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Por O Globo — Santiago

"Ex-preso político e oficial das Forças Armadas venezuelanas". É assim que Ronald Leandro Ojeda Moreno, de 32 anos, se apresenta nas redes sociais. Ele foi sequestrado na quarta-feira no Chile, em um caso que levou o subsecretário do Interior do país, Manuel Monsalve, a solicitar um alerta internacional à Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol), além do reforço da guarda nas fronteiras. Apesar de se apresentar como militar, Ojeda foi rebaixado e expulso das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) há quase um mês por suposta ações "criminosas e terroristas" contra o presidente Nicolás Maduro e "traição ao país".

O sequestro aconteceu às 3h15 de quarta, em um prédio no município de Independência, zona norte de Santiago. Segundo as imagens das câmeras de segurança, três indivíduos uniformizados da Polícia de Investigações (PDI) com supostos coletes à prova de balas, capacetes escuros e rostos cobertos, chegaram ao seu apartamento no 14º andar e o levaram. Um quarto ficou com o zelador. Ojeda estava descalço e vestindo apenas cueca. No estacionamento é possível ver um carro cinza com farol azul.

Pouco depois das onze da manhã, a imprensa noticiou uma operação da PDI numa rodovia do município de Renca, a respeito de um carro cinza que havia sido abandonado por volta das cinco da manhã. Roupas policiais foram encontradas dentro do veículo, por isso foram vinculadas à denúncia de sequestro. Até então, a suposta vítima não havia sido identificada. O nome de Ojeda só foi divulgado após as três da tarde (horário local), quando a mídia chilena noticiou o caso, investigado pela Equipe de Crime Organizado e Homicídios (ECOH) da capital. Veja até agora o que se sabe:

Quem é Ronald Ojeda?

Ronald Ojeda é um ex-militar das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB). Foi preso por "traição" em março de 2017, enquanto aguardava sua promoção a capitão do Exército, segundo a imprensa venezuelana. Na época, era primeiro-tenente. Fugiu da Prisão Ramo Verde, no município de Los Teques de Miranda, em novembro, migrando posteriormente para o Chile.

Foi lá onde ele reapareceu, em 2021, após ter sido multado por violar as regras sanitárias em meio à pandemia da Covid-19. O então tenente morou por algum tempo em Quillota, na Região de Valparaíso. Posteriormente foi viver em Independência, em Santiago, onde foi sequestrado na quarta.

Ojeda fazia críticas severas ao governo Maduro nas redes sociais. Em novembro de 2022, ele chegou a protestar em frente ao palácio La Moneda, sede da Presidência do Chile, contra as negociações entre Santiago e Caracas e exigia a libertação dos presos políticos.

A administração do presidente Gabriel Boric não confirmou se Ojeda tem ou não o status de refugiado político, embora tenha sido relatado que ele o tem desde o final de dezembro de 2023. O subsecretário Monsalve disse que, por lei, essa é uma situação que não pode ser revelada.

Há um mês, o tenente e outros 32 soldados foram rebaixados e expulsos das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB). O Ministério da Defesa da Venezuela publicou uma lista na qual aparecia seu nome. Foi então explicado que os militares estavam envolvidos em ações “criminosas e terroristas” contra o presidente, Nicolás Maduro, e que enfrentavam acusações de “traição ao país”.

Uma hipótese lançada nas redes

Paralelamente às investigações, às 12h30 de quarta-feira, o ex-comissário de segurança venezuelano Iván Simonovis, agora opositor do governo de Maduro, publicou o nome de Ojeda — que ele identificou como tenente — em sua conta na rede social X (antigo Twitter). Foi ele quem apontou uma operação orquestrada pela Direção Geral de Contrainteligência Militar da Venezuela (DGCIM). Em sua postagem, ele anexou um vídeo, supostamente do momento em que o ex-militar foi levado de seu apartamento.

Somente às 20 horas o governo chileno confirmou o incidente. Isso foi feito por Monsalve, que sempre se referiu a Ojeda como um "cidadão venezuelano", sem mencionar sua condição de ex-militar. "Houve de fato um sequestro de um cidadão venezuelano durante as primeiras horas da manhã, como acredito que já seja de conhecimento público, na comuna de Independência".

Ele também enfatizou que o Ministério Público havia declarado a investigação secreta. "O que é importante aqui é a proteção da integridade da possível vítima e de sua família" disse. O subsecretário acrescentou: "Como muitas hipóteses foram levantadas, o governo também se encarrega de todas as hipóteses possíveis", sem mencionar quais eram elas.

