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Por — São Paulo

A Corte Internacional de Justiça, em Haia, determinou nesta sexta-feira que a Venezuela não adote nenhuma ação agressiva contra a região fronteiriça de Essequibo, contestada por Caracas como parte de seu território, às vésperas da realização de um polêmico referendo sobre o tema. O tribunal internacional acatou o pedido da Guiana, que administra a região há décadas por medidas provisórias, ao reconhecer que os últimos anúncios e ações do governo de Nicolás Maduro demonstram a urgência de tratar o tema. O órgão judicial também determinou que nenhum dos países tome medidas para agravar o conflito.

A sessão sobre o caso, realizada dois dias antes do referendo que pretende consultar a população sobre a anexação da região do Essequibo, determina que "a República Bolivariana da Venezuela deve se abster de quaisquer ações que possam modificar a situação que prevalece atualmente" — a administração da região pela Guiana — até que o mérito da ação (a quem o território pertence de fato), vá a julgamento.

Embora não se refira diretamente ao referendo no texto das medidas provisórias, a Corte determina também que "as duas partes devem se abster de quaisquer ações que possam agravar ou estender a disputa antes da decisão [final] da Corte ou torná-la ainda mais difícil de resolver".

As determinações são resultado de um requerimento da Guiana, apresentado em 30 de outubro, em que o país denuncia o referendo do governo venezuelano como uma ação destinada a conquistar validação interna para dar suporte à decisão de Maduro de abandonar o processo na CIJ e aplicar medidas unilaterais para anexar o território do país.

Região de Essequibo, disputada por Guiana e Venezuela — Foto: Editoria de Arte
Região de Essequibo, disputada por Guiana e Venezuela — Foto: Editoria de Arte

Por se tratar de um pedido de medida provisória, que antecede o julgamento de mérito sobre a questão da fronteira, a Corte precisou avaliar antes se havia realmente urgência que justificasse a imposição de medidas de maneira imediata. No argumento final, os magistrados apontaram que tanto o referendo quanto declarações oficiais recentes do governo Maduro, incluindo do próprio presidente, justificariam a tomada de medidas.

"Em 24 de outubro de 2023, o presidente da Venezuela, Sr. Nicolás Maduro Moros, declarou publicamente que o referendo daria, pela primeira vez, aos venezuelanos, os meios para tomar 'uma decisão coletiva como país'", afirmou.

Em sua decisão, a Corte também observa que outras declarações oficiais sugerem que a Venezuela está tomando medidas com vistas a adquirir o controle e administrar o território em disputa.

"Por exemplo, em 6 de novembro de 2023, o Ministro da Defesa da Venezuela, general Vladimir Padrino López, fez um apelo para 'ir ao combate' com referência ao território em questão (...) e oficiais militares venezuelanos anunciaram que a Venezuela toma medidas concretas para construir uma pista de aterragem que sirva de 'ponto de apoio logístico para o desenvolvimento integral do Essequibo'", afirma o texto.

Levando esses pontos em consideração, a Corte afirmou que, "à luz da forte tensão que caracteriza atualmente as relações entre as partes, as circunstâncias acima mencionadas representam um sério risco de a Venezuela anexar e exercer o controle e a administração do território em disputa no presente caso".

Após a leitura da decisão na Holanda (a sessão começou por volta das 11h, horário de Brasília), Maduro se pronunciou em uma rede social. Sem mencionar a CIJ, o presidente venezuelano se disse preparado para defender Essequibo, afirmando que a região pertence ao país.

"Nossa Pátria se caracteriza por suas mulheres e homens corajosos. Não deixaremos que ninguém nos tire o que nos pertence, nem trairemos os nossos princípios. Defenderemos Essequibo!", escreveu.

Reivindicação antiga

A Venezuela reivindica a soberania sobre a região de Essequibo há décadas. A zona de 160 mil km2, rica em petróleo e recursos naturais, equivalente a 2/3 do território da Guiana e abriga 125 mil dos 800 mil habitantes do país. Em meio à disputa, Caracas tem reafirmado que a questão sobre a fronteira não está sob a jurisdição do tribunal internacional, acusando o país vizinho de tentar interferir em uma questão de direito interno.

— A Venezuela reafirma sua recomendação categórica à audaz ação da Guiana para interferir em seus assuntos internos — declarou recentemente a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, questionando a ação movida pelo país vizinho no CIJ.

A vice-presidente também afirmou, na época, que a presença de representantes venezuelanos em Haia não significa o reconhecimento da jurisdição da Corte nesta causa.

As tensões geram temores regionais de uma escalada bélica. Na quarta-feira, o Brasil anunciou o envio de um contingente de soldados para o município de Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, para reforçar a segurança na região. Na semana passada, o vice-presidente da Guiana, Bharrat Jagdeo, anunciou a visita de funcionários ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos e indicou que Georgetown contemplava a possibilidade de estabelecer bases militares aliadas.

— Nunca estivemos interessados em bases militares, mas temos de proteger nossos interesses nacionais — disse Jagdeo.

O plano de Caracas é apresentar um referendo no domingo, a fim de revogar uma sentença judicial de 1899, que estabeleceu a fronteira entre os países. Embora não seja vinculativo, o processo terá cinco perguntas, desde o reconhecimento da jurisdição da CIJ sobre a questão até a criação de uma província venezuelana chamada Guiana Esequiba, outorgando a nacionalidade venezuelana a seus habitantes. De acordo com observadores do processo, o "sim" deve ganhar por grande maioria. (Com AFP)

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