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Por O Globo e agências internacionais — Washington

O Departamento de Justiça dos EUA concluiu que o presidente Joe Biden retirou, manteve e compartilhou documentos sigilosos da Casa Branca após o fim de seu mandato como vice de Barack Obama, em 2017, mas apontou que, mesmo diante das evidências, não abrirá um processo criminal. Contudo, uma menção à saúde mental de Biden deve causar polêmica, e uma nova gafe diante da imprensa pode dar ainda mais munição ao campo republicano, comandado por Donald Trump.

A conclusão foi apresentada por um promotor especial que desde o ano passado investigava a origem de documentos encontrados na casa e em um escritório de Biden, que poderiam guardar semelhança com a investigação similar movida contra o ex-presidente Donald Trump.

Nas 345 páginas do relatório, o promotor especial Robert Hur aponta que Biden levou deliberadamente documentos relacionados à guerra no Afeganistão e manuscritos sobre "métodos e fontes sensíveis" de inteligência dos EUA. Alguns desses documentos foram, segundo Hur, compartilhados com o autor que o ajudou a escrever o livro "Promise me, Dad" ("Prometa-me, Pai"), de 2017. Em entrevista coletiva na Casa Branca, horas depois da divulgação do relatório, ele negou ter compartilhado qualquer tipo de material sigiloso com o escritor.

— Eu não quebrei a lei. Ponto final — declarou Biden.

Apesar das evidências que poderiam justificar a abertura de um processo criminal, como aconteceu com Donald Trump, Hur apontou para fatores alheios aos documentos para justificar a decisão de não levar o caso ao tribunal.

Para o promotor, a forma como foram encontrados os papéis, em uma caixa jogada na garagem de uma casa do presidente em Delaware, sugerem que ele poderia ter se esquecido da existência deles. Hur considera que esse “esquecimento” poderia estar ligado à mudança recente nas regras sobre a retenção desse tipo de material, algo com o qual Biden não estaria acostumado.

Hur ainda aponta para a cooperação de Biden ao longo da investigação, iniciada em janeiro de 2023, contrastando com a reação virulenta de Trump em um caso similar, quando foram encontradas caixas de documentos sigilosos em sua residência de Mar-a-Lago.

“Após receber muitas chances de devolver documentos sigilosos e evitar um processo, o [ex-]presidente Trump fez exatamente o oposto. De acordo com seu indiciamento, ele não apenas se recusou a devolver os documentos por muitos meses, mas também obstruiu a justiça ao pedir a outras pessoas que destruíssem as evidências e mentissem sobre isso”, escreveu Hur. “Biden, por sua vez, devolveu os documentos sigilosos ao Arquivo Nacional, concordou com as buscas em vários locais, incluindo suas residências, prestou uma entrevista voluntária e colaborou de outras formas com a investigação.”

'Processo seletivo'

A decisão tem o potencial de inflamar ainda mais os discursos do ex-presidente, que ao mesmo tempo em que desponta como favorito para ser o indicado republicano na eleição presidencial de novembro, enfrenta uma série de processos criminais na Justiça.

Logo depois da divulgação do relatório, Trump criticou as conclusões, apontando para um "partidarismo" do Departamento da Justiça.

"Ficou provado que esse é um sistema de Justiça com dois padrões, com uma processo seletivo e inconstitucional. O caso dos documentos do Biden é 100 vezes diferente e mais grave do que o meu", escreveu Trump, em comunicado. Por outro lado, ele ele provavelmente citará, de forma positiva, algumas opiniões de Hur no documento.

Segundo o promotor, os investigadores consideraram que a memória de Biden, de 81 anos, era “significativamente limitada”, e que “seria difícil convencer um júri de que ele – um presidente com mais de 80 anos — deveria ser condenado por um crime grave que requer um estado mental de determinado". Ele cita que o presidente não se lembrou de momentos de seus dois mandatos como vice de Obama, e que teve dificuldade de recordar quando seu filho Beau, morto em 2015, havia falecido.

“O sr. Biden provavelmente se apresentaria diante dos jurados, como ele fez em seu depoimento, como um homem idoso simpático, bem-intencionado e com uma memória fraca”, escreveu Hur.

A defesa de Biden criticou essa menção ao presidente, dizendo que foi usada uma linguagem "extremamente prejudicial para descrever um fato recorrente entre muitas testemunhas: o esquecimento de alguns eventos ocorridos há alguns anos". Em comunicado, o presidente destacou sua cooperação com os investigadores, citou que algumas das entrevistas foram feitas em momentos de grande tensão, dias depois dos ataques do grupo terrorista Hamas contra Israel, em outubro do ano passado, e considera o caso "encerrado".

Na Casa Branca, disse aos repórteres estar satisfeito com a decisão do promotor não abrir um processo contra ele, mas atacou os comentários sobre seus "lapsos", afirmando que sua memória "está ótima", e se mostrou particularmente irritado com a menção ao seu filho Beau.

— Como ele ousa levantar isso? Francamente, quando fui questionado sobre isso, pensei comigo mesmo "isso não é da sua conta — afirmou aos repórteres.

Contudo, ao retornar ao púlpito para fazer comentários sobre a guerra em Gaza, Biden cometeu mais uma gafe: ao falar do envio de ajuda ao território palestino, citou suas conversas com Abdul Fatah al-Sisi, presidente do Egito, mas mencionado por Biden como sendo lider do México. O deslize foi o segundo nesta semana: na terça-feira, ele confundiu o presidente francês, Emmanuel Macron, com François Mitterrand, o ex-presidente da França que morreu em 1996.

Em comunicado conjunto, o presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, e os deputados Steve Scalise e Elise Stefanik, consideraram "perturbadora" a menção à memória do presidente no relatório, e afirmaram que "um homem demasiado incapaz de ser responsabilizado pelo mau uso de informações confidenciais é certamente inapto para o Salão Oval".

Apesar de Trump ter apenas quatro anos a menos que Biden, 77 anos, a idade do democrata e sua suposta incapacidade para comandar o governo são frequentemente mencionadas pelo republicano e por aliados. Segundo pesquisa divulgada em agosto do ano passado 77% dos eleitores acreditam que ele é muito idoso para governar por mais quatro anos — entre os republicanos, o índice chega a 89%, e entre os democratas a 69%.

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