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A guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, na Faixa de Gaza, voltou a evidenciar uma discussão que há décadas frequenta conversas, conferências, discursos e trabalhos acadêmicos: qual é o papel da ONU na resolução de conflitos, e também para evitá-los. Nos próximos dias, uma nova resolução pedindo um cessar-fogo em Gaza deve ser apresentada ao Conselho de Segurança, mas os EUA sinalizaram que devem, mais uma vez, vetar o texto.

Em entrevista ao GLOBO, por e-mail, a chanceler do Japão, Yoko Kamikawa, afirmou que seu país, ao lado do Brasil, defende mudanças no modelo das Nações Unidas, incluindo no formato do Conselho de Segurança, onde cinco nações — EUA, China, Rússia, França e Reino Unido — têm o poder de vetar qualquer resolução. Kamikawa estará na reunião de chanceleres do G20, que começa amanhã no Rio de Janeiro, onde promete apoiar algumas das prioridades do Brasil, que este ano preside o grupo, como o combate à pobreza e a proteção do meio-ambiente. Confira alguns dos principais momentos da conversa.

No ano passado, o presidente Lula e o primeiro-ministro Fumio Kishida concordaram em trabalhar conjuntamente para enfrentar as mudanças climáticas, a pobreza e a fome. Como o Japão acredita que o G20, este ano presidido pelo Brasil, poderá avançar nestas agendas?

A comunidade internacional está enfrentando múltiplas crises, o que torna cada vez mais importante para nós a cooperação no G20, o principal fórum para o diálogo internacional. No ano passado, o Japão, como presidente do G7, focou na integração dos resultados da reunião de líderes [do G7] de Hiroshima, da qual o presidente Lula participou, ao G20. Este ano, o Japão espera trabalhar em conjunto com o Brasil, presidente do G20, para uma cúpula de sucesso no Rio de Janeiro. O Brasil estabeleceu como prioridades a inclusão social, a luta contra a pobreza, a transição energética e o desenvolvimento sustentável. Precisamos enfrentar urgentemente a questão da desigualdade e da pobreza para que tenhamos um mundo onde a dignidade seja protegida. O Japão contribuiu ativamente para acabar com a pobreza no mundo. Sobre a reforma da governança global, o Japão considera urgente fortalecer as funções da ONU, incluindo a reforma do Conselho de Segurança. O número de membros permanentes e não permanentes deve ser expandido, para garantir que a composição do Conselho reflita as realidades da comunidade internacional.

Ministra das Relações Exteriores do Japão, Yoko Kamikawa — Foto: Ministério das Relações Exteriores do Japão / Divulgação
Ministra das Relações Exteriores do Japão, Yoko Kamikawa — Foto: Ministério das Relações Exteriores do Japão / Divulgação

Quais outros pontos o Japão pretende levantar nas reuniões?

O Japão prioriza algumas questões na reunião do G20: a construção de cadeias de suprimentos resilientes para comida e energia, questões de gênero, incluindo a agenda Mulher, Paz e Segurança (WPS), e a inteligência artificial. Notavelmente, como presidente do G7, o Japão formulou um plano concreto de ação sobre segurança alimentar, ao lado de países convidados, incluindo o Brasil, na reunião de Hiroshima no ano passado. Esse plano é consistente com as prioridades do Brasil. Sobre as questões de gênero, é necessário reduzir as diferenças e promover a participação das mulheres em todos os níveis de sociedade e economia. Ao mesmo tempo, a agressão contra a Ucrânia pela Rússia, um membro do G20, abalou as fundações da cooperação internacional do grupo. A Rússia continua com sua agressão apesar da condenação da maior parte dos membros do G20, e é imperativo que a Rússia retire suas tropas imediatamente. A ameaça nuclear russa, além do uso efetivo dessas armas, é absolutamente inaceitável. O Japão condena, de forma inequívoca, os ataques terroristas do Hamas de outubro passado, e se mostra preocupado com a piora da situação humanitária em Gaza. O Japão está em contato com os países que buscam a redução das tensões o quanto antes, se possível, cooperou com o Brasil para a adoção de uma resolução do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação em Gaza, e faz esforços vigorosos para enfrentar a situação através de sua assistência humanitária à Palestina. Vamos continuar com os esforços diplomáticos proativos para a libertação imediata dos reféns.

