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Por O Globo com agências internacionais — Nova York

A Comissão Europeia, o braço Executivo da União Europeia (UE), defendeu nesta segunda-feira a realização de uma auditoria na Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), após as acusações israelenses sobre a suposta participação de alguns funcionários nos ataques terrorista de 7 de outubro — segundo um dossiê revisado pelos jornais americanos New York Times e o Wall Street Journal, os envolvidos teriam sido identificados pelo rastreamento de seus celulares. Desde sábado, pelo menos 12 países seguiram os EUA na decisão de suspender temporariamente o financiamento à agência, que presta ajuda vital a refugiados palestinos.

Em um comunicado, a comissão afirma esperar que a UNRWA aceite que "uma auditoria da agência seja realizada por analistas externos independentes designados pela UE" e que seja conduzida em conjunto com as investigações da ONU sobre as acusações israelenses, citou o jornal Times of Israel. A UE é um dos maiores doadores da agência: segundo um documento de 2022 da UNRWA, o bloco ficou em terceiro lugar entre os principais financiadores, atrás apenas dos EUA e da Alemanha.

No sábado, em meio à onda de suspensões temporárias do financiamento à UNRWA, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou que esperava "transparência total" e uma "ação imediata" antes de tomar uma decisão sobre a retirada de apoio financeiro do bloco europeu à agência.

As acusações

A UNRWA enfrenta uma grande controvérsia desde que Israel denunciou que vários funcionários da agência participaram do ataque terrorista do Hamas há quase quatro meses, que deixou 1,2 mil mortos e 250 pessoas como reféns, segundo as autoridades israelenses. A acusação levou o chefe da agência, Philippe Lazzarini, a anunciar a demissão de "vários" funcionários. Segundo a ONU, nove foram imediatamente identificados e demitidos, um foi confirmado como morto, e outros dois ainda passam pela identificação do nome.

De acordo com os jornais americanos, o dossiê fornecido ao governo americano detalha as alegações de Israel e lista os nomes e cargos dos funcionários da UNRWA, assim como as respectivas acusações. Entre os que foram apontados como envolvidos, sete seriam professores em escolas administradas pela agência, dois seriam funcionários das instituições de ensino, mas em outras funções, e um seria balconista, outro assistente social e o último chefe de almoxarifado.

O documento diz que oficiais da inteligência israelense descobriram os movimentos de seis homens dentro de Israel em 7 de outubro com base em seus celulares; outras pessoas foram monitoradas enquanto faziam chamadas telefônicas dentro de Gaza, durante as quais, dizem os israelenses, discutiram seu envolvimento no ataque do Hamas. Três outras receberam mensagens de texto ordenando que se apresentassem nos pontos de reunião no dia do ataque, e uma pessoa foi instruída a trazer granadas de propulsão armazenadas em sua casa, de acordo com o dossiê.

Dez funcionários foram descritos como membros do Hamas, grupo que controla Gaza desde 2007, enquanto um outro seria filiado à Jihad Islâmica, que atua em Gaza e na Cisjordânia. Segundo o Wall Street Journal, que também teve acesso ao dossiê, cerca de 10% dos funcionários da agência teriam ligações com esses grupos, percentual não citado pelo New York Times. A UNRWA emprega 13 mil pessoas em Gaza, sendo a maioria palestinos.

Segundo o New York Times, um conselheiro escolar de Khan Younis, cidade no sul de Gaza, é acusado de trabalhar com seu filho para sequestrar uma mulher em Israel. Um assistente social de Nuseirat, no centro de Gaza, é acusado de ajudar a trazer o corpo de um soldado israelense morto para Gaza, bem como de distribuir munições e coordenar veículos no dia do ataque. Outro teria sido descrito como um dos participantes no massacre a um kibutz onde 97 pessoas morreram.

Em um comunicado, o chefe da agência local disse que qualquer funcionário envolvido em atos de terrorismo seria “responsabilizado, inclusive através de processo criminal”. Na sexta-feira, António Guterres, secretário-geral da ONU, afirmou estar "horrorizado com a notícia" e disse ter pedido a Lazzarini que investigasse o assunto "rapidamente", segundo a BBC.

