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Por O Globo — Jerusalém

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descreveu nesta quarta-feira como "delirante" a contraproposta do grupo terrorista Hamas para um plano de cessar-fogo que poderia levar ao fim da guerra em Gaza, que completou quatro meses nesta quarta-feira, e ordenou que o Exército preparasse uma ofensiva contra Rafah, cidade no extremo ao sul do enclave palestino. Segundo ele, a vitória israelense é “questão de meses”.

— Render-se às condições delirantes do Hamas levará a outro massacre e trará uma grande tragédia para Israel que ninguém estaria disposto a aceitar — disse Netanyahu durante uma entrevista coletiva em Jerusalém logo após se reunir com o secretário de Estado dos EUA, Antony J. Blinken, para discutir propostas de paz.

Os comentários do premier israelense pareceram jogar um balde de água fria nas esperanças que surgiram na terça-feira, quando autoridades dos EUA e do Catar disseram que a oferta do Hamas refletia um progresso potencial. Questionado especificamente se Israel rejeitou formalmente a oferta, Netanyahu respondeu:

— Com base no que eles nos passaram? Pelo que vi até agora, você também diria não.

Ao mesmo tempo, porém, evitou dar detalhes, deixando a questão em aberto. Está prevista para esta quinta uma nova rodada de negociações no Cairo, mediadas pelo Egito e o Catar. Após o encontro com Netanyahu, Blinken afirmou que, apesar de alguns pontos que dificultam o diálogo, a oferta do Hamas "cria espaço para que um acordo seja alcançado, e trabalharemos incansavelmente para isso".

135 dias de trégua

A contraproposta do Hamas foi apresentada a partir de um esboço elaborado pelo Catar, Egito e os Estados Unidos durante negociações no mês passado em Paris. Recebida com otimismo pelos mediadores, a resposta do grupo para uma nova trégua — em novembro, uma paralisação temporária dos combates possibilitou a libertação de mais de 100 das quase 240 pessoas mantidas como reféns — incluiu, contudo, a reivindicação de uma retirada militar israelense completa de Gaza, algo rejeitado publicamente pelo Estado judeu, que prometeu sair somente após a eliminação completa do grupo fundamentalista islâmico.

Nem o Hamas nem Israel divulgaram formalmente detalhes sobre o texto. Mas o jornal libanês Al-Akhbar, considerado próximo do grupo xiita libanês Hezbollah, um aliado do Hamas, publicou uma versão vazada nesta quarta-feira, oferecendo a visão mais detalhada até agora dos termos do grupo para pôr fim aos combates. Sob condição de anonimato, um alto integrante do Hamas e uma autoridade israelense confirmaram que o texto correspondia à contraproposta do Hamas.

Antes das declarações de Netanyahu, Avi Hyman, porta-voz do governo israelense, afirmou que o Mossad (serviço de Inteligência externa de Israel) estava "analisando de forma atenta o que nos foi apresentado".

Sob o plano, os dois lados observariam um cessar-fogo em três estágios por 135 dias, cada um deles durando 45 dias, durante os quais presos palestinos seriam trocados pelos reféns sequestrados durante o 7 de outubro, quando o Hamas também deixou mais de 1,2 mil mortos em Israel — o pior ataque contra o país desde sua formação, em 1948. Como resposta ao ataque, Israel iniciou uma campanha militar aérea e terrestre que deixou mais de 28 mil mortos, segundo o Ministério de Saúde de Gaza, território que é controlado pelo Hamas desde 2007.

Na primeira fase, as forças israelenses se retirariam das áreas residenciais de Gaza, permitindo o retorno dos moradores do enclave a suas áreas de origem. O movimento também pede a entrada de mais ajuda humanitária — um mínimo de 500 caminhões diários com suprimentos, combustíveis e outras mercadorias — e o início da reconstrução de hospitais e residências, assim como a criação de acampamentos temporários. Nessa etapa, o Hamas reivindica a libertação de todas as mulheres, menores de 19 anos e idosos presos por Israel. Em troca, o grupo se compromete a soltar reféns nas mesmas categorias, com exceção de soldados mulheres.

