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Por O Globo com agências internacionais — Rio de Janeiro

Prestes a completar dois anos da guerra, a Ucrânia ordenou a retirada do seu Exército de Avdiivka — epicentro dos combates mais ferozes da guerra na Ucrânia — na manhã deste sábado, com a Rússia declaram "controle total" da cidade em seguida. Localizada na província de Donetsk, a cidade havia se tornado um símbolo da resistência de Kiev frente à invasão russa. Trata-se da maior vitória simbólica da Rússia desde o fracasso da contraofensiva ucraniana em maio do ano passado. Agora, Moscou tem a capacidade de abrir novas linhas de ataque para a conquista de toda a região do Donbass. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky afirmou que decidiu pela retirada para "salvar a vida" dos soldados ucranianos.

"Com base na situação operacional em torno de Avdiivka, a fim de evitar o cerco e preservar a vida e a saúde dos militares, decidi retirar nossas unidades da cidade e continuar a defesa em linhas mais favoráveis", disse o novo comandante-chefe, Oleksander Sirski, em comunicado divulgado em rede social, em sua primeira grande decisão militar desde que assumiu o comando das operações, em 8 de fevereiro, após a demissão do general Valery Zalujny.

Por sua vez, o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, informou ao presidente Vladimir Putin algumas horas depois da retirada que as tropas da Rússia assumiram "o controle total de Avdiivka", citando este ser "um poderoso centro defensivo para as Forças Armadas ucranianas", informou em comunicado. Segundo o porta-voz do presidente, Dmitry Peskov, Putin parabenizou os soldados "por esta importante vitória".

Esse também é o ganho territorial mais significativo para as forças russas desde que tomaram a cidade de Bakhmut, no leste do país, em maio passado. O foco de Moscou agora, segundo observadores atentos da guerra, deve ser o de abrir novas linhas de ataque a partir de Avdiivka, na tentativa do Kremlin de ocupar toda a região do Donbass e assim liberar recursos para o avanço ao norte, em Kharkiv.

A retirada ucraniana deste sábado se deu após duras batalhas. Desde outubro, os soldados ucranianos, em inferioridade numérica e material, vinham resistindo ao avanço russo. Moscou atacou a cidade com bombardeios aéreos e por terra, mesmo após sofrer quantidade impressionante de baixas.

Mesmo que as linhas ucranianas se estabilizem na retaguarda de Avdiivka, a tomada da cidade permitirá aos russos movimentar suas tropas e transportar equipamento de forma mais eficiente para pressionar os ucranianos em outras direções.

— Avdiivka é um ponto muito importante no sistema de defesa ucraniano pois protege Pokrovsk, um centro logístico do Exército Ucraniano — disse Mykola Bielieskov, analista militar do Instituto Nacional de Estudos Estratégicos em Ucrânia.

'Salvar nosso povo é mais importante'

As forças ucranianas começaram a retirar-se das posições na parte sul da cidade na quarta-feira e, desde então, travaram batalhas desesperadas para evitar o cerco dentro da cidade, à medida que as forças russas avançam de múltiplas direções, informou Kiev.

O general Oleksandr Tarnavsky, que comandava a área de Avdiivka, justificou a retirada ao afirmar que era "a única decisão correta", em uma publicação em rede social: "Em uma situação em que o inimigo está avançando sobre os cadáveres de seus próprios soldados com uma vantagem de dez para um e sob constante bombardeio, essa era a única decisão correta".

O comandante informou ainda que houve perdas para os ucranianos e “na fase final da operação, sob pressão das forças superiores do inimigo, alguns militares ucranianos foram capturados”.

Soldados contatados por telefone na sexta-feira pelo New York Times, e que falaram sob condição de anonimato, descreveram as tentativas desesperadas de escapar da cidade desde a última quarta-feira. E relataram terem corrido por prédios destruídos enquanto projéteis eram lançados contra eles por todos os lados. Soldados russos avançavam, contaram, em múltiplas direções.

