Após a aprovação das negociações formais de adesão da Ucrânia na União Europeia (UE) nesta quinta-feira, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, bloqueou o pacote de ajuda de 50 bilhões de euros (R$ 269 bilhões, na cotação atual) do bloco para Kiev. Ante a incapacidade de romper o bloqueio húngaro, os líderes do bloco decidiram voltar a se reunir para discutir essa questão "no início do próximo ano", embora essa cúpula ainda não tenha uma data definida.
O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse estar “confiante e otimista” de que o bloco estará “em condições de cumprir a promessa de ajudar a Ucrânia com recursos financeiros”. Já a presidente da Comissão Europeia (o braço executivo da UE), Ursula von der Leyen, disse que a instituição usará o tempo restante até a reunião de 2024 “para garantir, de qualquer maneira, que tenhamos uma solução operacional”.
O chanceler ministro da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou sentir-se “razoavelmente otimista” de que é possível encontrar um acordo até janeiro. Já o premier irlandês, Leo Varadkar, comentou que será preciso realizar uma nova reunião para “encontrar um acordo ou definir um caminho alternativo” para a questão.
'Impacto devastador'
Pouco depois de se abster da votação que permitiu a abertura de negociações formais para a adesão da Ucrânia ao bloco, Orbán escreveu no X (antigo Twitter): “Resumo do turno da noite: veto para o dinheiro extra para a Ucrânia”.
Na cúpula, o húngaro argumentou que a Ucrânia não deveria receber uma quantia tão grande de dinheiro do orçamento da UE pelo fato de que o país não faz parte do bloco.
Na madrugada desta sexta, porém, Orbán disse a uma rádio de seu país que seu veto será levantado somente em caso de desbloqueio de todos os fundos da UE para seu país — os recursos foram congelados devido a dúvidas sobre a validade do Estado de direito húngaro. Na quarta-feira, véspera da reunião, a UE anunciou o desbloqueio parcial, de até 10,2 bilhões de euros (US$ 11 bilhões, R$ 54 bilhões).
— Sempre disse que se alguém quiser apresentar uma emenda ao orçamento da UE (...) a Hungria aproveitaria a ocasião para reivindicar claramente o que merece — declarou o chefe de governo nacionalista em uma entrevista à rádio estatal. — Não a metade, não um quarto, e sim a totalidade.
Com a abstenção da Hungria na decisão sobre as negociações de adesão com a Ucrânia, a expectativa era que Orbán acabaria por somar seu apoio ao pacote, o que não aconteceu.
Ao jornal britânico The Guardian, uma fonte disse que Orbán “foi informado de que seria um bom momento para tomar um café, e saiu da sala” no momento da decisão sobre a adesão da Ucrânia. A manobra, porém, não se repetiu sobre a ajuda financeira. E, nesta sexta-feira, Orbán alertou que poderia bloquear a entrada da Ucrânia na UE em algum estágio futuro.
— Se não quisermos que a Ucrânia seja membro da União Europeia, o Parlamento húngaro votará contra — disse ele.
Alguns líderes asseguraram a Kiev que poderiam canalizar ajuda para o país mesmo fora do orçamento da UE, caso a Hungria mantenha o bloqueio. O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia instou a UE a desbloquear os 50 bilhões de euros de ajuda em janeiro.
“Esperamos que todos os procedimentos legais necessários sejam concluídos até janeiro de 2024, o que nos permitirá receber o financiamento correspondente o mais rapidamente possível”, expressou o ministério em um comunicado.
A disputa sobre ajuda financeira surge em um momento difícil para o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, após a contraofensiva contra as forças russas não ter alcançado grandes avanços. Além disso, o governo de Joe Biden, dos EUA, até agora se mostrou incapaz em obter aprovação no Congresso americano a um pacote de US$ 60 bilhões para Kiev.
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY