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Por O Globo — Johanesburgo

“Palestina livre! Livre!”, entoaram membros do partido governista da África do Sul, o Congresso Nacional Africano (CNA) nesta sexta-feira após a Corte Internacional de Justiça (CIJ) determinar que Israel tome todas as medidas em seu poder para evitar violações da Convenção das Nações Unidas sobre Genocídio, de 1948, na Faixa de Gaza. A decisão não configura um reconhecimento de que o Estado judeu cometeu crime de genocídio, mas diz respeito à admissibilidade do processo e às medidas cautelares solicitadas por Pretória, que foram elogiadas por ativistas pró-palestinos em todo o mundo.

“O dia de hoje marca uma vitória decisiva para o Estado de direito internacional e um marco significativo na busca por justiça para o povo palestino”, afirmou Pretória em nota nesta sexta-feira. “Em uma decisão histórica, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) determinou que as ações de Israel em Gaza são plausivelmente genocidas e indicou medidas provisórias com base nisso. Para a implementação do Estado de direito internacional, a decisão é importante. A África do Sul agradece ao Tribunal por sua rápida decisão.”

Para David Monyae, diretor do Centro de Estudos África-China da Universidade de Johanesburgo, ao apresentar um caso de genocídio contra Israel, a África do Sul não coloca apenas o governo israelense em julgamento, mas também desafia a ordem global pós-Segunda Guerra Mundial liderada pelo principal aliado do Estado judeu, os EUA. O caso mostrou que uma nação africana, menor do que as superpotências mundiais, poderia se mobilizar para expor o que alguns consideram ser o padrão duplo dos países ocidentais quando se trata de direitos humanos, disse em entrevista ao New York Times.

— Apenas uma voz com moral para dizer ao mundo: “Eis o que deveríamos fazer” — avaliou Monyae. — Daqui para frente, isso enfraquecerá a mão do mundo ocidental para promover os direitos humanos.

Mesmo em casa, onde a satisfação com o governo é baixa, muitos sul-africanos aplaudiram seus líderes por se posicionarem. Foram organizadas reuniões para assistir à audiência de apresentação do caso no tribunal e manifestantes agitaram bandeiras palestinas nas ruas.

Os líderes do CNA — que liderou a luta da África do Sul contra o apartheid — compararam a vida sob bloqueio em Gaza ao regime de segregração racial sul-africano e dizem que estão em uma posição única para entender a experiência palestina.

— Devo dizer que nunca me senti tão orgulhoso como me senti hoje, quando nossa equipe jurídica defendeu nosso caso em Haia — disse o presidente Cyril Ramaphosa em um evento político após a audiência há duas semanas.

A acusação de genocídio contra Israel foi apresentada pela África do Sul ao tribunal internacional no dia 11 deste mês. Pretória acusa o Estado judeu de violações à Convenção das Nações Unidas sobre Genocídio durante a operação militar em Gaza, que deixou mais de 26 mil mortos até o momento. Israel já classificou o caso publicamente como difamação, e líderes políticos, como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, puseram em dúvida o cumprimento de uma eventual decisão desfavorável.

A ação da África do Sul recebeu apoio internacional, incluindo do governo brasileiro. Após uma reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, às vésperas do início do processo o Itamaraty divulgou uma nota manifestando apoio, "à luz das flagrantes violações ao direito internacional humanitário" e pedindo um cessar-fogo imediato.

Acusações de hipocrisia

Mas os esforços da África do Sul para se opor ao Ocidente às vezes enfrentam críticas intensas — dentro e fora do país. Alguns sul-africanos viram o caso apresentado contra Israel como um exemplo de hipocrisia do partido governista, que, segundo eles, não havia denunciado as atrocidades cometidas por outras nações — as autoridades nacionais se recusaram a condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia, por exemplo.

Alguns membros da pequena, mas franca, comunidade de judeus sul-africanos, um grupo que desempenhou um papel fundamental na luta contra o apartheid, também criticaram seu governo por causa do caso de genocídio. Dando voz a essas críticas, Zev Krengel, presidente do Conselho de Deputados Judeus da África do Sul, chamou o caso de "uma enorme traição".

Krengel acusou o governo sul-africano de hipocrisia, dizendo que não havia aberto processos contra outros países que haviam cometido atrocidades. Quando o então presidente do Sudão, Omar al-Bashir, foi à África do Sul para uma cúpula em 2015, as autoridades sul-africanas se recusaram a prendê-lo, embora ele fosse procurado por acusações de genocídio e crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional.

— Nunca vimos o governo do CNA tão empolgado a ponto de tentar provar que o Estado judeu está praticando genocídio — disse Krengel.

A acusação contra Israel também pode desatar uma reação negativa em nível mundial, já que as autoridades americanas apoiaram os israelenses, considerando o caso sem mérito.

O Ministro das Relações Exteriores da África do Sul, Naledi Pandor, precisou se explicar depois de conversar por telefone com o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, após o ataque do grupo palestino contra Israel em 7 de outubro, quando 1,2 mil pessoas morreram no sul do território israelense e outras 240 foram sequestradas. Segundo Pandor, as discussões estavam centradas no fornecimento de ajuda humanitária a Gaza.

Para Ronald Lamola, ministro da Justiça da África do Sul, o caso levado à corte internacional não é um ataque aos judeus, mas se trata de salvar vidas palestinas com urgência.

— Não podemos chegar daqui a dois ou três anos, quando toda a população tiver sido aniquilada, e dizer: “Nós nos arrependemos, deveríamos ter impedido isso” — comentou Lamola em uma entrevista. (Com New York Times)

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