Dezenas de tanques israelenses, veículos de transporte de tropas e escavadeiras entraram no sul da Faixa de Gaza, perto da cidade de Khan Younis, disseram várias testemunhas à AFP nesta segunda-feira. Amin Abu Hola, de 59 anos, indicou que veículos militares israelenses já tinham penetrado cerca de dois quilômetros até à aldeia de Al Qarara, a nordeste de Khan Younis.
"Os tanques já estão na estrada de Salaheddin”, que atravessa a Faixa de norte a sul, acrescentou Moaz Mohammed, de 34 anos.
O reforço da presença militar israelense nessa área do enclave, que é controlado pelo Hamas, marca o primeiro avanço terrestre em direção ao Rio Gaza, criando uma linha divisória entre norte e sul, e ocorre apesar da crescente pressão internacional para que Israel proteja a população civil e retome a trégua com o Hamas, que chegou ao fim na última sexta-feira.
As Forças Armadas de Israel estão expandindo sua ofensiva para o sul da Faixa de Gaza depois do fim de um cessar-fogo de uma semana, afirmando que muitos líderes do grupo terrorista Hamas estão escondidos na região.
— As Forças Armadas de Israel estão retomando e expandindo sua operação terrestre contra os redutos do Hamas em toda a Faixa de Gaza — disse o porta-voz militar Daniel Hagari em coletiva no domingo. — Nossa política é clara: vamos com força atingir qualquer ameaça ao nosso território.
O Exército israelense ordenou neste domingo que mais áreas dentro e ao redor de Khan Younis, a segunda maior cidade do enclave, localizada no sul, fossem esvaziadas. A localidade, assim como Rafah, na fronteira com o Egito, foi alvo de fortes bombardeios durante a madrugada e pela manhã deste domingo. Também partes do norte em que ofensiva israelense ainda não entrou completamente foram alvo, como Jabaliya, Zeitoun e Shejaiyeh.
Em Khan Younis estão abrigadas centenas de milhares de pessoas que fugiram do norte no início do conflito, após ordem de retirada de Israel. James Elder, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unesco), afirmou à rede britânica BBC que os bombardeios têm sido "implacáveis" com "grandes bombas consistentemente" caindo em diferentes partes do sul.
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Elder também relatou que há um "grau de pânico" nunca antes visto no Hospital Médico de Nasser, que descreveu como "zona de guerra".
— [Várias crianças chegam com] ferimentos na cabeça, queimaduras terríveis, estilhaços de bombas de explosões que ocorreram, estimo, na última meia hora — afirmou, acrescentando: — Esse não é uma lugar para crianças se recuperarem, não é um lugar para crianças.
Mohammed Ghalayini, um especialista em poluição palestino-britânico que chegou a Gaza pouco antes do início do conflito em 7 de outubro, disse à BBC que a situação na cidade "supera a catástrofe".
— As pessoas estão, há 50 dias ou mais, resistindo ao brutal ataque israelense com pouquíssimos recursos de comida, água, energia e serviços sanitários e de lixo — disse Ghalayini, que foi a Gaza para uma visita de três meses à sua mãe.
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Do Vaticano, o Papa Francisco instou os dois lados a implementarem um novo cessar-fogo o mais rapidamente possível.
"É triste que a trégua tenha sido rompida, isso significa morte, destruição e miséria", lamentou, em um texto lido em italiano por um de seus assistentes após a tradicional oração do Angelus.
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'Crise de deslocamento'
O alto-comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, descreveu a situação dos civis em Gaza como uma "crise de deslocamento".
— Os palestinos estão sendo empurrados cada vez mais para um canto estreito do já é um território muito pequeno — disse Grandi na Conferência do Clima de Dubai, a COP28, referindo-se aos cerca de 365km² do enclave (a cidade do Rio de Janeiro tem aproximadamente 1.200km²).
O mesmo alerta foi feito pelo alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, que advertiu que, devido às ordens de retirada emitidas por Israel, "centenas de milhares de pessoas" estavam "confinadas em áreas cada vez menores", afirmando que não há "lugar seguro em Gaza".
O Escritório da ONU para Coordenação de Questões Humanitárias estimou neste domingo que cerca de 1,8 milhão dos 2,2 milhões de habitantes de Gaza estão deslocados internamente, o que corresponde a uma proporção de quatro em cada cinco palestinos fora de suas casas.
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A ONU, entretanto, faz a ressalva de que "obter uma contagem precisa é desafiador", já que é difícil rastrear aqueles que fugiram e os que retornaram a seus lares durante o cessar-fogo temporário. Negociada pelo Catar com a ajuda dos EUA e do Egito, a trégua entrou em vigor em 24 de novembro, depois de mais de um mês de guerra, e expirou na sexta-feira, quando o Exército israelense retomou os bombardeios na Faixa de Gaza.
Desde então, as Forças Armadas afirmam ter lançado mais de 400 ataques. Já o Ministério de Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, diz que os ataques dos últimos três dias mataram 316 pessoas, elevando para 15.523 o total de mortos, incluindo cerca de 6 mil menores, desde o início do conflito.
Israel disse que neste domingo que, desde o começo da guerra, lançou cerca de 10 mil ataques aéreos em Gaza e que cerca de 800 túneis foram descobertos, com aproximadamente 500 tendo sido destruídos.
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Tanto o Hamas quanto o grupo armado Jihad Islâmica afirmaram neste domingo que lançaram foguetes contra cidades israelenses, incluindo Tel Aviv — a maioria desses projéteis é interceptada pelo poderoso sistema de defesa antiaérea israelense.
Pressão sobre o Hamas
A guerra começou em 7 de outubro, quando terroristas do Hamas e de outros grupos palestinos invadiram o sul de Israel, deixando 1,2 mil mortos, a maioria civis, e sequestrando cerca de 240 pessoas, segundo as autoridades israelenses. Em resposta, Israel prometeu aniquilar o Hamas e iniciou uma campanha de ataques aéreos e terrestres.
O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, declarou no sábado que as novas ações são necessárias para pressionar o Hamas a libertar os estimados 137 a 149 reféns ainda nas mãos do Hamas e dos outros grupos extremistas. Durante a trégua, cerca de cem foram libertados em troca de 240 presos palestinos.
No sábado, o número dois do gabinete político do Hamas, Saleh al-Arouri, declarou que a libertação do reféns depende da "libertação de todos nossos prisioneiros, após um cessar-fogo total".
Sem questionar o direito de seu aliado à "autodefesa", os Estados Unidos criticaram duramente no sábado as mortes de civis na guerra.
— Muitos palestinos inocentes morreram — disse a vice-presidente, Kamala Harris, na COP28 em Dubai. (Com informações da AFP)
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