Outros 1,5 mil dos mais de 8 mil palestinos presos por Israel também seriam soltos nesta fase, incluindo 500 que cumprem longas sentenças por seu envolvimento em ataques mortais contra israelenses. Os nomes dos 500 seriam escolhidos pelo grupo, diz o documento. Na semana passada, Netanyahu prometeu que não libertaria milhares de presos palestinos ou retiraria as forças israelenses sob os termos de um acordo de cessar-fogo.

— Não vamos aceitar nada além de vitória total — disse Netanyahu durante um discurso na Cisjordânia ocupada.

A fase seguinte incluiria a retirada completa do Exército de Israel de Gaza, enquanto o Hamas libertaria todos os homens mantidos como reféns em troca da soltura de mais prisioneiros palestinos. Durante a terceira e última fase, tanto Israel quanto o Hamas trocariam os corpos que têm sob custódia, com a expectativa de que os dois lados cheguem a um acordo definitivo pelo fim da guerra. De acordo com um relatório divulgado na terça-feira, há cerca de 100 reféns ainda vivos em Gaza, com os corpos de mais de 30 estando em poder do Hamas.

Ofensiva em Rafah

O impasse sobre uma nova proposta de cessar-fogo ocorre enquanto, há vários dias, teme-se uma ofensiva em Rafah, cidade fronteiriça com o Egito, que agora abriga a maioria da população do território palestino, que fugiu para o sul devido aos combates travados desde outubro. Mais de 1,3 milhão de deslocados, cinco vezes a população inicial da cidade, estão em Rafah em condições desesperadoras, segundo a ONU.

— Nossos soldados heroicos estão lutando atualmente em Khan Younis, principal reduto do Hamas. Demos a ordem às Forças de Defesa de Israel para preparar uma operação em Rafah, assim como em dois acampamentos [de refugiados], os últimos redutos restantes do Hamas — declarou Netanyahu nesta quarta. — A vitória está ao alcance das mãos. Não é uma questão de anos ou décadas, é uma questão de meses.

Segundo o premier, a pressão militar sobre o Hamas é necessária para garantir a libertação dos reféns, afirmando que "a operação militar para desmantelar o Hamas continuará até o fim".

Sem concessões

Analistas próximos do Hamas argumentaram ao New York Times que o grupo não seria capaz de oferecer concessões nas questões mais espinhosas das negociações.

— Manter um soldado israelense em Gaza seria uma derrota e uma catástrofe — disse Salah al-Din al-Awawdeh, um analista palestino que foi libertado de uma prisão israelense em 2011. — Ninguém aceitará isso.

Ghazi Hamad, um integrante graduado do Hamas, disse numa entrevista na TV na noite de terça-feira que a liderança do grupo apoiaria um cessar-fogo em fases e uma retirada gradual de Israel desde que o processo conduzisse a uma trégua final.

— Israel quer receber todos os reféns e depois ter liberdade absoluta para voltar à guerra e à matança e aos assassinatos — disse Hamad à al-Mayadeen, a emissora libanesa. — Mas, no final, precisamos de um texto que garanta claramente um cessar-fogo abrangente e a retirada das forças de ocupação.

O secretário de Estado dos EUA chegou a Israel após se reunir com os líderes mediadores do Catar e do Egito nesta semana, em sua quinta viagem ao Oriente Médio desde o início do conflito.

— Ainda há muito trabalho a fazer, mas continuamos pensando que um acordo é possível, e inclusive essencial, e vamos continuar trabalhando sem descanso para alcançá-lo — garantiu Blinken antes da reunião com Netanyahu.

Em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classificou as exigências do Hamas como “um pouco exageradas”, mas não deu mais detalhes. (Com AFP)

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