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Por , Em The New York Times — Riad

A milícia houthi do Iêmen vem ganhando popularidade em todo o Oriente Médio desde que começou a disparar mísseis em direção a Israel e a atacar navios no Mar Mediterrâneo. Para analistas consultados pelo New York Times, o aumento da influência regional do grupo armado iemenita também pode ajudar a expandir seu poder no país, que há quase uma década trava uma violenta e inconclusiva guerra civil.

Os Estados Unidos anunciaram na segunda-feira a criação de uma força naval composta por 10 países para evitar novos ataques da milícia apoiada pelo Irã, horas depois que a gigante do setor de energia BP suspendeu a circulação de seus navios-tanque pelo Mar Vermelho, uma rota marítima vital que se tornou cada vez mais perigosa devido aos ataques de drones e mísseis dos houthis.

Em todo o Oriente Médio, onde a guerra em Gaza deixou os cidadãos fervendo de raiva contra Israel e os Estados Unidos — e, em alguns casos, contra seus próprios governos apoiados pelos americanos — as pessoas saudaram os houthis como uma das poucas forças regionais dispostas a desafiar Israel com mais do que palavras duras.

— O que eles fizeram nos deu dignidade, porque fizeram isso em uma época em que todos estavam assistindo sem fazer nada — disse Khalid Nujaim, que trabalha em uma empresa de suprimentos médicos em Sana, a capital do Iêmen, controlada pelos houthis.

Mapa da região do Mar Vermelho — Foto: Editoria de Arte
Mapa da região do Mar Vermelho — Foto: Editoria de Arte

Quem são os Houthis?

O movimento Houthi, também conhecido como Ansarallah (Apoiadores de Deus), é uma das partes envolvidas na guerra civil do Iêmen que já dura quase uma década. Ele surgiu na década de 1990, quando seu líder, Hussein al-Houthi, lançou o "Believing Youth" (Juventude Crente), um movimento de reavivamento religioso de uma subseção secular do Islã xiita chamada Zaidismo.

Os Zaidis governaram o Iêmen durante séculos, mas foram marginalizados pelo regime sunita que chegou ao poder após a guerra civil de 1962. O movimento de al-Houthi foi fundado para representar os zaidis e resistir ao sunismo radical, principalmente às ideias wahabitas da Arábia Saudita. Seus seguidores mais próximos ficaram conhecidos como houthis.

Como os houthis ganharam poder?

Ali Abdullah Saleh, o primeiro presidente do Iêmen após a unificação do Iêmen do Norte e do Iêmen do Sul em 1990, inicialmente apoiou a Juventude Crente. Mas, à medida que a popularidade do movimento crescia e a retórica antigovernamental se intensificava, ele se tornou uma ameaça para Saleh. A questão atingiu seu ápice em 2003, quando Saleh apoiou a invasão do Iraque pelos EUA, à qual muitos iemenitas se opuseram.

Para al-Houthi, a ruptura foi uma oportunidade. Aproveitando a indignação pública, ele organizou manifestações em massa. Após meses de desordem, Saleh emitiu um mandado de prisão contra ele.

Al-Houthi foi morto em setembro de 2004 pelas forças iemenitas, mas seu movimento continuou vivo. O braço militar houthi cresceu à medida que mais combatentes se juntaram à causa. Encorajados pelos primeiros protestos da Primavera Árabe em 2011, eles assumiram o controle da província de Saada, no norte do país, e pediram o fim do regime de Saleh.

Os houthis controlam o Iêmen?

Os houthis, um grupo tribal que já foi uma espécie de escória, assumiram o controle de grande parte do norte do Iêmen desde que invadiram Sana em 2014, aumentando gradualmente suas capacidades militares e vencendo efetivamente uma guerra contra uma coalizão liderada pela Arábia Saudita que passou anos tentando derrotá-los.

Agora que os combates mais intensos na guerra civil do Iêmen diminuíram em grande parte, o grupo armado tem funcionado cada vez mais como um governo de fato.

Eles descreveram seus recentes ataques como uma campanha de solidariedade aos 2,2 milhões de palestinos que vivem sob o cerco de Israel e bombardeios de Gaza, que foram lançados massivamente em resposta aos ataques do Hamas em 7 de outubro.

Essa campanha transformou os houthis de uma força local e regional em uma força com impacto global, disse Yoel Guzansky, pesquisador sênior do Instituto de Estudos de Segurança Nacional da Universidade de Tel Aviv.

