A morte de Alexei Navalny, principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, teve forte repercussão mundial, com alguns líderes culpando diretamente o governo russo. O presidente americano Joe Biden afirmou que o Kremlin é responsável pela morte de Navalny, e que o ocorrido é “mais uma prova da brutalidade de Putin”. O democrata, que em 2021 prometeu “consequências” se o opositor morresse na prisão, deixou claro que não há muito mais a ser feito atualmente, porque nos últimos três anos os Estados Unidos já tomaram amplas medidas contra Moscou em resposta à guerra na Ucrânia.
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Questionado sobre a possibilidade do opositor ter sido assassinado, Biden disse que ainda não se sabe exatamente o que aconteceu, mas que “não há dúvida de que a morte de Navalny foi consequência de algo que Putin e seus capangas fizeram”. A declaração está alinhada com a do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que disse que a União Europeia (UE) “responsabiliza o regime russo por esta morte trágica”. Chefe da diplomacia americana, Antony Blinken também acusou o governo de ser “responsável” pela morte. A Chancelaria russa, por sua vez, rejeitou o que chamou de “acusações grosseiras”.
“Em vez de fazer acusações grosseiras, valeria mais dar demonstrações de moderação e aguardar os resultados oficiais da investigação médica”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores russo em comunicado. Porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov acusou os líderes ocidentais de reações “absolutamente inaceitáveis” e “histéricas”. A esposa de Navalny, Yulia, disse que considera Putin pessoalmente responsável pela morte de seu marido. Ela apelou à comunidade internacional para “se unir e derrotar este regime maligno e aterrorizante”.
Nesta sexta-feira, o Serviço Penitenciário Federal do país declarou que Navalny “sentiu-se mal após uma caminhada, perdendo quase imediatamente a consciência”. O órgão afirmou que as causas da morte estão sendo investigadas. Porta-voz do detento, Kira Yarmysh disse que ainda não tem “nenhuma confirmação” sobre o ocorrido.
‘Uma terrível tragédia’
Nas redes sociais, o presidente do Conselho Europeu também escreveu que “Alexei Navalny lutou pelos valores da liberdade e da democracia” e que, “por seus ideais, ele fez o sacrifício supremo”. A Casa Branca afirmou que, se confirmada, a morte do opositor seria “uma terrível tragédia”. À NPR, Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Biden, pontuou que “o longo e sombrio” histórico do Kremlin de assediar seus opositores “levanta questões reais e óbvias sobre o que aconteceu”. Já Blinken foi mais direto e culpou o governo.
Da Europa, o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, disse que o incidente é “uma enorme tragédia” para o povo da Rússia, enquanto o ministro das Relações Exteriores da Noruega, Espen Barth Eide, reforçou que Moscou carrega “uma grande responsabilidade” pelo caso. Na Ucrânia, o assessor presidencial Andriy Yermak declarou que Putin “teme qualquer competição”, e que “a vida dos russos não significa nada para ele”. “Todos que pedem por negociações [sobre a guerra na Ucrânia] devem perceber que ele não pode ser confiável. A única linguagem que ele entende é a força”, continuou.
Mais tarde, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que estava na Alemanha para a Conferência de Segurança de Munique, disse que Navalny “foi morto por Putin, assim como milhares de outros que foram torturados por causa deste único ser”. Ao lado dele, o chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, afirmou que os relatos da morte são “muito deprimentes”. Ele comentou que “é terrível a maneira como a Rússia mudou”. Sua predecessora como chanceler, Angela Merkel, que em 2020 conseguiu persuadir Putin a permitir que Navalny fosse levado a Berlim para tratamento após ser envenenado, expressou “grande pesar”.
“Ele foi vítima do poder repressivo do estado russo”, disse Merkel em um comunicado. “É terrível que uma voz corajosa e destemida que se levantou por seu país tenha sido silenciada por métodos terríveis.” Em seus 16 anos de mandato, Merkel foi considerada a única líder ocidental capaz de se comunicar com Putin. Apesar de suas tentativas repetidas de intimidá-la, ela insistia que ele seria mais perigoso se estivesse isolado e mantinha contato contínuo com ele. Durante sua visita final a Moscou como chanceler, em agosto de 2021, Merkel instou o presidente russo a libertar Navalny, chamando sua detenção de “inaceitável”.
O presidente Emmanuel Macron, da França, escreveu: “Rendo homenagem à memória de Alexei Navalny, seu compromisso e sua coragem”. O chanceler francês, Stephane Sejourne, ressaltou que Navalny “pagou com a vida a sua resistência a um sistema de opressão”. Ele expressou condolências à família do opositor e ao povo russo, pontuando que o caso é um lembrete sobre “a realidade do regime de Putin”. Na sequência, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, exigiu que sejam esclarecidas as circunstâncias da morte. O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez disse estar “chocado” com a ocorrência.
O presidente da Letônia, Edgars Rinkevics, disse que Navalny foi “brutalmente assassinado”. “Independentemente do que você pensa sobre Alexei Navalny como político, ele foi brutalmente assassinado pelo Kremlin. Isso é um fato e isso é algo que se deve saber sobre a verdadeira natureza do regime atual da Rússia”, escreveu Rinkevics nas redes sociais, oferecendo condolências aos familiares do opositor. Na Grã-Bretanha, o primeiro-ministro Rishi Sunak ressaltou que a morte de Navalny foi “terrível”.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN, disse que Navalny era “uma voz forte pela liberdade”. Já o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) disse, nesta sexta-feira, estar “indignado” com a morte. “Todos os presos ou condenados a diversas penas de prisão por causa do exercício legítimo de seus direitos, sobretudo do direito da liberdade de reunião e de expressão pacíficas, devem ser libertados imediatamente e todas as acusações contra eles devem ser abandonadas”, afirmou o ACNUDH em um comunicado.
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