Mundo
PUBLICIDADE
Por e , Em The New York Times — Jacarta

O ministro da Defesa da Indonésia, um ex-general que foi expulso do Exército após ser considerado responsável pelo sequestro de dissidentes políticos, parece estar no caminho para vencer as eleições presidenciais desta quarta-feira. Prabowo Subianto, 72, tem uma liderança dominante na corrida eleitoral, com mais de 58% dos votos, segundo contagens não oficiais que têm fama de prever com precisão os resultados finais. O próprio candidato reivindicou sua “vitória no primeiro turno”.

— Todas as contagens, todas as pesquisas mostram que [a dupla] Prabowo-Gibran venceu em único turno. Esta vitória deveria ser uma vitória para todos os indonésios — declarou o ex-general em discurso na capital. Ele afirmou, porém, que vai esperar “pelo resultado oficial”, que deve ser divulgado em março. — Acreditamos que a democracia indonésia funciona bem. O povo decidiu.

Se as projeções forem confirmadas, a Indonésia — a terceira maior democracia do mundo — lidará com um presidente que disse que o país não precisa de eleições nem de democracia; que foi impedido de entrar nos Estados Unidos por 20 anos por seu histórico de violação aos direitos humanos, e que foi durante muito tempo associado ao ex-ditador indonésio, Suharto. A era de liberdade que se seguiu à queda de Suharto, dizem os críticos, agora pode estar sob ameaça.

O quarto país mais populoso do mundo é de crescente importância estratégica tanto para os Estados Unidos quanto para a China. A Indonésia é um dos principais produtores mundiais de carvão, óleo de palma e níquel, e está no topo das cadeias de suprimentos de muitas empresas internacionais. Tudo isso significa que terá uma influência significativa sobre o futuro da crise climática, também.

Prabowo almeja a presidência há décadas e tem tentado diferentes personas públicas para conquistar votos. Mas o que finalmente o levou à vitória foi o apoio implícito do popular presidente atual, Joko Widodo, cujo filho Gibran Rakabuming Raka, 36, é o companheiro de chapa do ex-general. Para os críticos, Joko mostrou até onde estava disposto a ir para manter sua influência política no país após o término de seu segundo mandato de cinco anos no cargo.

Joko foi responsável, por exemplo, por reduzir os poderes de uma agência anticorrupção, impôr uma lei trabalhista controversa e orquestrar a colocação do filho na cédula para vice-presidente. Tais preocupações, no entanto, não chegaram à maioria da população, que prosperou sob os ambiciosos projetos de infraestrutura e bem-estar de Joko. Pesquisas mostram que os indonésios desejam alguém que continue seu legado — e é assim que Prabowo se apresentou.

— No passado, a democracia em declínio da Indonésia esteve intimamente relacionada à repressão das liberdades civis, mas com a deterioração na qualidade das eleições e a intervenção dos que estão no poder, acho que agora estamos em uma situação ruim — disse Yoes Kenawas, pesquisador de política na Universidade Católica Atma Jaya.

A Indonésia é uma exceção importante em uma região onde muitas vezes a vontade do povo é ignorada. Embora a democracia seja amplamente considerada imperfeita no país, muitos indonésios a abraçaram como um modo de vida. As eleições nas últimas três décadas têm sido consideradas livres e justas, e os eleitores dizem que não querem voltar aos dias de Suharto — ex-chefe de Prabowo e seu ex-sogro.

Os locais de votação estiveram abertos por seis horas. Milhões de pessoas votaram, celebrando a Festa da Democracia no país. Pode levar semanas para as autoridades declararem as contagens oficiais dos votos, mas os resultados podem ser aparentes horas após o fechamento das urnas. Nos últimos meses, pesquisas mostraram que Prabowo estava à frente de seus oponentes, Anies Baswedan, ex-governador de Jacarta, e Ganjar Pranowo, ex-governador de Java Central.