Na sexta-feira, o comandante do 2º Batalhão Mecanizado da Terceira Brigada de Assalto da Ucrânia informou que os russos tinham usado munições incendiárias contra tanques ucranianos que armazenavam combustível na usina de carvão. A substância espalhou uma fumaça escura tóxica, que se infiltrou na usina, usada pelos ucranianos como forte contra os avanços russos. Não estava claro na manhã de sábado se as tropas ucranianas escondidas na fábrica conseguiram se retirar do local.

O presidente ucraniano afirmou que a ordem para a retirada foi tomada para "salvar a vida" de seus soldados, embora argumente que a "Rússia não capturou nada":

— Para evitar ser cercado, foi decidido se retirar para outras linhas. Isso não significa que eles [os soldados ucranianos] recuaram alguns quilômetros e a Rússia capturou algo, ela não capturou nada. — defendeu Zelensky neste sábado, acrescentando: — Para nós, a capacidade de salvar nosso povo é a tarefa mais importante.

A fala do líder ucraniano ocorreu durante a Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, um dos países visitados por Zelensky para garantir que as potências ocidentais continuem a ajudar Kiev. Além de Berlim, o presidente também visitou Paris nesta sexta-feira. A viagem rendeu a assinatura de acordos de segurança com o chefe do governo alemão, Olaf Scholz, e o presidente francês, Emmanuel Macron. Os acordos preveem aumento da ajuda militar à antiga república soviética.

A Ucrânia enfrenta pressão crescente na frente oriental devido à escassez de munição, com um pacote de ajuda militar de US$ 60 bilhões dos EUA retido em Washington desde o ano passado por disputas no Congresso entre democratas e republicanos em um ano eleitoral. Relatos da retirada e do racionamento de munições serviram de argumento para a Casa Branca reafirmar que a suspensão da ajuda mina diretamente as forças ucranianas.

Neste contexto, Zelensky conversou ao telefone com o presidente americano, Joe Biden, que reiterou o compromisso dos Estados Unidos no apoio permanente à Ucrânia, afirmou a Casa Branca num comunicado ao fim da tarde. Ainda segundo a nota, Biden culpou a "inação" do Congresso do seu país pela queda da cidade ucraniana.

Mais cedo, durante a conferência em Munique, a vice-presidente Kamala Harris disse que os Estados Unidos devem ser "inabaláveis" em seu apoio a Kiev e não devem depender de "jogos políticos".

Neste sábado, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, pediu que os EUA "cumpram o prometido" à Ucrânia:

— É vital e urgente que os EUA decidam sobre uma série de medidas para a Ucrânia, eles precisam desse apoio. — afirmou, durante a Conferência de Segurança de Munique.

O governo ucraniano também tem tentado recrutar e mobilizar soldados para preencher suas fileiras esgotadas, após dois anos de combates brutais.

Símbolo de resistência

Avdiivka e as comunidades vizinhas têm estado na linha da frente desde que militantes apoiados pela Rússia tomaram o território no leste da Ucrânia em 2014. Posteriormente, elas regressaram ao controle de Kiev. Os esforços russos se intensificaram em outubro passado, com o lançamento de ataques em grande escala para cercar a área. Essas tentativas resultaram em algumas das mais pesadas perdas russas na guerra até hoje, com dezenas de milhares de soldados mortos e feridos, segundo ucranianos.

No início deste ano, os russos conseguiram invadir Avdiivka, no momento em que as perdas ucranianas começaram a aumentar significativamente. Ao mesmo tempo, a Rússia intensificou o bombardeio à cidade, procurando destruir as defesas ucranianas fortemente fortificadas. À medida que a situação se tornava cada vez mais grave, analistas militares temiam que a liderança repetisse o que muitos consideravam um erro do passado: resistir mesmo após ficar claro que não havia esperança de vitória e perder desnecessariamente pessoal e armas.

Apesar de ter sido em grande parte destruída, cerca de 900 civis permanecem vivendo na cidade, segundo as autoridades locais. A Rússia espera que a tomada da cidade torne mais difícil bombardeios ucranianos na cidade de Donetsk. (Com AFP e NYT)

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