Onda de suspensão

No mesmo dia do anúncio da demissão, os Estados Unidos, principal financiador da UNRWA, comunicaram a suspensão do financiamento à agência. O país enviou várias centenas de milhões de dólares no ano passado e US$ 340 milhões em 2022.

Desde então, pelo menos 12 países — Austrália, Reino Unido, Canadá, Itália, Holanda, Alemanha, Finlândia, França, Japão, Romênia, Estônia e Áustria — seguiram a decisão de Washington. O Ministério das Relações Exteriores da Suíça, segundo a imprensa local, disse que o país só realizará as contribuições planejadas para este ano quando tiver mais informações sobre as alegações, mas destacou que não é uma suspensão. A Irlanda e a Noruega, porém, afirmaram não terem planos para suspender o apoio.

O ministro das Relações Exteriores irlandês, Micheal Martin, escreveu nas redes sociais, no sábado, que os funcionários da agência trabalham para “fornecer assistência para salvar vidas”. Já a Noruega, em um comunicado divulgado nesta segunda-feira, afirmou que, "embora partilhe a preocupação sobre as alegações muito graves", apelou aos doadores "para que considerem as consequências em longo prazo dos cortes" à UNRWA.

Lazzarini, em uma publicação no X (antigo Twitter) no domingo, reforçou que a agência está "chocada" com as acusações contra os funcionários e que realiza "reformas estruturais para reforçar a adesão do seu pessoal aos princípios humanitários, incluindo o da neutralidade". Contudo, o chefe da agência local instou os doadores a manter as "operações humanitárias vitais", afirmando que a suspensão "resultará na interrupção de todas as nossas atividades dentro de algumas semanas."

O mesmo foi defendido pelo secretário-geral da ONU:

"Os supostos atos repugnantes desses funcionários devem ter consequências. Mas as dezenas de milhares de homens e mulheres que trabalham para a UNRWA, muitos deles em algumas das posições mais perigosas para os trabalhadores humanitários, não devem ser penalizados”, afirmou Guterres em comunicado, observando que "as terríveis necessidades das populações desesperadas que servem devem ser atendidas".

O Hamas tem denunciado o que descreve como "ameaças" israelenses contra a UNRWA e pediu à ONU e a outras organizações internacionais que não "cedam as ameaças e chantagens". O grupo também ac, altamente dependentes da ajuda humanitária de organizações internacionais como a UNRWA.

Catástrofe humanitária

A suspensão de potencialmente centenas de milhões de dólares em financiamento por parte de vários países ocidentais à UNRWA não poderia ter ocorrido no pior momento para os habitantes de Gaza, altamente dependentes da ajuda humanitária de organizações internacionais como a UNRWA.

Israel mantém um bloqueio aéreo, terrestre e marítimo ao território desde 2007, limitando a entrada de alimentos, combustível, medicamentos e pessoas — uma situação que piorou vertiginosamente desde 7 de outubro, depois que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu declarou um “cerco total” ao enclave em retaliação aos ataques do Hamas contra Israel.

A agência fornece há décadas uma série de serviços sociais à população de Gaza, construindo e operando escolas, abrigos e clínicas médicas. A procura e a dependência dos seus serviços aumentaram acentuadamente desde o início da ofensiva de Israel em Gaza, que deixou mais de 26 mil mortos, segundo o Ministério da Saúde do enclave, deslocou mais de 80% dos civis e interrompeu o fornecimento básico de alimentos, água e serviços médicos.

Relação conturbada

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, saudou no sábado a decisão dos países em suspender o financiamento e apelou à agência humanitária que interrompa seu trabalho em Gaza após o término das ações militares do país no enclave.

Em uma publicação no X nesta segunda-feira, o chanceler pediu a renúncia de Lazzarini. "Apoiadores do terrorismo não são bem-vindos aqui", escreveu ao comunicar o cancelamento de uma reunião entre o chefe da agência local e funcionários da pasta.

Para críticos, incluindo muitos israelenses, a agência é um obstáculo à resolução do conflito. A sua própria existência, dizem eles, impede os refugiados palestinos de se integrar em novas comunidades e alimenta seus sonhos de um dia regressar ao que hoje é Israel – um objetivo que o país diz que nunca permitirá. E em Gaza, argumenta o Estado judeu, a UNRWA ficou sob a influência do Hamas, uma afirmação que a agência rejeita. (Com AFP e NYT)

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