminosas.

Crise habitacional e imigração

Embora a permissividade da Holanda ao sexo e às drogas tenha servido para atrair turistas ao redor do mundo — e impulsionar a receita da quinta maior economia do continente —, os ônus que também afligem outras cidades europeias, como a falta de moradia e o aumento no custo de vida, podem ter refletido no resultado visto nas urnas. Sob o slogan "nem tudo pode ser feito em todos os lugares ao mesmo tempo", a extrema direita holandesa aproveitou a onda conservadora que já ganhava tração nas maiores cidades do país, usando o sentimento anti-imigração como o bode expiatório.

De acordo com uma pesquisa do instituto Ipsos de setembro, as maiores preocupações dos eleitores holandeses eram custo de vida, saúde, moradia e imigração, respectivamente. No entanto, este último dominou a campanha, com partidos prometendo diminuir a migração líquida para 50 mil pessoas por ano — um quarto do registrado em 2022 — e mudar o idioma padrão nas universidades para o holandês. Hoje, mais da metade da população fala dois idiomas ou mais, e o inglês é predominante no ensino superior.

Há ainda promessas de diminuir voos e reduzir as isenções fiscais concedidas a estrangeiros. Em algumas universidades, a falta de moradia tem incentivado instituições de ensino a recusarem estudantes internacionais, afirmou o reitor da Universidade de Tecnologia de Eindhoven em entrevista à Fortune.

— É muito tentador culpar os migrantes pela falta de moradias. Isso distrai as pessoas do fracasso de sua própria política habitacional — disse o professor de história global do trabalho e da migração na Universidade de Leiden, Leo Lucassen, em conversa com a mesma publicação.

Uma das propostas que os extremistas de direita levantaram na campanha foi realizar um referendo perguntando à população se o país deveria continuar na União Europeia, apelidado de Nexit em referência ao Brexit, no Reino Unido, também impulsionado pelo sentimento anti-imigração.

"[A Holanda] foi seriamente enfraquecida devido ao tsunami de asilo em andamento e à imigração em massa", disse a legenda em nota.

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