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Por O Globo

Israel informou aos Estados Unidos que começou a colocar em prática seu plano para inundar os túneis do Hamas, na Faixa de Gaza, segundo um funcionário dos EUA à CNN, na terça-feira. O plano, que tem como objetivo destruir a infraestrutura inimiga e forçar células ocultas de combatentes a se revelarem no campo de batalha, tem levantado preocupações não apenas com a integridade física dos reféns, que estariam sendo escondidos nesses corredores subterrâneos, mas também com possíveis impactos ambientes causados ao enclave palestino.

Especialistas citados pelo Wall Street Journal alertaram que as principais possíveis danos ao aquífero, ou lençóis freáticos, e ao solo de Gaza estão entre as principais preocupações. Em circunstâncias normais, a água da chuva tende a infiltrar-se naturalmente no solo e chegar a esses aquíferos. Essa água é então bombeada e usada como água potável. Em Gaza, região com mais de 2 milhões de habitantes, o único suprimento de água doce corre paralelamente à costa do Mar Mediterrâneo — e já está debilitado.

Após ser sucessivamente bombeado, os níveis do aquífero caíram e a água salgada contaminou parte do que restava. A qualidade piorou devido ao esgoto e o escoamento de produtos químicos usados em culturas agrícolas. Segundo o jornal Times of Israel, cerca de 97% da água doce do enclave não atende mais aos padrões da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo antes da guerra, a reportagem pontuou, os palestinos já dependiam de caminhões-pipa para abastecer a região, embora a situação tenha piorado à medida que o conflito se estendia.

As três usinas de dessalinização de Gaza, que produziam 21 milhões de litros de água potável por dia, paralisaram por um período devido à falta de combustível — consequência do "cerco total" imposto pelas autoridades israelenses à região — e o Estado judeu chegou a cortar o suprimento de água potável. Dois canais que transportavam o suprimento pela fronteira já foram restabelecidos, de acordo com o jornal.

As forças israelenses teriam começado a "testar cuidadosamente" a inundação desses corredores subterrâneos, segundo a fonte. Pelo menos cinco grandes bombas de extração de água do mar foram instaladas a cerca de um quilômetro e meio ao norte do campo de refugiados de al-Shati. Mais duas teriam sido acrescentadas simultaneamente ao início da operação, informou a agência turca Anadolu nesta quarta-feira. A estrutura teria capacidade de movimentar milhares de metros cúbicos de água por hora para os túneis, inundando-os dentro de semanas.

Não há garantias de que o plano funcionará, a fonte observou. Já em relação aos reféns, o funcionário garantiu que as forças israelenses têm tomado cuidado para evitar túneis em que reféns estejam sendo escondidos. Cerca de 240 foram levados durante o ataque terrorista para o enclave. Ao menos 110 foram libertados durante o acordo entre Israel e Hamas, mas, segundo Eylon Levy, porta-voz do governo, 136 pessoas ainda estão sendo mantidas em cativeiro pelo Hamas e outros grupos armados.

'Várias gerações'

Segundo Elio Adar, pesquisador do Instituto Zuckerberg para Pesquisa sobre Água da Universidade de Negev, em entrevista ao Times of Israel no início de dezembro, os impactos ambientais dependeriam da quantidade de água e do seu alcance. Ele afirmou que, se uma quantidade relativamente pequena de água do mar bombeada afetasse a área onde água doce e água salgada se misturam, o impacto seria mínimo.

Por outro lado, se milhões de metros cúbicos fossem bombeados — o que está previsto nas operações de Israel — as consequências seriam sentidas por um longo tempo.

— O impacto negativo sobre a qualidade da água subterrânea duraria várias gerações, dependendo da quantidade que se infiltra na subsuperfície. — observou ao jornal israelenses, acrescentando que o Estado judeu pouco sentiria os impactos, já que a água do lençol freático flui sentido de Gaza.

Apesar do fluxo ser contrário, um outro pesquisador, que preferiu não ser identificado, observou ao jornal que os túneis foram construídos com materiais porosos e que, por isso, teriam que ser inundados várias vezes. Além disso, alguns foram desenvolvidos para levar os terroristas para dentro de Israel, salientou, o que poderia salinizar poços israelenses localizados próximos à fronteira com Gaza.

A professora Hadas Mamane, do Programa de Engenharia Ambiental da Universidade de Tel Aviv, afirmou que inundar os túneis poderia representar uma ameaça ao ambiente da região caso materiais tóxicos e metais pesados se infiltrassem no lençol freático.

— Não se analisa o que é melhor, mas qual é a solução menos pior — informou a pesquisadora ao Times of Israel.

O plano

O plano foi inicialmente divulgado por fontes americanas ao jornal The Wall Street Journal no início deste mês. A estrutura próxima a al-Shanti bombearia água do Mar Mediterrâneo e teria sido montada no mês passado, quando Israel apresentou o plano aos EUA. Não se sabe se os militares israelenses tomaram uma decisão final sobre o tema, sobretudo pela preocupação com uma possível contaminação das reservas de água de Gaza.

O desafio dos túneis do Hamas, em Gaza, para as forças israelenses — Foto: Arte O GLOBO
O desafio dos túneis do Hamas, em Gaza, para as forças israelenses — Foto: Arte O GLOBO
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