No final de janeiro, a senhora disse que seria interessante promover uma “relação mutuamente benéfica” com a China, e torná-la “construtiva e estável” através do diálogo. Como equilibrar essa abordagem com as tensões políticas envolvendo EUA e China?

Apesar de haver muitos desafios e questões entre Japão e China, como as tentativas unilaterais para mudar o status quo, pela força, dos Mares da China Oriental e do Sul da China, incluindo as Ilhas Senkaku, existem muitas possibilidades para nossos países. Japão e China são duas grandes potências, com grandes responsabilidades na garantia da paz e prosperidade da região e da comunidade internacional. Em novembro passado, o primeiro-ministro Kishida e o presidente Xi [Jinping] reafirmaram a intenção de promover, de forma ampla, as “Relações Mutuamente Benéficas Baseadas em Interesses Estratégicos Comuns”. Os dois confirmaram uma ampla determinação de moldar “relações construtivas e estáveis entre Japão e China”, pelas quais os dois lados acertaram o que precisa ser acertado, exigem ações responsáveis ao mesmo tempo em que defendem o diálogo, incluindo em questões preocupantes, e concordam em cooperar em temas de comum interesse. Com base nesta política, continuaremos a nos comunicar de maneira próxima, em todos os níveis, com a China. A estabilidade das relações entre EUA e China é extremamente importante para a comunidade internacional, e continuaremos a trabalhar com nosso aliado, os EUA, para exigir que a China cumpra suas responsabilidades como uma grande potência.

Um outro tópico sensível da política regional é a Coreia do Norte. Neste momento, a senhora vê alguma possibilidade de engajamento entre Tóquio e Pyongyang?

O Japão está diante de um dos mais severos e complexos ambientes de segurança desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Nos últimos dois anos, a Coreia do Norte realizou ações provocativas, como os repetidos lançamentos de mísseis balísticos, incluindo intercontinentais, com frequência sem precedentes e de novas maneiras. O desenvolvimento nuclear e balístico da Coreia do Norte é totalmente inaceitável, uma vez que constitui uma ameaça à paz e segurança não apenas do Japão, mas da comunidade internacional. O Japão busca normalizar suas relações com a Coreia do Norte, de acordo com a Declaração de Pyongyang de Japão e Coreia do Norte, de setembro de 2002, através da resolução de questões importantes, como os sequestros, as atividades nucleares e balísticas, assim como a resolução do passado lamentável. O primeiro-ministro Kishida declarou que deseja manter conversas de alto nível, sob sua supervisão direta, para realizar uma reunião de cúpula com Kim Jong-un, destinada a resolver temas de importância para Japão e Coreia do Norte. Como ministra das Relações Exteriores, eu liderarei os esforços diplomáticos para esse diálogo.

Coreia do Norte divulga imagens do lançamento de míssil balístico intercontinental

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Cidadãos de Brasil e Japão não precisam mais de vistos para viagens de curta duração aos dois países, A senhora acredita que será um novo marco histórico nesta relação, e que poderá levar a uma maior cooperação e fortalecimento de trocas culturais e comerciais?

Japão e Brasil têm laços fortes e longevos, como simbolizado no 130º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas entre nossos países, a ser celebrado no ano que vem. Esperamos que esse ano de comemorações seja um grande sucesso ao lado do Brasil, um parceiro global estratégico do Japão, e fortalecer ainda mais as relações bilaterais, incluindo em temas de negócios, turismo, cultura e esportes, além da confiança que foi construída por muitos de nossos antecessores, incluindo a comunidade nikkei no Brasil. Neste aspecto, com o intuito de promover ainda mais trocas pessoais, no ano passado, que marcou o 115º ano da imigração japonesa ao Brasil, o governo do Japão implementou uma exceção de vistos aos detentores de passaportes brasileiros para visitas de curta duração. Como o governo do Brasil adotou uma exceção aos cidadãos japoneses, as pessoas dos dois países agora podem se visitar sem visto. Tenho a confiança de que essa medida será um novo marco histórico nas relações bilaterais, e contribuirá para o desenvolvimento de nossos laços.

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