Os rebeldes houthis do Iêmen reivindicaram o ataque a um navio petroleiro britânico, atingido por um míssil nesta sexta-feira ao largo da costa do Iêmen. O ataque ao Marlin Luanda provocou um incêndio a bordo, segundo a empresa privada de segurança marítima Ambrey. Trata-se do mais significativo ataque perpetrado pelos rebeldes aliados do Irã a uma embarcação comercial na região, que está sob tensão desde novembro, alegadamente em solidariedade à Gaza.
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Em um vídeo, o porta-voz dos houthis, Yayha Saree, disse que o petroleiro foi atingido pelos mísseis. "O ataque foi direto e resultou [na] queima da embarcação", acrescentando que o fizeram em solidariedade ao povo palestino e "em resposta à agressão britânica e americana contra nosso país".
De acordo com um porta-voz da empresa Trafigura, que opera o navio, "equipamentos de combate a incêndio a bordo estão sendo usados para suprimir e controlar o incêndio". A empresa também afirmou que "navios militares na região estão a caminho para prestar assistência".
Autoridades americanas afirmam que o petroleiro foi atingido por um míssil balístico antinavio e que um navio da Marinha dos EUA já se dirigiu ao local atendendo ao chamado de ajuda.
Mais cedo, a Ambrey havia informado que o ataque teria tido como alvo um navio cargueiro, embora a informação tenha sido corrigida posteriormente. A tripulação da embarcação está em segurança, afirmou a empresa.
O ataque ao petroleiro ocorre no mesmo dia em que o Exército americano afirmou ter abatido um míssil disparado contra um de seus navios de guerra. No incidente envolvendo o navio da Marinha americana, os houthis dispararam um míssil balístico antinavio do Iêmen em direção ao destróier USS Carney no Golfo de Aden, segundo o Comando Central dos EUA (Centcom).
Entenda a crise no Mar Vermelho
Desde os primeiros dias da guerra entre Israel e Hamas em Gaza, os houthis, que controlam parte do Iêmen e são apoiados financeiramente e militarmente pelo Irã, têm realizado ataques contra embarcações comerciais que transitam pelo Mar Vermelho, uma das mais movimentadas rotas marítimas do planeta, por onde passam 12% das exportações globais.
Segundo o grupo, as ações são uma forma de apoiar a "resistência" em Gaza, e têm como alvos navios de bandeira ou propriedade de empresas de Israel, ou que tenham como destino portos israelenses, mesmo que seja uma passagem rápida. Em novembro, um navio cargueiro chegou a ser capturado pela milícia, em uma ação cinematográfica que contou com um helicóptero.
Com tantos riscos, em uma área que era conhecida anteriormente pelos ataques de piratas da Somália, seguradoras elevaram os preços cobrados das embarcações que tinham o Mar Vermelho em suas rotas, elevando com isso o valor do frete. Algumas gigantes do setor de transporte marítimo, como a dinamarquesa Maersk, chegaram a interromper suas operações por alguns dias depois de ataques ou tentativas de ataques, e não foram poucos os que tomaram uma decisão ainda mais drástica: contornar a África para ligar a Europa à Ásia e Oriente Médio.
Segundo a agência Reuters, o tráfego de cargueiros pelo Mar Vermelho foi o mais afetado pelos ataques, enquanto o número de embarcações de transporte de petróleo e gás, oriundas do Golfo Pérsico, praticamente não sofreu alterações. Os houthis afirmam que entram em contato com as tripulações assim que elas cruzam o Estreito de Bab el-Mandeb, que dá acesso ao Mar Vermelho, e concedem ou não autorização, dependendo da bandeira e destino. As principais empresas de navegação negam qualquer tipo de acordo do tipo com os rebeldes.
Interesse estratégico
Mas com tantos interesses estratégicos e econômicos em jogo — estima-se que, por ano, cerca de US$ 1 trilhão em cargas passem pelo Mar Vermelho por ano —, países como os EUA e o Reino Unido, que já realizam patrulhas regulares na área, resolveram elevar o tom. Em dezembro, Washington lançou, com mais 11 nações, uma coalizão naval para tentar proteger os navios comerciais, mas elevou o tom em janeiro, quando, ao lado dos britânicos, passou a lançar ataques aéreos contra posições houthis dentro do próprio Iêmen. O último ataque ocorreu na madrugada desta quarta-feira, atingindo oito posições em áreas sob controle dos houthis.
Os resultados, até agora, não são exatamente claros. Os EUA, apesar de apontarem a destruição de míseis e mecanismos de lançamento nos bombardeios, reconhecem que muitos dos equipamentos usados pelos rebeldes são portáteis e de fácil deslocamento. Ao longo dos últimos anos, o país tampouco esteve entre as prioridades dos serviços de inteligência ocidentais, dificultando o trabalho de determinar alvos importantes. Na semana passada, o presidente Joe Biden, apesar de declarar que os bombardeios continuarão, afirmou que eles não vão parar os houthis. (Com AFP.)
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