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No mesmo ano em que a Guiana desponta como o país que mais cresce economicamente no mundo, o país tornou-se alvo de uma até então esquecida disputa territorial com a Venezuela. No domingo, o governo de Nicolás Maduro conseguiu aprovação popular em um referendo sobre a anexação da área contestada por Caracas, conhecida como Essequibo, que corresponde a 2/3 do território guianês. Mas há muito mais sobre a pequena nação sul-americana que ajuda a entender a tensão na fronteira.

Único país da América do Sul que tem o inglês como idioma oficial, a Guiana se tornou oficialmente parte do Império Britânico em 1814, após o território ter sido cedido pela Holanda, que estava no poder desde o século XVI, depois de ser tomado por tropas britânicas em 1796. Antes disso, a região já havia sido explorada pelos espanhóis no século XV, mas não chegou a ser colonizada, como a vizinha Venezuela. Mesmo independente, até hoje a nação integra a Comunidade Britânica, grupo composto por 53 países que fizeram parte do antigo Império.

Até 1831, o território guianês era dividido nas colônias de Essequibo, Demerara e Berbice, mas foi unificado sob domínio britânico, quando passou a se chamar Guiana Inglesa. A raiz do problema atual, inclusive, remonta a este período, época em que as fronteiras eram estabelecidas por meio de acordos entre potências europeias.

De um lado, a Guiana se atém a um laudo arbitral de Paris de 1899, no qual foram estabelecidas as fronteiras atuais. Do outro, a Venezuela se apoia em sua interpretação do Acordo de Genebra, firmado em 1966 com o Reino Unido antes da independência guianesa, em que Londres e Caracas concordam em estabelecer uma comissão mista "com a tarefa de buscar uma solução satisfatória" para a questão, uma vez que o governo venezuelano na ocasião considerou o laudo arbitral de 1899 "nulo e vazio". No acordo, no entanto, Londres apenas reconhece esse posicionamento de Caracas, mas não respalda sua interpretação de que sentença de 1899 foi baseada em uma fraude.

Embora a Guiana tenha sido explorado por três nações europeias diferentes, a maior parte da sua população de 808 mil habitantes — um pouco maior que a de São José dos Campos, em São Paulo — é descendente de africanos escravizados e indianos, que depois da abolição da escravatura, em 1837, foram enviados para trabalhar nas plantações substituindo a população negra.

Quase 90% dos seus habitantes vivem no litoral, sobretudo na capital Georgetown, já que boa parte do território do país é tomado pela floresta amazônica.

Mapa do território em disputa entre Venezuela e Guiana — Foto: Editoria de Arte
Mapa do território em disputa entre Venezuela e Guiana — Foto: Editoria de Arte

Boom econômico

Para 2023, o Fundo Monetário Internacional (FMI) projetou um aumento de 38% na economia da Guiana, impulsionado pela exploração de petróleo na região equatorial, onde fica Essequiba. No ano passado, o país já havia registrado crescimento recorde de 62,3%, o maior patamar mundial.

O crescimento estrondoso também impactou o PIB per capita, que em 2022 foi de US$ 18,9 mil (R$ 93,4 mil) anuais — muito acima dos US$ 8,9 mil (R$ 44 mil) registrado no mesmo período no Brasil, segundo dados do Banco Mundial. Para este ano, as projeções apontam para mais de US$ 60 mil (R$ 296 mil). Em 2015, quando a primeira jazida foi descoberta, o valor era US$ 11 mil (R$ 54 mil).

O boom econômico teve início em 2019, quando a gigante americana ExxonMobil começou a explorar petróleo no país. Hoje, a Guiana extrai cerca de 400 mil barris por dia. Se suas fronteiras continuarem como estão hoje, esse número pode superar 1 milhão em 2027.

Segundo a Exxon, a sua reserva abriga 11 bilhões de barris de petróleo — o que posicionaria o país entre os 20 maiores do mundo. No Brasil, com um território muito mais extenso, há 14,5 bilhões em reservas comprovadas, de acordo com a ANP (Agência Nacional do Petróleo).

Críticos apontam uma forte influência da empresa americana no governo guianês e o próprio presidente do país, Irfaan Ali, reconheceu em entrevista à BBC que os acordos favoreceram mais a gigante do petróleo do que a nação.

— O acordo poderia ter sido melhor para a Guiana — disse Ali. —A Exxon teve um bom acordo assinado pelo último governo, mas, vejam, para nós, o cumprimento do contrato é muito importante. Não podemos voltar atrás e renegociar.

Até o início de 2024, mais de 14 leilões de exploração de petróleo na região disputada estão previstos, o que impulsou as tensões com a vizinha Venezuela, dona da maior reserva comprovada de petróleo bruto do mundo.

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