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Por O Globo com agências internacionais — Cairo e Genebra

RESUMO

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GERADO EM: 09/08/2024 - 16:49

Egito constrói área murada na fronteira com Gaza

Diante do temor de um possível êxodo de palestinos, o Egito está construindo uma área murada de 20km² na fronteira com Gaza. Autoridades planejam receber até 100 mil refugiados, com restrições de movimentação. A medida visa conter possíveis deslocamentos em massa devido à escalada do conflito entre Israel e Hamas. O Egito rejeita pressões para abrir suas fronteiras e busca evitar um cenário de crise humanitária e político.

Receosos com um possível deslocamento em massa dos moradores da Faixa de Gaza para suas terras, provocado pela potencial incursão terrestre por Israel no sul do enclave palestino, o Egito está construindo um local murado de 20 quilômetros quadrados na Península do Sinai, seu lado da fronteira. A informação foi divulgada por autoridades egípcias e analistas de segurança ao jornal americano Wall Street Journal, na quinta-feira. Desde o início do conflito entre Israel e o Hamas há uma pressão por parte do Estado judeu para que o Cairo abra suas fronteiras para a entrada dos palestinos, o que tem sido veementemente rejeitado pelo país.

Segundo o WSJ, os egípcios estão construindo um “local murado de 20 quilômetros quadrados”, uma espécie de "área fechada e isolada de alta segurança" para receber os refugiados. O desenvolvimento do local faz parte de um "plano de contingência", que poderá alocar "mais de 100 mil pessoas", informou o jornal americano. A cidade de Rafah, no sul de Gaza, é a única cujo ponto de trânsito está sob controle do Cairo. Antes da guerra, abrigava cerca de 250 mil pessoas. Hoje, mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza buscam refúgio na cidade, empurrados cada vez mais contra sua fronteira e em meio à intensificação da crise humanitária.

Ainda segundo as autoridades egípcias e analistas de segurança, o Cairo tentaria limitar o número de palestinos a 50 mil e 60 mil, caso o número de deslocados seja muito grande. Os palestinos seriam proibidos de deixar a zona tampão, que não está próxima de nenhuma cidade egípcia, salvo em casos de migração para outro país.

A informação divulgada pelo WSJ ocorre pouco depois da Fundação Sinai para os Direitos Humanos, uma ONG egípcia, ter divulgou um relatório, nesta semana, que mostra a construção de um complexo para receber refugiados palestinos "no caso de um êxodo em massa". A AFP e o New York Times revisaram imagens de satélite tiradas na quinta-feira da área no norte do Sinai, mostrando máquinas construindo um muro ao longo da fronteira Egito-Gaza. O local é altamente seguro e fechado para jornalistas, disse a agência francesa.

Um porta-voz do governo egípcio recusou-se a falar sobre as novas construções, referindo-se apenas a declarações feitas pelo governo nas últimas semanas, sublinhando a sua fortificação da fronteira. Já o governador do Sinai do Norte, Mohamed Shousha, negou que o Egito esteja preparando "uma zona isolada no Sinai" para receber palestinos, afirmando que os trabalhos de construção destinavam-se a avaliar as casas destruídas durante os tumultos dos últimos anos para "indenizar devidamente" os proprietários.

A Fundação Sinai para os Direitos Humanos, por outro lado, disse que foi informada por dois empreiteiros de que as empresas de construção tinham sido encarregadas de construir a área fechada, "rodeada por muros de sete metros de altura". O local situa-se sobre os "escombros" de casas egípcias "demolidas" durante a guerra do país contra os rebeldes islâmicos no norte do Sinai na última década, explicou. Fontes no Sinai disseram à AFP que a área estava sendo preparada para o caso de uma violação da fronteira de Gaza, que o Egito fortificou com muros adicionais e áreas de proteção desde o início da guerra. "A área será preparada com tendas" e a assistência humanitária será entregue no interior, disse uma fonte que falou sob condição de anonimato.

Sem um posicionamento oficial do governo do Egito, permanece indeterminado se a construção será destinada a deter os habitantes de Gaza que atravessarem a fronteira, ou se será de fato usada como ponto de acolhimento aos palestinos — o que marcaria uma inversão nas últimas declarações feitas pelo governo do Cairo.

