O Exército de Israel anunciou, nesta sexta-feira, que suas tropas detiveram mais de “20 terroristas” durante a invasão na véspera do Complexo Médico Nasser, o maior hospital de Khan Younis e um dos últimos centros de saúde que permanece operacional na Faixa de Gaza. Segundo autoridades israelenses, os presos teriam participado do ataque sem precedentes lançado pelo grupo terrorista Hamas contra Israel em 7 de outubro. Também nesta sexta, o Ministério da Saúde do enclave palestino afirmou que cinco pacientes morreram após a unidade de saúde ter sofrido cortes de energia elétrica.
“As tropas [israelenses] localizaram armas dentro do hospital e prenderam dezenas de suspeitos de terrorismo, incluindo 20 terroristas que participaram do massacre de 7 de outubro”, informou o Exército em comunicado, indicando que o complexo Nasser foi usado como posição para atacar as suas forças. Esta não é a primeira vez que unidades hospitalares são alvos de soldados israelenses, que acusam o Hamas de usar a população como “escudo humano”. Para Israel, o grupo utiliza esses espaços para se esconder entre civis feridos.
Autoridades de saúde da Faixa de Gaza anunciaram que cinco pacientes morreram após os cortes de energia elétrica terem interrompido a distribuição de oxigênio medicinal no hospital. Segundo o Ministério, as vidas de outras seis pessoas na unidade de terapia intensiva estão em perigo, assim como as de três crianças na creche local. Em comunicado, o órgão afirmou que considera “as forças israelenses responsáveis pelas vidas dos pacientes e das equipes médicas, pois o complexo está sob seu controle".
Uma testemunha, que pediu para não ser identificada por medo de sua segurança, declarou à AFP que o Exército israelense atirou "contra qualquer pessoa que se movimentasse dentro do hospital" na quinta-feira. A ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) descreveu a situação no hospital como "caótica" e informou que seus funcionários foram obrigados a fugir, "deixando os pacientes para trás".
O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos afirmou que a operação no hospital Nasser parece ser "parte de um padrão de ataques das forças israelenses contra infraestruturas civis que são essenciais para salvar vidas em Gaza, em particular hospitais".
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Busca por reféns
O porta-voz do Exército israelense, Daniel Hagari, afirmou na quinta-feira que as Forças Armadas têm "informações confiáveis" de que reféns capturados pelo Hamas no ataque de 7 de outubro foram retidos no hospital.
O ataque deixou 1.160 mortos, a maioria civis, no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em números oficiais israelenses, e desencadeou a guerra em Gaza, com uma ofensiva aérea e terrestre de Israel contra o Hamas que, segundo o movimento islâmico fundamentalista, deixou pelo menos 28.775 mortos, a maioria mulheres e menores de idade.
No dia 7 de outubro, o Hamas também sequestrou 250 reféns e as autoridades israelenses calculam que 130 continuam no território palestino após a libertação de dezenas de pessoas durante uma trégua em novembro. Israel supõe que 30 sequestrados morreram em Gaza.
Hagari afirmou que os corpos de alguns sequestrados que morreram em cativeiro ainda podem estar no hospital. Mas o Exército indicou que ainda não encontrou "evidências" da presença de reféns no complexo hospitalar, embora tenha encontrado "armas, granadas e morteiros".
'Estão nos matando lentamente'
A ofensiva israelense obrigou os moradores do norte de Gaza a fugir para o sul. Rafah, distante 7 km de Khan Younis, abriga quase 1,5 milhão de deslocados, que sobrevivem em acampamentos precários perto da fronteira com o Egito. Várias organizações internacionais alertaram para o risco de desastre humanitário, que aumenta a cada dia devido à escassez e superlotação.
— Eles estão nos matando lentamente — disse Mohamad Yaghi, um deslocado, em Rafah. — Estamos morrendo lentamente devido à falta de recursos e à falta de medicamentos e tratamentos.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, conversou na quinta-feira com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e voltou a pedir que o país não ataque Rafah se não tiver primeiro um plano detalhado para proteger os civis. Netanyahu, no entanto, insiste que seguirá adiante com o plano, com o objetivo de obter a "vitória total" contra o Hamas.
O projeto israelense provocou temores sobre um possível êxodo em massa de refugiados para o Egito, que ergueu um novo muro perto da fronteira com Gaza, segundo a imprensa local.
Esta semana, representantes dos mediadores do conflito — Estados Unidos, Catar e Egito — se reuniram no Cairo para tentar alcançar um acordo que inclua a interrupção dos combates e uma troca de reféns do Hamas por prisioneiros palestinos detidos em Israel.
Mas há poucos indícios de avanço nas negociações e o Gabinete de Netanyahu informou que não recebeu "nenhuma proposta nova" do Hamas sobre a libertação de reféns.
O primeiro-ministro se pronunciou contra o reconhecimento internacional de um Estado palestino, depois que o jornal The Washington Post informou que vários países, incluindo os Estados Unidos, estão trabalhando em uma proposta para um plano de paz duradouro que aborda esta questão. (Com AFP)