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Por O Globo e Agências internacionais — Sanaa

Há quase uma década, a guerra entre os rebeldes houthis — alvo de um ataque dos Estados Unidos e do Reino Unido nesta sexta-feira — e o governo do Iêmen têm mergulhado o país em uma violenta e inconclusiva guerra civil, culminando em uma das piores crises humanitárias do mundo. Na época, com o apoio do Irã, a milícia xiita invadiu, no fim de 2014, a capital Sanaa e derrubou o governo internacionalmente reconhecido e apoiado pela Arábia Saudita. Desde então, os rebeldes controlam não apenas a capital, como também boa parte do norte do país. A guerra, direta ou indiretamente, já vitimou milhares de pessoas e pôs milhões sob insegurança alimentar.

O movimento Houthi também é conhecido como Ansarallah (Apoiadores de Deus) e surgiu na década de 1990, quando seu líder, Hussein al-Houthi, lançou o "Believing Youth" (Juventude Crente), um movimento de reavivamento religioso de uma subseção secular do Islã xiita chamada Zaidismo. O movimento foi apoiado pelo primeiro presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, após a unificação do Iêmen do Norte e do Iêmen do Sul em 1990.

Mas, à medida que a popularidade do movimento crescia e a retórica antigovernamental se intensificava, ele se tornou uma ameaça ao governante. A ruptura ocorreu em 2003, quando Saleh apoiou a invasão do Iraque pelos EUA, à qual muitos iemenitas se opuseram. Para al-Houthi, foi uma oportunidade. Aproveitando a indignação pública, ele organizou manifestações em massa.

Após meses de desordem, Saleh emitiu um mandado de prisão contra o líder do grupo. Al-Houthi foi morto em setembro de 2004 pelas forças iemenitas, mas seu movimento continuou vivo. O braço militar houthi cresceu à medida que mais combatentes se juntaram à causa.

Veja as áreas no Iêmen controladas pelos houthis — Foto: Arte O Globo
Veja as áreas no Iêmen controladas pelos houthis — Foto: Arte O Globo

As capacidades militares dos rebeldes foram aumentando gradualmente após a invasão da capital, em setembro de 2014. Analistas atribuem essa expansão ao apoio iraniano que, buscando novas formas de ameaçar a Arábia Saudita, integrou o grupo à sua rede de milícias e forneceu ajuda militar durante o conflito. Em 2015, o grupo chegou a vencer efetivamente uma guerra contra uma coalizão militar liderada por Riade, após derrubar o presidente interino Abd-Rabbu Mansour Hadi. O governo saudita passou então anos tentando derrotar os rebeldes.

Rastros da guerra

O conflito foi arrefecendo desde que a Organização das Nações Unidas (ONU) negociou uma trégua, em 2022. Apesar do cessar-fogo temporário ter expirado em outubro daquele ano, a violência diminuiu consideravelmente. A Arábia Saudita e o Irã também chegaram a um acordo, mediado pela China, que abre caminho para o reestabelecimento de laços diplomáticos. Agora, os Houthis e a Arábia Saudita estão à beira de um acordo de paz, que potencialmente reconheceria o direito do grupo xiita de governar o norte do Iêmen.

— A paz é e continua sendo nossa primeira opção, e todos devem trabalhar para alcançá-la — afirmou Mahdi al-Mashat, presidente do Conselho Político dos houthis, em setembro do ano passado.

Atualmente, o presidente do Iêmen é Rashad al-Alimi, que chegou ao poder após Hadi transferir seu poder ao Conselho de Liderança Presidencial, em abril de 2022.

A possibilidade de uma resolução total do conflito, contudo, não muda o cenário do dia para a noite. O Iêmen, país mais pobre da península arábica, sofreu estragos em sua infraestrutura, viu sua economia colapsar e provocou o aumento do número de deslocamentos — até 2022, a ONU contabilizava mais de 4,3 milhões de pessoas forçadas a deixarem suas casas. Cerca de 377 mil pessoas morreram, de acordo com um balanço da ONU.

EUA e Reino Unido bombardeiam o Iêmen após semanas de ataques no Mar Vermelho

EUA e Reino Unido bombardeiam o Iêmen após semanas de ataques no Mar Vermelho

Quem ficou, experimentou na pele o agravamento da crise humanitária. Segundo a ONU, pelo menos 23,4 milhões de pessoas precisam de assistência no país (três em cada quatro pessoas), ao passo que 17 milhões estão em situação de insegurança alimentar no país. Milhares perderam o emprego e mais da metade da população vive abaixo da linha da pobreza.

Ainda assim, o financiamento destinado para aplacar o sofrimento da população satisfaz apenas 38,9% das necessidades, com o déficit de financiamento beirando U$ 2,7 milhões, informou o O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

'Não ficará sem resposta'

Este é o primeiro ataque direto dos EUA contra os rebeldes houthis dentro do território iemenita desde o início do conflito entre Israel e Hamas, em 7 de outubro.

Desde o início da guerra em Gaza, os houthis já lançaram diversos ataques contra embarcações no Mar Vermelho e contra alvos israelenses em apoio ao Hamas. Com isso, diversas empresas de navegação passaram a evitar a rota e dar a volta pelo continente africano, aumentando os custos de frete e seguro marítimo.

A ofensiva desta quinta-feira promovida pela coalizão Ocidental, formada nas últimas semanas para garantir a livre circulação de navios comerciais no Mar Vermelho, ocorre num momento de forte tensão no Oriente Médio.

Autoridades do grupo iemenita falam em 73 bombardeios, que mataram cinco pessoas e feriram outras seis, a quem eles se referiram como "mártires" em um comunicado. Caças e mísseis Tomahawk foram usados na ofensiva, segundo a imprensa americana.

Desde 2002, os EUA já lançaram cerca de 400 ataques aéreos no Iêmen, segundo o Conselho de Relações Exteriores do país. No entanto, o governo americano tem buscado evitar um conflito direto desde a crise em Gaza, temendo uma escalada regional.

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