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Por O Globo e agências internacionais — Nova York

O Conselho de Segurança falhou, em votação nesta sexta-feira, em chegar a um consenso sobre uma resolução para um cessar-fogo humanitário imediato na Faixa de Gaza, num momento em que Israel pressiona a sua campanha contra o Hamas no enclave palestino. Com 13 votos a favor e uma abstenção (do Reino Unido), o texto — elaborado pelos Emirados Árabes Unidos e que contou com o apoio de 100 países — acabou sendo vetado pelos Estados Unidos, que já haviam se declarado contrários à medida.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse na abertura da sessão emergencial que a brutalidade do Hamas nos ataques de 7 de outubro — que deixaram mais de 1.200 mortos, segundo autoridades israelenses — "jamais poderia justificar a punição coletiva dos palestinos", apelando também pela libertação de 130 reféns mantidos em cativeiro pelo grupo em Gaza.

— Condeno sem reservas esses ataques. Estou consternado com os relatos de violência sexual — acrescentou Guterres. — Não há justificativa possível para matar deliberadamente cerca de 1.200 pessoas, incluindo 33 crianças, ferir outras milhares e fazer centenas de reféns.

Guterres também condenou "o disparo indiscriminado de foguetes contra Israel pelo Hamas", bem como "o uso de civis como escudos humanos", ambos "violações das leis da guerra". Ele também afirmou que "tal comportamento não absolve Israel das suas próprias violações", descrevendo mais uma vez uma situação humanitária "no ponto de ruptura" na Faixa de Gaza.

— O mundo e a História estão nos observando. É hora de agir — disse.

O apelo de Guterres foi apoiado por um grupo de diplomatas de países árabes, mas rejeitado pelos Estados Unidos, principal aliado de Israel e um dos cinco Estados membros permanentes do Conselho, com poder de veto.

— Embora os Estados Unidos apoiem os apelos para uma paz duradoura, na qual israelenses e palestinos possam viver em paz e segurança, não apoiamos os apelos a um cessar-fogo imediato — disse o embaixador adjunto dos EUA na ONU, Robert Wood.

Ele acrescentou ainda que um cessar-fogo "plantaria as sementes de uma guerra futura", pois o Hamas "não tem desejo algum de uma paz duradoura".

O posicionamento de Wood foi endossado pelo embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, que também criticou o secretário-geral da ONU por convocar a votação. Erdan afirmou que, apesar das guerras na Ucrânia, Iêmen e Síria nos últimos anos, nenhuma delas provocou a mesma resposta por parte de Guterres.

— A ironia é que a estabilidade regional e a segurança tanto dos israelenses quanto dos habitantes de Gaza só podem ser alcançadas uma vez que o Hamas seja eliminado, não um minuto antes — disse Erdan. — Portanto, o verdadeiro caminho para garantir a paz é apenas apoiar a missão de Israel, não pedir um cessar-fogo.

O Hamas, por sua vez, se manifestou por comunicado enquanto ocorria a reunião do Conselho em Nova York, pedindo ao órgão, "à comunidade internacional e a todos os países do mundo que acabem com esta guerra brutal e salvem a Faixa de Gaza antes que seja tarde demais".

Embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, fala durante uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas — Foto: YUKI IWAMURA / AFP
Embaixador dos EUA na ONU, Robert Wood, fala durante uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas — Foto: YUKI IWAMURA / AFP

"Aqueles que sobreviveram aos bombardeios correm agora um risco iminente de morrer de fome e de doenças", alertou a ONG Save the Children juntamente com outras organizações não governamentais nesta sexta, que denunciam uma situação "apocalíptica". O chefe da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, pediu um “cessar-fogo humanitário imediato” para evitar uma "hecatombe de vidas palestinas".

Por sua vez, a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) criticou o órgão da ONU pela inércia sobre o conflito, que já se estende por dois meses. "A inação do Conselho de Segurança das Nações Unidas e os vetos dos seus Estados membros, especialmente os Estados Unidos, tornam-nos cúmplices do massacre em curso", denunciou a organização de ajuda humanitária.

Desde 9 de outubro, Israel impôs um cerco quase total à Faixa de Gaza, impedindo a chegada de água, alimentos, medicamentos e eletricidade, enquanto cerca de 1,9 milhões de pessoas, ou 85% da população, tiveram de abandonar as suas casas desde o início do conflito, segundo a ONU.

Dificuldade de consenso

Guterres convocou a reunião de emergência do principal órgão das Nações Unidas depois de semanas de combates que deixaram mais de 17.487 pessoas mortas em Gaza, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o último balanço do Ministério da Saúde na Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas. O líder da ONU utilizou o raramente utilizado Artigo 99 da Carta das Nações Unidas para chamar a atenção do Conselho para "qualquer assunto que, na sua opinião, possa ameaçar a manutenção da paz e da segurança internacionais".

O Conselho já rejeitou quatro projetos de resolução — incluindo uma proposta apresentada pelo Brasil, que foi vetada pelos EUA — sobre o assunto desde o início da guerra. Para ser adotada, uma resolução exige a aprovação de pelo menos nove dos 15 membros do Conselho, mas sem o veto de nenhum dos cinco membros permanentes (são eles os Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China).

Em novembro, o órgão conseguiu adotar uma resolução apresentada por Malta, apelando a "pausas e corredores humanitários" na Faixa de Gaza (mas não um "cessar-fogo", nem mesmo a uma "trégua"). Israel, por sua vez, fez duras críticas ao texto aprovado, chamando-o de "desconectado da realidade".

No final do mês de outubro, uma proposta de resolução pedindo uma trégua humanitária em Gaza foi aprovada com 120 votos na Assembleia Geral, cujas decisões não têm poder vinculante. O texto foi rejeitado por 14 países, enquanto 45 se abstiveram. (Com AFP.)

*Em atualização.

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