Mundo
PUBLICIDADE
Por , Em AFP — Loma Hermosa, Argentina

As vasilhas estão se acumulando e há apenas 8 kg de macarrão para enchê-las. Os cozinheiros trocam olhares preocupados: será suficiente? Nas cozinhas comunitárias da Argentina, dois problemas se juntam: a crise está levando mais pessoas a pedir ajuda, mas o governo não está mais fornecendo alimentos.

— Hoje não sei se vamos conseguir — diz Carina López, apontando para as caixas vazias de frutas e legumes.

López é responsável pela cozinha comunitária "Las hormiguitas viajeras" (“As formiguinhas viajantes”), que funciona em uma casa em Loma Hermosa, um bairro pobre em San Martín, no norte de Buenos Aires. Os vizinhos deixam suas panelas e potes em uma mesa no corredor e saem, entre ruas com murais de Messi e Maradona. Eles as pegarão mais tarde, de preferência cheias.

Angelina Escobar, assistente na cozinha "Las Hormiguitas Viajeras", ao lado dos potes deixados pelos vizinhos que aguardam uma refeição — Foto: Juan Mabromata / AFP
Angelina Escobar, assistente na cozinha "Las Hormiguitas Viajeras", ao lado dos potes deixados pelos vizinhos que aguardam uma refeição — Foto: Juan Mabromata / AFP

Carina López, como outros organizadores de cozinhas comunitárias, diz que em novembro recebeu a última remessa de alimentos do governo.

O ultraliberal Javier Milei assumiu o cargo em dezembro e, desde então, os fundos para restaurantes e cozinhas comunitárias foram congelados, enquanto o sistema atual está sendo auditado.

— Haverá um método inovador para garantir que a ajuda chegue a quem precisa e não passe por um corrimão com intermediários — prometeu o porta-voz da presidência, Manuel Adorni, criticando a "natureza discricionária" do mecanismo.

Norma Olea, administradora da cozinha comunitária "Las Hormiguitas Viajeras", entrega alimentos a vizinhos — Foto: Juan Labromata /AFP
Norma Olea, administradora da cozinha comunitária "Las Hormiguitas Viajeras", entrega alimentos a vizinhos — Foto: Juan Labromata /AFP

Mas não há nenhum esquema de transição e, enquanto isso, milhares de cozinhas comunitárias, capazes de fornecer mais de 100 refeições por dia, têm dependido nos últimos dois meses da ajuda municipal insuficiente e de doações.

— Eles me disseram: "tire dias [de funcionamento] da cozinha ou tire as pessoas" — diz López, referindo-se às soluções propostas pelas autoridades. — Mas eu não posso tirar ninguém. Há novas pessoas, novos avós.

As chegadas aumentam à medida que a crise se aprofunda. Quase metade dos argentinos é pobre, em um país onde a inflação chegou a 211% em 2023. Em janeiro, o índice anualizado atingiu 254,2%.

— E, além disso, as changas (empregos informais) estão sendo cortadas, porque todos estão cortando custos e menos pessoas estão sendo contratadas — diz Melisa Cáceres, professora e organizadora de bairro.

Norma Olea, administradora da "Las Hormiguitas Viajeras", anota quantas refeições serão entregues no dia — Foto: Juan Mabromata / AFP
Norma Olea, administradora da "Las Hormiguitas Viajeras", anota quantas refeições serão entregues no dia — Foto: Juan Mabromata / AFP

Esse é o caso de um dos "recém-chegados" nessa cozinha: Daniel Barreto, de 33 anos. Ele é pedreiro, mas muitos canteiros de obras estão parados e ele não consegue mais emprego, com quatro filhos pequenos para cuidar.

— Quer eu trabalhe ou não, não consigo me sustentar. Estou com minha jermu (esposa) e quatro filhos. O dinheiro não é suficiente. Você vai às compras e não dá para nada — diz ele. — A situação está além do meu alcance.

Do lado de fora, três meninas brincam perto de um cachorro. Dentro, um "pechito" (costelinha) de porco é assado no forno para acompanhar o macarrão.

Algumas cozinhas comunitárias e restaurantes são organizados espontaneamente, outras dependem de organizações. Eles são o resultado do forte senso de comunidade dos argentinos.

Os movimentos sociais que administram muitos desses centros afirmam que, entre dezembro e fevereiro, o número de pessoas atendidas aumentou em pelo menos 50%. "E isso é só o começo", adverte Cáceres, do partido Libres del Sur, que coordena essa cozinha comunitária.

Há cerca de 38 mil cozinhas comunitárias na Argentina, disse à AFP Celeste Ortiz, porta-voz do movimento social Barrios de Pie ("Bairros de Pé"). Sua organização administra 2 mil, enquanto a Libres del Sur ("Livres do Sul") administra outras 2 mil.

Mais recente Próxima Em meio à guerra em Gaza, judeus e muçulmanos convivem pacificamente em município árabe-israelense de Abu Gosh

Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY

Mais do Globo

Gangue originária da Venezuela atua em diversos países da América do Sul e EUA e está ligada a extorsões, homicídios e tráfico de drogas

Texas declara grupo Trem de Aragua, da Venezuela, como ‘terrorista’ e assume discurso de Trump contra imigração

Trabalhador de 28 anos tentava salvar máquinas da empresa e foi cercado pelo fogo

Brasileiro morre carbonizado em incêndio florestal em Portugal

Marçal prestou depoimento nesta segunda-feira (16) sobre o episódio

Novo vídeo: ângulo aberto divulgado pela TV Cultura mostra que Datena tentou dar segunda cadeirada em Marçal

Polícia Civil deve cumprir mandados de prisão contra os suspeitos ainda esta semana

Incêndios florestais no RJ: 20 pessoas são suspeitas de provocar queimadas no estado

Além de estimativas frustradas, ministro diz que comunicação do BC americano levou analistas a vislumbrar possibilidade de subida na taxa básica americana

Haddad vê descompasso nas expectativas sobre decisões dos BCs globais em torno dos juros

Ministro diz que estes gastos fora do Orçamento não representariam violação às regras

Haddad: Crédito extraordinário para enfrentar eventos climáticos não enfraquece arcabouço fiscal

Presidente irá se reunir com chefes do STF e Congresso Nacional para tratar sobre incêndios

Lula prepara pacote de medidas para responder a queimadas

Birmingham e Wrexham estão empatados na liderança da competição

'Clássico de Hollywood': time de Tom Brady vence clube de Ryan Reynolds pela terceira divisão inglesa

Projeto mantém medida integralmente em 2024 e prevê reoneração a partir de 2025

Lula sanciona projeto de desoneração da folha de pagamento de setores intensivos em mão de obra