Monsalve fez uma declaração cautelosa, dada de La Moneda após uma reunião com os ministros do Interior e da Justiça, Carolina Tohá e Luis Cordero, e com o ministro das Relações Exteriores, Alberto Van Klaveren. Ele também informou que um alerta internacional havia sido solicitado à Interpol e que as fronteiras do país haviam sido reforçadas. O governo chileno entrou em contato com as autoridades venezuelanas na quinta-feira.

Segundo a televisão nacional do Chile (TVN), Ojeda poderia ter sido retirado do país "através de diligências autorizadas ou não autorizadas", segundo fontes policiais. "O Governo pediu à polícia para reforçar o controlo das fronteiras, foi solicitado para levantar um alerta na Interpol. Além disso, foi solicitado, através do Ministério da Defesa, a ativação e o fortalecimento dos controles em diferentes pontos ao longo das fronteiras", disse Monsalve à emissora.

Sequestro incomum

Os sequestros no Chile, do tipo extorsivo, têm aumentado, promovidos principalmente por gangues transnacionais. Enquanto na Região Metropolitana de Santiago, entre 2016 e 2020, foram registrados entre seis e oito casos por ano, em 2021 foram 26. O salto foi em 2022, quando foram registrados 46 casos. Em novembro de 2023, foram 45, de acordo com informações da PDI.

Um desses casos, embora tenha ocorrido em Rancagua, uma cidade localizada a cerca de 85 quilômetros de Santiago, foi o sequestro em plena luz do dia do empresário metalúrgico chileno Rudy Basualdo, de 50 anos, que foi libertado em 10 de novembro após 40 horas e um pagamento de um US$ 1 milhão. Sete pessoas foram presas pelo sequestro, a última delas na terça-feira. O promotor de Rancagua, Javier Von Bischoffshausen, apontou o dedo para Los Piratas del Tren de Aragua, uma organização criminosa que "tem sede no exterior, especificamente na Venezuela".

Em 13 de fevereiro, houve um outro caso. A polícia prendeu dois suspeitos envolvidos no sequestro extorsivo de dois venezuelanos em Renca, que foram mantidos em cativeiro por 30 horas. Os sequestradores exigiram US$ 50 mil (cerca de R$ 250 mil), enviando mensagens para parentes no Chile e na Venezuela.

Até o momento, o caso de Ojeda Moreno tem sido diferente, o que explica o fato de o governo e a Procuradoria Geral da República terem se alinhado ao afirmar que não descartam nenhuma hipótese. Mas, em particular, as autoridades estão considerando pelo menos quatro: uma delas é uma possível intervenção internacional, mas no mesmo nível de um possível sequestro com pedido de resgate, um sequestro relacionado a uma gangue ou até mesmo um sequestro por conta própria.

Ao contrário de outros casos de sequestro, quase 48 horas após o relato, nenhum resgate foi exigido. No entanto, há situações em que essas solicitações ocorreram vários dias depois. O local, um apartamento no 14º andar, e o horário do sequestro (nas primeiras horas da manhã), e não na rua, como na maioria das situações em que as vítimas são levadas à força para um veículo, também são notáveis. É também a primeira vez, desde o aumento desses crimes, que os sequestradores estão vestidos como policiais.

Esforços diplomáticos

Na quinta-feira, pouco depois das 14h (horário local), o governo chileno fez referência pela segunda vez ao caso Ojeda. O subsecretário Monsalve voltou a fazê-lo. O governo, disse ele, havia apresentado uma queixa e seria parte no caso. Cautelosamente, ele voltou a se referir ao sequestro de "um cidadão venezuelano". E insistiu que, "em crimes graves, o governo está aberto a todas as hipóteses".

Monsalve também informou que, pela manhã, realizou uma reunião por videoconferência com Gabriel Boric, que está de férias, e com os ministros do Interior, das Relações Exteriores e da Justiça. "Obviamente, o presidente considera isso uma prioridade", disse ele. Pouco antes, houve outra reunião com o promotor nacional, Ángel Valencia; o promotor Héctor Barros, que coordena a equipe contra o Crime Organizado e Homicídios; e o alto escalão da Polícia de Investigação.

O governo deu um passo adiante, confirmando que foram tomadas medidas diplomáticas com as autoridades venezuelanas por meio do embaixador chileno na Venezuela, Jaime Gazmuri. E que a polícia também entrou em contato com suas contrapartes. "Nosso embaixador já está tomando providências para conversar com o vice-ministro para as Américas do Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, e temos contato em todos os níveis: governo, polícia e por meio dos promotores correspondentes", disse Camila Vallejo, porta-voz do ministério. (Com El País)

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