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Por O Globo com agências internacionais — Washington

Os Estados Unidos vetaram, nesta terça-feira, o projeto apresentado no Conselho de Segurança da ONU pela Argélia, que exigia "um cessar-fogo humanitário imediato que deve ser respeitado por todas as partes”. Apesar disso, nos bastidores, Washington negocia uma resolução que propõe um cessar-fogo temporário “assim que possível” e alerta Israel contra a invasão da cidade de Rafah, no sul de Gaza, para onde mais de um milhão de pessoas fugiram, de acordo com uma cópia do documento obtido pelo New York Times.

O projeto de resolução da Argélia vinha sendo elaborado há três semanas e opunha-se ao “deslocamento forçado da população civil palestina”. Além disso, exigia a libertação de todos os reféns feitos pelo grupo terrorista Hamas e seus aliados durante o ataque de 7 de outubro, quando mais de 1.100 pessoas foram mortas em território israelense. Segundo o porta-voz das Forças Armadas de Israel, Daniel Hagari, 134 ainda permanecem em cativeiro no enclave palestino. Treze membros do conselho votaram a favor, e o Reino Unido se absteve.

— Não podemos apoiar uma resolução que poria em risco negociações sensíveis — afirmou Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos na ONU. — Não se trata, como afirmaram alguns membros, de um esforço americano para encobrir uma iminente incursão terrestre, mas, sim, de uma declaração sincera de nossa preocupação com o 1,5 milhão de civis que buscaram refúgio em Rafah.

Até agora, só os Estados Unidos rejeitaram pública e consistentemente as exigências de um cessar-fogo total nas resoluções da ONU sobre a guerra em Gaza, apoiando Israel na sua ofensiva contra o Hamas, que já deixou mais de 28 mil mortos desde o início da guerra — a maioria menores e mulheres. Washington já tinha anunciado que vetaria o projeto de resolução da Argélia que, diferentemente dos projetos anteriores, não condenava o ataque do grupo contra o Estado Judeu.

A resolução americana

A resolução dos EUA apoia um “cessar-fogo temporário em Gaza o mais rapidamente possível, com base na fórmula da libertação de todos os reféns”. Embora venha com várias ressalvas, a palavra “cessar-fogo” na resolução americana reflete a mudança do presidente Joe Biden em tornar mais evidentes as críticas à condução da guerra por Israel e sua planejada ofensiva na cidade de Rafah, que o comando israelense alega ser um dos redutos restantes do braço militar do Hamas.

O projeto de resolução diz que uma invasão de Rafah “teria sérias implicações para a paz e a segurança regionais” e não deveria ocorrer “nas atuais circunstâncias”. Mais de metade da população civil de Gaza foi forçada a se deslocar para a cidade por causa da guerra e das sucessivas ordens do Exército de Israel para a evacuação do norte do enclave. A maioria está amontoada em abrigos temporários e acampamentos de tendas, além de enfrentar um agravamento da crise humanitária com escassez generalizada de alimentos, água, medicamentos e combustível.

O projeto diz, ainda, que uma grande ofensiva terrestre em Rafah não só prejudicaria os civis, mas também poderia deslocá-los para países vizinhos. O Egito, que faz fronteira com Rafah, recusou-se a permitir que os palestinos fugissem para o seu território, temendo que um afluxo de refugiados representasse um risco para sua segurança e acabasse representando a expulsão definitiva de uma parte da população de Gaza, se israel depois bloquear seu retorno. Muitos moradores de Gaza são refugiados da Guerra de Independência de Israel, em 1948, e seus descendentes. Na semana passada, um relatório mostrou a construção de um local murado na Península do Sinai, no lado egípcio.

Na resolução americana, o apoio a um cessar-fogo temporário é estabelecido com condições pelo país, incluindo negociações bem sucedidas para libertar todos os reféns e o levantamento de todas as barreiras à distribuição de assistência humanitária em Gaza.

O funcionário dos EUA disse ao NYT que a proposta dos EUA ainda estava nos estágios iniciais de negociações com outros membros do Conselho. Além disso, não há “prazo” para a votação do projeto americano, disse um alto funcionário dos EUA na segunda-feira à AFP, acrescentando que não haveria “pressa”. Uma questão que pode atrapalhar sua aprovação é o termo "assim que possível", pois pode deixar a Israel o entendimento de quando seria conveniente deter suas operações em Gaza.

Uma fonte diplomática também afirmou à agência francesa que o texto dos EUA "do jeito que está... não pode ser aprovado". Alguns diplomatas também teriam questionado a intenção de Washington por trás da resolução: "Eles realmente querem essa resolução ou querem pressionar o outro lado a vetar?", em referência à probabilidade de um veto russo apenas por ser uma proposta americana.

Na análise de Richard Gowan, do Crisis Group, o simples fato de os Estados Unidos terem apresentado uma resolução contrária provavelmente "deixará Israel nervoso".

— Os EUA estão finalmente usando o Conselho de Segurança como uma plataforma para sinalizar os limites de sua paciência com a campanha israelense — disse à AFP.

Novo acordo

No domingo, Greenfield disse que Washington vetaria o projeto de resolução da Argélia, argumentando que um cessar-fogo imediato poria em risco a continuação das negociações sobre um novo acordo para devolver os reféns israelenses detidos em Gaza em troca de uma pausa nas negociações nos combates. Nesta terça, ela argumentou que "proceder com a votação hoje foi uma fantasia e uma irresponsabilidade":

As negociações para tal acordo no Cairo, na semana passada, entre autoridades de vários países, incluindo Israel e os Estados Unidos, não conseguiram chegar a um avanço. A nova proposta foi organizada em etapas e originalmente suspenderia os combates por três meses, permitindo a troca de reféns e prisioneiros palestinos, bem como a entrada de mais ajuda humanitária em Gaza.

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, descreveu a contraproposta do Hamas como "delirante", e no sábado o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman al-Thani, disse que as conversações foram "pouco promissoras" nos últimos dias. Nesta terça-feira, o chefe do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, desembarcou no Cairo para uma nova rodada de negociações. Mas, segundo o Haaretz, também não há sinais de avanço e a situação das negociações é difícil.

O rascunho é a visão dos Estados Unidos sobre o que o Conselho de Segurança poderia fazer para melhorar a situação em Gaza, disse uma autoridade americana, que falou sob condição de anonimato para discutir as negociações.

O responsável disse que a utilização do termo “cessar-fogo” no novo projeto de resolução foi feita pela primeira vez pelos Estados Unidos e estava alinhada com os esforços atuais do governo Biden para negociar um acordo.

Os Estados Unidos são o único membro do Conselho de Segurança que votou duas vezes contra resoluções que pediam um cessar-fogo. Tais resoluções são juridicamente vinculativas para os membros da ONU, embora os países por vezes as ignorem. O conselho não tem mecanismo de aplicação, mas pode penalizar os infratores com sanções. Washington absteve-se numa resolução aprovada no fim de dezembro, que apelava a “pausas humanitárias prolongadas”, mas não a uma suspensão permanente das hostilidades. (Com NYT e AFP)

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