O Conselho de Segurança da ONU, órgão máximo da organização, vai discutir nesta sexta-feira as tensões na fronteira entre a Venezuela e a Guiana em reunião a portas fechadas, de acordo com um cronograma oficial.
Em uma carta vista pela AFP, o ministro das Relações Exteriores guianês, Hugh Todd, pediu ao presidente do conselho que "convoque urgentemente uma reunião" para discutir a disputa sobre o Essequibo, uma região rica em petróleo que pertence à Guiana, mas é reivindicada pela Venezuela.
Venezuela X Guiana:
- Venezuela e Guiana estão em crise por uma secular disputa pela região fronteiriça de Essequibo, que corresponde a dois terços do território da Guiana, ter sido reavivada após a descoberta de petróleo na área em 2015;
- A exploração de petróleo em Essequibo alavancou a economia da Guiana, que nos últimos anos se tornou o país que mais cresce no mundo e dono das maiores reservas de petróleo per capita do planeta;
- Em 3 de dezembro, o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro votou um referendo sobre a anexação do território, que foi aprovado pela maioria da população;
- Com o aval popular, Maduro nomeou um general como "autoridade única" da região, apresentou um novo mapa da Venezuela incluindo a província de "Guiana Essequiba" e ordenou à estatal petrolífera PDVSA a concessão de licenças para a exploração de recursos na área;
- A Guiana, por outro lado, apelou ao Conselho de Segurança e à Corte Internacional de Justiça, organismos da ONU, para intervirem.
Na carta, o ministro relata "as ações tomadas" pela Venezuela "para anexar e incorporar formalmente ao território venezuelano a região de Essequibo, na Guiana, que constitui mais de dois terços do território soberano do país".
No domingo passado, a Venezuela realizou um referendo consultivo no qual mais de 95% dos eleitores que participaram aprovaram a criação de um estado no Essequibo e a concessão de cidadania aos 125 mil habitantes da região.
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Na terça-feira, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou que a empresa estatal de petróleo PDVSA concederá licenças para explorar petróleo, gás e minerais na região de 160 mil km² e criou uma nova zona militar a cerca de 100 km da fronteira.
Caracas afirma que o Essequibo é parte do território do país desde a formação da Capitania-Geral da Venezuela como colônia espanhola, em 1777, e apela para sua interpretação do Acordo de Genebra, assinado em 1966 com o Reino Unido, meses antes da independência da Guiana. O documento reconheceu que havia uma demanda territorial venezuelana baseada na interpretação de Caracas de que o Laudo Arbitral de Paris de 1899, que deu o Essequibo à Guiana, era "vazio e nulo". O Acordo de Genebra estabeleceu que a solução para a controvérsia deveria ser negociada pacificamente, mas não anulou o laudo arbitral de 1899, como alega o governo Maduro.
As ações tomadas pela Venezuela "só agravarão ainda mais a situação. Sua conduta constitui claramente uma ameaça direta à paz e à segurança da Guiana e, de forma mais ampla, ameaça a paz e a segurança de toda a região", concluiu o ministro das Relações Exteriores em sua carta ao Conselho de Segurança.
![Região disputada pela Venezuela e Guiana — Foto: Editoria de Arte / O Globo](https://s2-oglobo.glbimg.com/GPwgMDZMlBN5SFAbdeBEBlovIDk=/0x0:648x519/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/i/n/A4km39RnyWLGvRCLYaIw/guiana-essequibo-on-1-.jpg)
Na sexta-feira passada, o governo guianês também apelou à Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, para interferir na questão em vista da realização do referendo convocado por Maduro sobre o Essequibo. O tribunal reconheceu a ameaça e determinou que o governo venezuelano não tomasse medidas sobre o território guianês. No entanto, a declaração teve apenas caráter simbólico, e a Venezuela prosseguiu com o referendo em que 95% dos participantes decidiram no domingo que o território deveria ser anexado.
Na terça-feira, Maduro anunciou o major-general venezuelano Alexis Rodríguez Cabello como "autoridade única" da Guiana Essequiba, como a região é chamada por Caracas. O presidente venezuelano também apresentou uma nova versão de mapa do país, que seria atualizada nas escolas e universidades.
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