O movimento islâmico palestino Hamas afirmou, nesta terça-feira, ter entregue sua resposta sobre a proposta de uma nova trégua temporária com Israel e a libertação dos reféns ainda remanescentes em Gaza — o que foi confirmado pelo Catar. A resposta seria "positiva" e foi enviada a Israel, que está analisando os detalhes. Contudo, autoridades do país, citadas pelo jornal Haaretz, afirmam que na verdade o retorno é negativo, já que as condições impostas pelo grupo são inaceitáveis para o Estado judeu.
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“Há pouco tempo, o movimento Hamas entregou a sua resposta ao esboço do acordo aos irmãos no Catar e no Egito”, afirmou o grupo em um comunicado. O movimento afirmou que lidou com a proposta "positivamente", mas reforçou exigências anteriores, como um cessar-fogo permanente, a suspensão do bloqueio em Gaza e a libertação dos prisioneiros palestinos, o que já foi rebatido pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
O Hamas não disse objetivamente qual era a resposta, embora a emissora al-Aqsa TV tenha relatado a oferta para alterações na proposta relacionadas com as questões do cessar-fogo, da reconstrução do enclave palestino, da suspensão do bloqueio, do deslocamento dos feridos, do regresso das pessoas deslocadas para suas casas.
Segundo o gabinete de Netanyahu, a resposta foi entregue por Doha ao Mossad, afirmando que os detalhes "estão sendo minuciosamente avaliados pelos responsáveis envolvidos nas negociações".
Apesar disso, um alto funcionário de Israel afirmou que, na verdade, a resposta do grupo palestino é negativa, já que as condições apresentadas não são aceitáveis para o país, de acordo com o Haaretz. Outra fonte teria dito que "ambos os lados deixaram claro que atualmente é impossível superar a principal disputa que impede o acordo – a exigência de acabar com a guerra".
Catar 'otimista'
O primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman Al-Thani, confirmou o recebimento do retorno do grupo. O xeque afirmou que o Hamas fez alguns comentários, mas que no geral a resposta era "positiva". Ainda segundo o premier, ele estava "otimista". Não foram dados detalhes devido às "delicadas circunstâncias", e as negociações continuarão.
A declaração foi feita ao lado do secretário de Estado americano, Antony Blinken, que está em sua quinta viagem ao Oriente Médio desde o início do conflito entre Israel e Hamas, para pressionar um novo acordo. Blinken pontuou que "ainda há muito trabalho a fazer".
— Mas continuamos pensando que um acordo é possível, e inclusive essencial, e vamos continuar trabalhando sem descanso para alcançá-lo. — garantiu, afirmando que discutirá a proposta na quarta-feira com Israel.
Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou as exigências do Hamas como “um pouco exageradas”, sem dar mais detalhes.
O Hamas ponderou durante mais de uma semana sobre a proposta elaborada na sua ausência durante as conversações em Paris, que reuniu autoridades cataris, egípcias, isralenses e americanas. Segundo o xeque, citado pela rede de notícias catari al-Jazeera, a demora também poderia ser explicada pelo conflito travado em Gaza, que acaba afetando as comunicações.
Já Ghazi Hamad, um alto funcionário do grupo, disse à Reuters que a demora também se deve ao fato de "muitas das questões [do acordo] eram pouco claras e ambíguas". Ele também afirmou que o Hamas pretende libertar o maior número possível de palestinos detidos em prisões israelenses.
Esboço do acordo
O Hamas e outros grupos terroristas aliados, como a Jihad Islâmica, sequestraram 250 pessoas durante o ataque de 7 de outubro do ano passado, segundo o balanço de autoridades de Israel. Desse total, estima-se que 132 ainda estejam em cativeiros do movimento palestino que governa a Faixa de Gaza e de outros extremistas.
Em novembro, no último acordo entre as partes, mediado pelos EUA, Egito e Catar, 110 cativos foram libertados em troca de 240 palestinos detidos em prisões israelenses.
Apesar de não ter entrado muito em detalhes, al-Thani confirmou nos últimos dias que a trégua seria escalonada. Uma fonte do Hamas disse à AFP, sob condição de anonimato, que o grupo analisava uma proposta de três etapas. A primeira incluiria uma pausa de seis semanas durante a qual Israel libertaria entre 200 e 300 prisioneiros palestinos em troca de 35 a 40 reféns. Além disso, entre 200 e 300 caminhões de ajuda humanitária poderiam entrar em Gaza todos os dias.
Apenas “mulheres, crianças e homens doentes com mais de 60 anos” seriam libertados durante essa fase em troca de prisioneiros palestinos em Israel, disse a fonte, que pediu anonimato. Haveria também “negociações em torno da retirada das forças israelenses”, com possíveis fases adicionais envolvendo mais trocas de reféns e prisioneiros.
O Hamas exige um cessar-fogo completo como pré-condição para qualquer acordo, enquanto o governo israelense se limita a falar em uma pausa nos combates, mas não em suspender por completo a sua operação em Gaza.
"Não retiraremos o exército da Faixa de Gaza nem libertaremos milhares de terroristas. Nada disso acontecerá", disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na terça passada.
O líder israelense está sob pressão para acabar com a guerra e trazer os reféns de volta para casa, em meio a divisões dentro de seu gabinete e à fúria pública sobre o destino dos prisioneiros restantes.(Com AFP e New York Times)