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Por e — Taipei

A poucos dias da eleição presidencial em Taiwan, marcada para o próximo sábado (13), o aumento no número de balões chineses sobrevoando a região chamou a atenção do Ministério da Defesa da ilha, que Pequim reivindica como parte do seu território. Se antes relatos como este eram esporádicos, desde o mês passado a contagem não para de crescer. Para alguns especialistas, os objetos voadores seriam um aviso propositalmente ambíguo do governo chinês.

No domingo, o Ministério da Defesa contabilizou três balões chineses sobrevoando o Estreito de Taiwan, que faz divisa com a China no Oceano Pacífico, e um deles chegou a cruzar toda a extensão da ilha. Na segunda-feira passada, outro balão já havia sobrevoado o território taiwanês, seguidos por quatro no dia seguinte e mais um na quarta.

Os relatórios de Taiwan também registraram alguns balões próximos às bases militares da ilha. Dos quatro relatados na terça-feira, três foram detectados pela primeira vez perto da Base Aérea de Ching Chuan Kang, na cidade de Taichung. O Ministério da Defesa de Taiwan não quis especificar a que distância da base eles podem ter voado.

À primeira vista, os balões não parecem representar uma ameaça militar imediata para Taiwan, uma democracia autônoma da China de 23 milhões de habitantes. Em dezembro, o Ministério da Defesa de Taiwan indicou que os balões pareciam ser para coletar dados sobre a atmosfera, mas se recusou a dar detalhes sobre os que foram detectados esta semana.

— O Ministério da Defesa Nacional está monitorando e acompanhando de perto esses balões, respondendo adequadamente, e também está avaliando e analisando seus padrões de deriva — disse o major-general Sun Li-fang, porta-voz do Ministério, em resposta a perguntas sobre os balões na quinta-feira.

Pelo menos até o momento, Taiwan não passou pelo alarme que tomou conta de muitos americanos no ano passado, quando um enorme balão chinês de vigilância de alta altitude flutuou pelos Estados Unidos. A China negou que o balão fosse para espionagem, mas Washington não acreditou nessa versão, e a disputa azedou as relações entre os países por muitos meses.

Os taiwaneses estão acostumados com os voos militares chineses perto da ilha, e as notícias sobre os balões geralmente são recebidas com calma, se não com indiferença. No entanto, os voos podem fazer parte das táticas de "zona cinzenta" que a China usa para alertar Taiwan sobre sua força militar, sem entrar em um confronto aberto.

O momento dos voos dos balões, próximo às eleições de Taiwan, foi revelador, disse Ko Yong-Sen, pesquisador do Institute for National Defense and Security Research, um think tank em Taipei financiado pelo Ministério da Defesa de Taiwan. Ko analisou o padrão de avistamentos recentes:

— É mais um efeito intimidador em um momento bastante delicado, com a realização da eleição em Taiwan no dia 13 de janeiro — disse Ko em entrevista. — [A China] pode querer diminuir o tom. As pessoas dizem que ela tem usado de forma imprudente armas importantes, como aviões e navios, para assédio, por isso está mudando para balões que podem ser usados para um certo tipo de intimidação e assédio de menor intensidade.

Na eleição, os eleitores taiwaneses escolherão seu novo presidente e uma nova legislatura para o Parlamento. Pequim não esconde seu desejo pela derrota do Partido Democrático Progressista, que está no poder. A legenda se opõe às reivindicações de Pequim em relação ao território e tem afirmado a identidade distinta de Taiwan e suas reivindicações de nacionalidade. Décadas atrás, o partido endossou a independência de Taiwan, mas agora diz que aceita o status quo ambíguo da autodeterminação democrática.

Lai Ching-te, candidato presidencial do Partido Democrático Progressista, tem liderado a maioria das pesquisas. Mas Hou Yu-ih, o candidato do Partido Nacionalista, que prefere manter laços mais estreitos com a China, aparece atrás do Lai por apenas alguns pontos percentuais em alguns levantamentos recentes. Há chances de os nacionalistas emergirem como o maior partido na legislatura, acabando com a maioria do Partido Democrático Progressista no Parlamento.

Quando perguntado no final do mês passado sobre os relatos iniciais de balões perto de Taiwan, o porta-voz do Ministério da Defesa da China, Wu Qian, não confirmou nem negou nenhum voo, mas sugeriu que, como Taiwan fazia parte da China, qualquer disputa sobre balões cruzando a linha mediana entre os dois lados era discutível. Ele também acusou o Partido Democrático Progressista de estar levantando a questão "para roubar votos".

Em 1996, a tentativa da China de usar testes de mísseis e exercícios militares ameaçadores para moldar a eleição presidencial de Taiwan fracassou. Desta vez, Pequim não realizou nenhum exercício militar importante nas semanas anteriores à votação. Os balões podem ser um presságio de uma resposta mais inflamada dos líderes chineses se eles não gostarem do resultado da eleição, disse Ben Lewis, analista militar baseado em Washington que mantém um site de informações sobre o assunto.

"Acho que o número de sobrevoos e, mais ainda, o momento em que foram realizados, ainda representam uma escalada nas atividades da República Popular da China", disse Lewis por e-mail. "Se nada mais acontecer, estou considerando isso como um aviso de que a resposta da RPC à eleição provavelmente será impossível de prever."

Os últimos avistamentos quase certamente não foram a primeira vez que balões da China sobrevoaram Taiwan, disse Lewis. O Ministério da Defesa de Taiwan começou a relatar regularmente voos militares chineses perto da ilha em 2020, e seus números aumentaram ano a ano, agora incluindo drones.

Ko, o especialista em defesa de Taiwan, disse que se preocupava mais com o que os militares chineses poderiam fazer com o uso mais conjunto de balões de alta altitude sobre a ilha — como o que foi visto sobre os Estados Unidos no ano passado, o que poderia aumentar a coleta de dados usando satélites e radares.

— A coleta de informações de Taiwan seria ainda mais séria — disse ele. — Isso é algo que nos preocupa e seria ainda mais problemático.

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