— No fim das contas, o que eles realmente querem é uma participação maior no Iêmen, e talvez queiram fazer isso tornando-se um problema global — disse Guzansky, ex-funcionário israelense.

Com os houthis à beira de um acordo de paz com a Arábia Saudita, que potencialmente reconheceria seu controle sobre o norte do Iêmen, a guerra em Gaza é "uma grande oportunidade para eles obterem legitimidade na região", disse Farea al-Muslimi, pesquisador iemenita do programa do Oriente Médio e Norte da África na Chatham House, grupo de pesquisa com sede em Londres.

— No momento, todos que estão na região estão confundindo os iemenitas com os houthis e, para os houthis, isso é a melhor coisa que pode acontecer — afirmou al-Muslimi.

Os houthis têm apoio regional?

O Irã vem apoiando os houthis há anos, espelhando seus esforços nas últimas três décadas para construir outras milícias, incluindo o Hamas em Gaza e o Hezbollah no Líbano, e estender seu alcance pelo Oriente Médio.

Buscando novas formas de ameaçar a Arábia Saudita, sua rival de longa data, o Irã integrou os houthis à sua rede de milícias, fornecendo ajuda militar que ajudou a transformar o grupo durante a guerra civil do Iêmen, de acordo com autoridades e analistas americanos e do Oriente Médio. O arsenal dos houthis agora inclui drones de longo alcance, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos.

Nas declarações que anunciam seus ataques, os houthis se autodenominam "forças armadas do Iêmen", ignorando a presença de um governo reconhecido internacionalmente e de outros grupos armados baseados no sul do país. Na semana passada, Mohammed Ali al-Houthi, membro sênior do movimento Houthi, publicou um aviso nas mídias sociais descrevendo os riscos de viajar no Mar Vermelho, dizendo aos navios que não viajassem para "portos ocupados na Palestina" e que estivessem preparados para responder às ordens da "Marinha iemenita".

Atualmente, onde quer que vá na região, Ahmed Nagi, analista sênior no International Crisis Group, descobre que as pessoas ficam entusiasmadas ao saber que ele é do Iêmen e rapidamente começam a "falar sobre os houthis e como eles são corajosos", disse ele.

— Esse é um reflexo muito profundo das opiniões públicas em todos os países árabes neste momento — disse Nagi, expressando preocupação com o fato de as pessoas acreditarem cada vez mais que não podem confiar em seus agentes estatais e que os agentes não estatais, como os houthis, são sua única esperança de desafiar o que consideram ser a hegemonia ocidental.

Como os houthis se relacionam com os palestinos?

O apoio à causa palestina e a hostilidade em relação a Israel há muito tempo são os pilares da narrativa houthi; "Morte aos Estados Unidos, morte a Israel" é o slogan do grupo. Parte da forma como eles se posicionam é em oposição aos líderes árabes apoiados pelos americanos, que eles consideram "apenas mercenários do Ocidente", explicou Nagi.

Os governos árabes, que já entraram em guerra com Israel e lideraram um embargo de petróleo para punir seus apoiadores ocidentais, reagiram à guerra em Gaza principalmente com condenações públicas, campanhas de ajuda e esforços diplomáticos para pressionar por um cessar-fogo, reforçando um sentimento de impotência entre alguns de seus cidadãos, que prefeririam vê-los cortar os laços com Israel ou tomar outras medidas mais enérgicas.

Em uma coletiva de imprensa na semana passada, Eylon Levy, porta-voz do governo israelense, descreveu os houthis como representantes iranianos "com a autoconsciência de vilões de desenhos animados", chamando seus ataques de "uma clara ameaça não apenas a Israel, mas também à paz e à segurança internacionais".

O uso de força militar contra Israel também ajuda os houthis a evitar desafios na frente interna, disse Nagi. À medida que a guerra civil do Iêmen avança para uma nova fase, eles enfrentam a pressão das pessoas que pedem serviços públicos básicos ou o pagamento de seus salários atrasados há muito tempo como funcionários públicos, afirmou.

Segundo Nagi, embora esse não seja o único motivo por trás dos ataques houthis, "essa é uma saída para esse dilema". Agora a mensagem é essencialmente: "Não fale sobre nada, porque estamos em uma guerra", concluiu. (Com agências internacionais)

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