O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, pediu ao Exército de seu país que apresente um "plano combinado" para "deslocamento" de civis de Rafah e de "destruição" do grupo terrorista Hamas, na cidade do sul da Faixa de Gaza. O pedido ocorre após o anúncio feito pelo premier, na quarta, sobre a expansão das operações militares no sul do enclave palestino.
"É impossível atingir o objetivo da guerra de eliminar o Hamas deixando quatro batalhões do Hamas em Rafah. Ao contrário, é evidente que a atividade intensa em Rafah requer que os civis evacuem as áreas de combate", informou o gabinete do primeiro-ministro em um comunicado publicado na rede social X (antigo Twitter).
Netanyahu ordenou, na quinta-feira, que os militares mudassem o foco da operação militar no enclave para Rafah, para onde milhares de cidadãos palestinos fugiram à medida que o conflito se intensificava mais ao norte. O anúncio do premier veio pouco depois de ele rejeitar uma proposta de trégua, mediada por Catar, EUA e Egito, para troca de reféns israelenses e estrangeiros por prisioneiros palestinos com o grupo terrorista Hamas.
Rafah abriga hoje mais de metade dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza. Antes da guerra, a pequena cidade de apenas 65km² abrigava 250 mil pessoas e era considerada empobrecida até mesmo para os padrões do enclave, que tem um baixo índice de desenvolvimento. Atualmente, a população local sofre com uma severa falta de alimentos, água e remédios, e a crescente aglomeração de pessoas agravou surtos de doenças como a sarna e a disseminação de piolhos. A ONU estima que há um chuveiro para cada 2 mil pessoas e um banheiro para cada 500. Mais de 28 mil pessoas já morreram nos ataques israelenses a Gaza.
A ofensiva contra a cidade preocupou autoridades estrangeiras, incluindo de países aliados de Israel. O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou na quinta-feira que a "condução da resposta [de Israel, ao Hamas] em Gaza" foi "exagerada". O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, advertiu que uma operação militar seria "um desastre" para as pessoas na região, considerando as circunstâncias no terreno.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu uma possível ação militar contra Rafah em termos similares, apontando que uma invasão israelense poderia provocar uma "tragédia gigante".
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— Metade da população de Gaza está agora amontoada em Rafah — disse Guterres. — Eles não têm para onde ir. Eles não têm casa, e não têm esperança. Eles vivem em abrigos improvisados superlotados, em condições insalubres, sem água corrente, eletricidade e alimentos adequados.
No início da guerra, há quatro meses, as forças israelenses concentraram suas operações na Cidade de Gaza, no norte do enclave, e depois avançaram em direção a Khan Younis, mais oa sul. Rafah era o destino considerado o mais afastado da ação militar direta.
A insistência do governo israelense em continuar com a pressão militar contra Gaza já cria desconforto até para seus principais aliados — como os EUA, onde surgem vozes questionando a viabilidade de eliminar o Hamas por meios bélicos. Washington enviou o secretário de Estado, Antony Blinken, para mais uma missão na região — a quinta desde o início da guerra em 7 de outubro — na tentativa de garantir uma nova trégua e a troca de reféns. Apesar da negativa inicial de Netanyahu, analistas apontam que o premier deixou a janela para negociação aberta. (Com AFP e NYT)
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