O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, afirmou que qualquer operação em Rafah só ocorrerá depois de "coordenarmos com o Egito". Aos repórteres, durante a Conferência de Segurança de Munique, o chanceler afirmou que "o Egito é nosso aliado, temos acordos de paz com o Egito e iremos operar de uma forma que não prejudique os interesses egípcios." Katz, por outro lado, reforçou a determinação de Israel em avançar com a incursão.

'Prego no caixão' do acordo de paz

Desde o início do conflito, o Egito vem alertando que a contraofensiva de Israel — reposta ao ataque terrorista que sofreu em 7 de outubro, no qual morreram 1,2 mil pessoas e mais de 240 foram levadas como reféns pelo Hamas e outros grupos palestinos — poderia levar a um êxodo de pessoas para o seu território. Poucos dias após a guerra estourar no enclave, o presidente Abdel Fattah al-Sisi instou os civis em Gaza a “permanecerem firmes e continuarem nas suas terras”.

O anúncio da expansão das operações militares israelenses no sul de Gaza, que segundo o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, seria "um dos últimos redutos do Hamas", intensificou as preocupações do governo, que se viu novamente frente à possibilidade de um movimento em massa de palestinos a procura de refúgio em seu território. Nas últimas semanas, imagens que circularam nas mídias sociais mostraram o Egito aparentemente fortificando suas defesas na fronteira com Gaza, utilizando arame farpado e construindo novos muros, segundo informações do jornal israelense Times of Israel.

O potencial êxodo dos habitantes de Gaza foi criticado pelo o alto comissário da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, afirmando que o processo deve ser "evitado a todo custo" e pode ser o "prego no caixão" de um futuro processo de paz.

— A posição do Egito tem sido muito clara. As pessoas não devem atravessar a fronteira. Penso que o Egito tem razões muito válidas — disse Grandi à BBC, durante a Conferência de Segurança de Munique, afirmando que "seria catastrófico para os palestinos serem novamente deslocados" e "catastrófico "para o Egito de todos os pontos de vista".

O alto comissário voltou a lembra da guerra que acompanhou a criação do Estado de Israel, em 1948: A "Nakba" (catástrofe, em árabe), o exílio forçado de 750 mil palestinos de suas terras. Milhões dos seus descendentes continuam a viver como refugiados nos países vizinhos. Para Grandi, a crise "tem de ser evitada a todo custo". Ele também afirmou que a ACNUR, sediada em Genebra, não está envolvida em quaisquer preparativos que o Egito possa estar a fazer para que as pessoas atravessem a fronteira.

Ainda em outubro, uma fonte do governo disse à Reuters que o governo egípcio insiste em uma solução diplomática, argumentando que ambos os lados devem resolver o conflito dentro de suas terras e que um deslocamento em massa poderia dificultar “o direito dos palestinos de manterem sua causa e sua terra”. O Egito tem sido um dos principais mediadores no conflito, ao lado do Catar e dos EUA. Em novembro, eles mediaram um acordo para uma trégua temporária nos combates e uma troca de reféns por prisioneiros palestinos. Nos últimos dias, as autoridades voltaram a se reunir no Cairo, em conjunto com autoridades israelenses, para discutir um novo acordo.

Disputa nas entrelinhas

Para o Egito, permitir a passagem de um grande número de habitantes de Gaza para a Península do Sinai, mesmo como refugiados, seria "reviver a ideia de que a região é o país alternativo para os palestinos", explicou Mustapha Kamel al-Sayyid, cientista político da Universidade do Cairo, ao New York Times. Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel anexou a região ao seu território, que foi retomado posteriormente em 1973, na Guerra do Yom Kippur.

O presidente egípcio também desconfia do grupo terrorista Hamas, que governa a região desde 2007. Dezenas de milhares de palestinos invadiram em 2008 o Egito depois que o Hamas abriu um buraco na cerca da fronteira de Rafah.

As forças de segurança do Egito e de Israel coordenaram-se estreitamente para monitorar Gaza, e os egípcios utilizaram controles fronteiriços rigorosos para permitir que alguns residentes de Gaza entrassem no Egito, principalmente para estudar, obter tratamento médico ou viajar para um terceiro país — controle que endureceu com a chegada do grupo terrorista ao poder. (Com NYT e AFP)

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