O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, apresentou nesta quinta-feira propostas para o pós-guerra em Gaza, segundo o qual não haverá “nem Hamas” e nem “administração civil israelense” no enclave. O plano de Gallant foi exibido em linhas gerais à imprensa antes de ser submetido ao gabinete de guerra do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Segundo a proposta, as operações no território “continuarão” até o “retorno dos reféns”, o “desmantelamento das capacidades militares e de governação do Hamas” e “a eliminação das ameaças militares na Faixa de Gaza”. Apenas depois é que ocorrerá o “dia seguinte” da guerra, em que “o Hamas não controlará Gaza”. O plano, porém, ainda não foi oficialmente adotado pelo governo.
Suas linhas gerais foram divulgadas na véspera da quarta viagem do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, à região desde o ataque do grupo terrorista contra Israel, em 7 de outubro, que deixou 1.140 mortos e desencadeou a guerra. Agora, o futuro do território palestino está no centro das preocupações da comunidade internacional, que tem feito apelos crescentes por um cessar-fogo.
Segundo o Hamas, que governa Gaza desde 2007, as operações militares israelenses deixaram 22.600 mortos em quase três meses, muitos deles mulheres e crianças. Além disso, grande parte do território foi reduzido a escombros, e a ONU teme uma crise humanitária com centenas de milhares de pessoas deslocadas, enfrentando a fome e doenças.
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No mesmo dia do anúncio, os bombardeios israelenses continuaram nas regiões de Khan Yunis e Rafah, no sul da Faixa, assim como em partes do centro de Gaza, conforme correspondentes da AFP. Segundo o Exército de Israel, suas tropas “atingiram mais de 100 alvos” no enclave nas últimas 24 horas, incluindo posições militares, locais de lançamento de foguetes e depósitos de armas. No mesmo período, o Ministério da Saúde de Gaza relatou 162 mortes.
Nem Hamas, nem Israel
De acordo com o plano de Gallant, a guerra continuará até que Israel desmantele as “capacidades militares e de governo” do Hamas, o qual prometeu “aniquilar”, e liberte os 132 reféns ainda detidos pelo grupo terrorista. Estima-se que ao menos 24 dos 250 prisioneiros feitos pelo Hamas morreram. Assim que Israel atingir seus objetivos — algo que ainda não possui previsão —, os “comitês civis” palestinos assumirão o controle do território.
— O Hamas não governará Gaza, e Israel não governará os civis de Gaza — assegurou Gallant ao apresentar seu plano à imprensa. — Os habitantes de Gaza são palestinos. Consequentemente, as entidades palestinas estarão encarregadas [da gestão], na condição de que não haja nenhuma ação hostil ou ameaça contra o Estado de Israel — acrescentou.
Apesar disso, ele esclareceu que o Exército manterá a “liberdade de ação no território para enfrentar qualquer ameaça”. Ele também não especificou quais palestinos irão governar o território.
Rafah lotada
As condições de vida dos 2,4 milhões de habitantes de Gaza são mais do que precárias, e as Nações Unidas estimam que haja pelo menos 1,9 milhão de deslocados. Imagens da AFPTV mostram famílias inteiras, em busca de segurança dos combates, chegando à cidade fronteiriça de Rafah em carros lotados e a pé.
— Fugimos do campo de Jabalia para Maan (em Khan Yunis) e agora estamos fugindo de Maan para Rafah — disse uma mulher que não quis revelar seu nome. — [Não temos] água, eletricidade ou comida.
Um porta-voz da agência da ONU para os refugiados palestinos disse à AFP que Rafah está lotada. Segundo Adnan Abu Hasna, normalmente vivem lá 250 mil pessoas, e agora são mais de 1,3 milhão. A condição provocou o que ele definiu como “um colapso das condições sanitárias” e uma “propagação significativa” de doenças.
O chefe do comitê de emergência de Rafah, Ahmad al Sufi, disse que 50 mil barracas são necessárias com urgência para abrigar os refugiados. Já no hospital al-Amal em Khan Yunis, um dos poucos centros médicos em Gaza ainda em funcionamento, o Crescente Vermelho palestino disse que sete pessoas deslocadas, incluindo um bebê de cinco dias, que procuravam abrigo no local, morreram.
Medidas imediatas de ajuda
Durante sua visita, Blinken planeja discutir com os líderes israelenses “medidas imediatas para aumentar substancialmente a ajuda humanitária a Gaza”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller. A chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, também viajará para a região. No domingo, ela estará em Israel e também se reunirá com líderes palestinos.
Além de abordar “a dramática situação humanitária em Gaza”, ela planeja falar sobre as tensões entre Israel e o Líbano, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Sebastian Fischer. Os receios de uma conflagração regional aumentaram esta semana após a morte do número dois do Hamas, Saleh al-Arouri, em um ataque com mísseis em Beirute.
O líder morreu no sul da capital, reduto do partido Hezbollah, movimento apoiado pelo Irã que, desde o início do conflito, está envolvido em confrontos com tropas israelenses na fronteira sul do Líbano. Nesta sexta-feira, o Exército israelense declarou que seus caças realizaram novos ataques contra alvos do Hezbollah no país.
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