As plataformas dos três candidatos não diferiram significativamente, disseram os especialistas, mas Prabowo teve destaque — e Joko desempenhou um papel crucial em sua reabilitação. Em 2019, o ex-militar foi nomeado ministro da Defesa, e no ano passado, o filho do atual presidente se uniu a Prabowo na disputa eleitoral. Ambos buscavam cortejar o voto jovem, já que, no país, pessoas com menos de 40 anos são mais da metade dos eleitores elegíveis.

Com uma campanha sofisticada, Prabowo buscou reformular sua imagem como a de um avô carinhoso. A manobra de Joko, porém, deixou alguns apoiadores preocupados, e muitos não entendem por que um homem que se beneficiou da democracia agora tem desejos dinásticos. Segundo Andi Widjajanto, que renunciou como estrategista de Joko em outubro, é como se Barack Obama de repente decidisse apoiar Donald Trump enquanto ainda endossa um programa democrata.

— Para nossos amigos nos EUA, é como se Obama de repente decidisse apoiar Trump enquanto ainda endossa um programa democrata — disse Andi Widjajanto, que renunciou como estrategista de Joko em outubro e começou a trabalhar para Ganjar, candidato do partido de Joko.

Influência de Joko

Em outubro, o cunhado de Joko deu o voto decisivo na decisão do Tribunal Constitucional de reduzir a idade dos candidatos a vice-presidente, permitindo que Gibran entrasse na disputa. Embora a situação tenha gerado um tumulto, Joko reforçou sua posição nas últimas semanas, dizendo que “um presidente tem permissão para endossar candidatos e tomar partido”. Para muitos, a mensagem foi clara: ao seu lado estava Prabowo.

Sua declaração provocou outro protesto, e Joko apareceu em um vídeo no YouTube segurando um cartaz e apontando para trechos da Lei Geral das Eleições de 2017, que afirmam que os presidentes têm permissão para participar da campanha. Especialistas, no entanto, disseram que o líder estava citando seletivamente a lei, que também afirma que ele deve se afastar do poder caso queira fazer campanha.

Agora, não está claro qual será a influência de Joko na política indonésia após deixar o cargo, e como será se seu filho se tornar vice-presidente. Comparado ao chefe de Estado, o vice tem poder limitado. Mas quem ocupa o cargo é o próximo na linha se o presidente morrer. Para Natalie Sambhi, da Verve Research, grupo que estuda a relação entre militares e sociedades, Prabowo não deve permitir que Joko exerça muita influência. A questão, para ela, é se o ex-general conduzirá o país na mesma direção.

Mais recente Próxima Estadias caras, bebidas, móveis e roupas: rede que saqueou estatal de petróleo da Venezuela esbanjava luxo

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY

Mais do Globo

Valor não acumula e caso ninguém garante os 15 números, prêmio máximo será dividido entre outros acertadores

Lotofácil especial de Independência sorteia R$ 200 milhões nesta segunda; saiba como apostar

Associação de descendentes emitiu 'parecer desfavorável' à manutenção definitiva do símbolo olímpico no ponto turístico

Herdeiros de Eiffel cobram retirada dos anéis olímpicos da torre ícone de Paris

A Polícia de Queensland emitiu um mandado de prisão para um homem de 33 anos procurado por atos com a intenção de causar danos corporais graves,

Homem que jogou café quente em bebê vira alvo de caçada internacional; criança já passou por quatro cirurgias

Proposta é oferecer rótulos de pequenos produtores; comidinhas também são artesanais

Vinho brasileiro na torneira: Casa Tão Longe, Tão Perto abre em Botafogo

Pelo menos duas mil pessoas que fugiram dos seus países vivem na cidade

Debate sobre refugiados travado por candidatos a prefeito de Niterói  repercute entre imigrantes

Trata-se de mais um caso que pode beneficiar uma figura ligada ao jogo do bicho

'Gerente' ligado a Rogerio Andrade pede a Nunes Marques para sair da prisão

Wide receiver foi imobilizado de bruços perto de estádio e liberado a tempo de partida do Miami Dolphins contra o Jacksonville Jaguars

Policial que algemou astro da NFL a caminho de jogo é afastado, e atleta quebra silêncio: 'E se eu não fosse Tyreek Hill?'