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Por AFP — Nações Unidas, Estados Unidos

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, anunciou nesta segunda-feira a criação de um comitê independente para avaliar a "neutralidade" da sua Agência para Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA, na sigla em inglês), cujos funcionários foram acusados por Israel de estarem envolvidos no ataque do Hamas em 7 de outubro. O Estado judeu afirmou que seu governo planeja levar ao comitê provas que ligam a agência ao "terrorismo". No mesmo dia, a Espanha afirmou que mobilizará uma ajuda emergencial de € 3,5 milhões à agência.

O comitê será liderado pela ex-chanceler francesa Catherine Colonna e trabalhará com o Instituto Raoul Wallenberg na Suécia, o Instituto Chr. Michelsen na Noruega e o Instituto Dinamarquês para os Direitos Humanos. A avaliação terá início no próximo dia 14 e o grupo deve apresentar ao secretário-geral um relatório com as conclusões até o final de abril, que será tornado público, informou a ONU em comunicado.

A avaliação ocorrerá em paralelo à investigação atualmente em curso pelo Gabinete de Serviços de Supervisão Interna da ONU (OIOS, na sigla em inglês). "A cooperação das autoridades israelenses, que fizeram essas alegações, será fundamental para o sucesso da investigação", concluiu o texto.

O ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, disse que seu governo tem provas que ligam a UNRWA ao "terrorismo" e que planeja apresentá-las ao comitê.

"Apresentaremos todas as evidências que destacam os vínculos da UNRWA com o terrorismo e seus efeitos nocivos sobre a estabilidade regional. É imperativo que esse comitê traga a verdade à tona", escreveu Katz no X (antigo Twitter).

Na semana passada, a UNRWA anunciou que pode ser forçada a encerrar suas operações até o fim do mês, após mais de uma dúzia de países — incluindo os Estados Unidos, a Alemanha, o Reino Unido e a Suécia, que estão entre seus principais doadores — terem suspendido o seu financiamento. A agência também está presente na Cisjordânia, no Líbano, na Síria e na Jordânia.

Segundo a ONU, nove funcionários foram imediatamente identificados e demitidos, um foi confirmado como morto, e outros dois ainda passam pela identificação do nome.

A Comissão Europeia, braço Executivo da União Europeia (UE), também pediu uma auditoria na UNRWA na semana passada, a ser "realizada por analistas externos independentes designados" pelo bloco e que seja conduzida em conjunto com as investigações da ONU sobre as acusações israelenses, segundo o jornal Times of Israel.

Na contramão, o ministério das Relações Exteriores da Espanha anunciou nesta segunda-feira uma ajuda emergencial de € 3,5 milhões (US$ 3,76 milhões) para a agência. "A situação da UNRWA é desesperadora e há um sério risco de que suas atividades humanitárias em Gaza sejam paralisadas em poucas semanas", afirmou o chanceler José Luis Albares.

O país tem sido uma das vozes mais críticas no bloco em relação a Israel no conflito com o Hamas, desencadeado pelo ataque contra o Estado judeu, que deixou 1,2 mil pessoas mortas e fez 250 reféns, segundo as autoridades israelenses. Desde o início do conflito, Gaza registra mais de 27,3 mil mortes, sendo a maior parte das vítimas mulheres e menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do enclave palestino, controlado pelo Hamas desde 2007.

No domingo, o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, alertou que o corte da ajuda à agência ameaça a existência de um organismo que fornece "assistência vital a mais de 1,1 milhão de pessoas em Gaza que enfrentam fome e doenças catastróficas", alerta que tem sido reverberado por outros líderes. "A transgressão de indivíduos nunca deve levar à punição coletiva de uma população inteira", defendeu.

O anúncio da organização ocorre no mesmo dia que o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, desembarcou na Arábia Saudita para sua quinta tour pelo Oriente Médio em busca de uma trégua no conflito entre Israel e o Hamas. Com a viagem, Washington também quer evitar uma guerra mais ampla na região e reunir aliados em torno de uma proposta para libertar reféns mantidos em Gaza.

Entenda a crise

A UNRWA enfrenta uma grande controvérsia desde que Israel denunciou que vários funcionários da agência participaram do ataque terrorista do Hamas há quase quatro meses, que deixou 1,2 mil mortos e 250 pessoas como reféns, segundo as autoridades israelenses. A acusação levou o chefe da agência, Philippe Lazzarini, a anunciar a demissão de "vários" funcionários, afirmando que qualquer agente envolvido em atos de terrorismo ria “responsabilizado, inclusive através de processo criminal”. Na sexta-feira, António Guterres, secretário-geral da ONU, afirmou estar "horrorizado com a notícia" e disse ter pedido a Lazzarini que investigasse o assunto "rapidamente", segundo a BBC.

Um dossiê fornecido ao governo americano, revisado pelos jornais americanos New York Times e Wall Street Journal, detalha as alegações de Israel e lista os nomes e cargos dos funcionários da agência, assim como as respectivas acusações. Entre os que foram apontados como envolvidos, sete seriam professores em escolas administradas pela agência, dois seriam funcionários das instituições de ensino, mas em outras funções, e um seria balconista, outro assistente social e o último chefe de almoxarifado. Eles teriam sido identificados pelo rastreamento de seus celulares.

No mesmo dia do anúncio da demissão, os Estados Unidos, principal financiador da UNRWA, comunicaram a suspensão do financiamento à agência. O país enviou várias centenas de milhões de dólares no ano passado e US$ 340 milhões em 2022.

Desde então, Austrália, Reino Unido, Canadá, Itália, Holanda, Alemanha, Finlândia, França, Japão, Romênia, Estônia, Islândia, Suécia e Áustria seguiram a decisão do governo americano. A UE afirmou que não está previsto "nenhum financiamento adicional para a UNRWA até o final de fevereiro". Já a Suíça anunciou que só realizará os pagamentos que ainda não foram feitos e estão planejados para este ano quando tivesse mais informações sobre as acusações.

A UNRWA fornece há décadas uma série de serviços sociais à população de Gaza — altamente dependente de ajuda humanitária de organizações internacionais — construindo e operando escolas, abrigos e clínicas médicas, gerando empregos, e através da distribuição de água, alimentos e medicamentos. "A UNRWA é a espinha dorsal de toda a resposta humanitária em Gaza", declarou Guterres.

Mas, a agência sempre esteve envolvida em atritos com Israel, que a acusa de estar "totalmente infiltrada pelo Hamas" — afirmação rejeitada pela agência. O país há muito questiona a atuação da UNRWA, vinculada ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), e classifica seus métodos como antiquados, sobretudo o fato de ela oferecer o status de refugiado a todos os palestinos, mesmo os que não estão instalados em campos de refugiados. Para o governo israelense a medida prolonga a guerra de independência de 1948 e legitima o chamado "direito ao retorno" por gerações

Após o anúncio das demissões e a suspensão do financiamento em massa por parte de vários países, o Estado judeu apelou à agência humanitária que interrompa o seu trabalho após o término da guerra.

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