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Por — Londres

Que fique claro. O grupo das 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia (UE) e, este ano, pela primeira vez, a União Africana (UA), com seus 54 integrantes é uma instância de governança informal. Não faz mudança em tratados internacionais. Não tem tratados ele próprio. O que faz é dar impulso político às grandes questões globais. É nisso que o Brasil aposta para promover uma mudança no equilíbrio de poder das nações nos sistemas de decisões políticas e econômicas do planeta. Essa é uma das prioridades do governo até novembro, quando os líderes do G20 emitirão um comunicado conjunto com seus pontos de consenso, antes de a África do Sul assumir a presidência rotativa do bloco. É ali que se saberá o quanto o G20 sob comando brasileiro evoluiu, ou não.

Emaranhado de nações

A partir desta quarta-feira, os chanceleres do bloco começam a alinhavar o que será este consenso possível. Durante dois dias se sentarão à mesa na primeira reunião em nível ministerial do G20 da presidência brasileira na Marina da Glória, no Rio. Vários deles ainda terão conversas bilaterais às margens do encontro. A tarefa é complicada. O G20 nada mais é do que um grande emaranhado de nações que podem ter muito em comum, mas têm sobretudo diferenças.

E a geopolítica internacional neste momento mais racha do que une. Apesar da declaração desastrada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à guerra de Israel em Gaza, o Brasil tem uma vantagem em relação aos outros integrantes do bloco. É o único grande país que, normalmente, tem bom trânsito com todos. Não é o caso da Índia, que não se dá bem com a China, que tampouco se dá bem com indianos e americanos. O EUA também não se bicam com os chineses, muito menos com os russos, com quem a UE segue às turras.

— O Brasil é um país curioso, porque a gente não pertence a nenhum grupo muito específico dentro do G20. Somos um país grande dentro do G20, com mais capacidade de atuação do que Turquia, Argentina, Coreia do Sul, México. Um país grande que tem boas relações com os demais. Isso não acontece com os outros — apontou um negociador do governo brasileiro.

O Brasil tem outra vantagem que, para muitos, pode ser vista como fator adicional de pressão por resultados. Até 2025, a presidência do G20 terá passado por quatro nações em desenvolvimento seguidas. Veio de Indonésia, Índia, passa por Brasil e África do Sul (2025), antes de voltar aos Estados Unidos (2026). A cobrança é maior.

Os antagonismos são variados a depender da pauta, o que torna ainda mais complexa a missão de costurar os necessários consensos para que se tenha um resultado concreto ao final da gestão brasileira. E para o governo Lula, resultado concreto significa vitórias nas três áreas prioritárias que elegeu no início da sua presidência: combate à fome, à pobreza e às desigualdades; transição energética e combate às mudanças climáticas; e reformas da governança global.

Aliança contra a fome

Estaria de bom tamanho, na avaliação dos negociadores, que o país emplacasse a chamada “aliança global contra a fome”, instância que deve pautar políticas de sucesso a serem conduzidas por países em desenvolvimento para garantir crescimento econômico sem que se sufoquem por suas dívidas. Seria considerado êxito também avançar, ainda que de maneira declaratória (em discurso político unificado), no item financiamento à ação climática. O tema está sendo tratado em boa medida no âmbito da COP. Mas há um item em especial que não está, que é usar a regulamentação do sistema financeiro, dos bancos centrais, para incentivar o cumprimento das metas do acordo de Paris.

— Isso é algo que o Brasil trouxe para o G20, que não está na COP. Se puder ter, ainda que um passo inicial, já seria resultado — afirmou este negociador.

Na terceira frente, a da governança, embora não se vislumbrem mudanças imediatas no âmbito das instituições internacionais, a expectativa é de deixar clara a necessidade das reformas. Após esta primeira reunião de chanceleres no Rio de Janeiro, o G20 fará outro encontro desses ministros em Nova York, no mês que vem, e mais um às margens da Assembleia-Geral da ONU em setembro. Essa é reunião inédita, que acontecerá na sequência da Cúpula do Futuro, evento realizado pelas Nações Unidas.

— Ali, vamos fazer um call to action. O G20 tem a função de dar impulso político a grandes discussões. O que a gente quer é um impulso político que deixe claro que temos instituições internacionais defasadas e que, queiramos, ou não, é necessário reformá-las. Isso vale para as instâncias políticas e econômicas. Só com esse call to action já será mais do que bem sucedida nossa presidência — adiantou um integrante da presidência do G20.

São várias as chamadas linhas divisórias dentro do bloco. Em seus vários grupos de interesse, o Brasil tem agenda importante com os emergentes. E aí já existe ponto de atrito. Há, por exemplo, uma pauta desenvolvimentista dentro do G20 que se opõe de certa forma ao G7 (que reúne sete das nações mais ricas do mundo). Nessa tema, o Brasil e Índia seriam os principais atores pelo desenvolvimentismo. No entanto, o Brasil não se alia à Índia em outras questões, como a agricultura. Nesta seara, os indianos são considerados problemáticos.

Agenda geopolítica

Em temas mais sociais, como causas das mulheres, pautas de gênero, etnia, o Brasil é claramente ocidental. Está frequentemente com os europeus. E aí ficam isolados Turquia, Índia, África do Sul, Rússia, Arábia Saudita e China.

— O G20 não é uma organização internacional. É um mecanismo de governança. Se as instituições estivessem funcionando, quem sabe até o G20 nem fosse necessário — disse outro negociador do comunicado final.

A África pode ser grande aliada da pauta brasileira do combate à fome e à pobreza. É importante ter o continente como aliado neste ano, quando a África do Sul assumirá o comando do bloco.

Se na governança não se deve buscar mudanças imediatas significativas, ela entrou na pauta até de países mais resistentes. Os EUA admitiram conversar sobre o tema, o que não significa que vão concordar com o que quer que seja. O governo brasileiro insiste que o atual modelo já não atende às demandas internacionais.

Conflitos como o de Rússia e Ucrânia, que entra em seu terceiro ano, e o de Israel e Gaza ainda não encontraram solução no Conselho de Segurança na ONU. O chanceler russo, Serguei Lavrov, desembarca no Brasil dias depois de o maior opositor ao governo de Vladimir Putin aparecer morto em penitenciária de segurança máxima no Ártico, a um mês da eleição presidencial em seu país. A Organização Mundial de Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) são dominados por um conjunto restrito de países que não representam as economias de maior peso e tampouco atendem às demandas das nações em desenvolvimento.

Tudo isso ficou na pauta do segundo dia de reunião. No primeiro, os ministros se concentram na tumultuada agenda geopolítica. Farão uma avaliação da conjuntura internacional. Não há previsão de comunicado conjunto nesta fase, o que permite que, a portas fechadas, todos manifestem suas posições de atrito. Esta, para o Brasil, será a prova cabal de que as instituições, como estão, já não funcionam para responder às questões globais.

*Especial para O GLOBO

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