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Por , Em El País

“Temos um inimigo. Precisam nos ajudar a lutar contra o diabo, contra o Hamas, a lutar contra os terroristas”, diz Ilana Shimon, de 49 anos, em sua cozinha, cercada por alguns de seus dez filhos. Ilana, o marido Yehuda e os filhos vivem no assentamento de Havat Gilad, nas cercanias de Nablus, na Cisjordânia.

Desde o 7 de outubro, dia em que o Hamas assassinou mais de 1.200 pessoas em Israel, a violência dos colonos, assim como a impunidade e o apoio que recebem de parte do aparato de Estado aumentaram, denunciam a ONU e organizações de direitos humanos israelenses, como B’Tselem e Peace Now.

Em quatro meses e meio, as tropas de Israel mataram quase 30 mil palestinos. E a convocação de mais de 300 mil reservistas israelenses fez com que muitos colonos vestissem o uniforme militar. Em Havat Gilat são 40, quase a metade dos homens adultos do assentamento.

A família Shimon é parte do meio milhão de judeus que vivem ilegalmente na Cisjordânia (há outros 100 mil em Jerusalém Leste). Eles negam as acusações de grupos de direitos humanos e insistem que a violência por parte de israelenses é uma resposta aos atos praticados por palestinos.

— Há uns 500 mil judeus na Judeia e na Samaria (denominação oficial israelense da Cisjordânia) e pode ser que até uns cem participem desses acontecimentos. Não é um número representativo, mas recebe a atenção dos meios de comunicação — diz referindo-se aos ataques de colonos David Haivri, que morou perto do assentamento de Tapuah por três décadas antes de se mudar para Jerusalém.

Israel diz que é preciso fechar a agência da ONU para refugiados devido à acusação de que 12 dentre seus 33 mil funcionários participaram dos ataques de 7 de outubro. Perguntado sobre se esses 12 são representativos, Haivri diz que o movimento dos colonos não é uma entidade oficial, diferentemente da agência, que recebe fundos internacionais.

Colonos judeus de um assentamento ilegal próximo a Tekoa, na Cisjordânia — Foto: Tamir Kalifa/The New York Times
Colonos judeus de um assentamento ilegal próximo a Tekoa, na Cisjordânia — Foto: Tamir Kalifa/The New York Times

Com frequência, os colonos invadem campos e arrancam oliveiras dos palestinos ou os impedem de colher as azeitonas.

— Pode ser que seja verdade. E daí? Eles cortam as nossas. Os palestinos sempre estão chorando. Demos tudo a eles, estradas, eletricidade, água. Tudo pago com os nossos impostos — diz Yehuda Shimon.

Sanções internacionais

Numa medida inédita, os EUA impuseram sanções no início de fevereiro contra quatro colonos, que consideraram extremamente violentos. Dias depois, o Reino Unido fez o mesmo com outros quatro. A França anunciou que punirá 28 colonos. E agora a Espanha pensa em tomar medidas semelhantes.

Havat Gilad foi fundado por Moshe Zar, membro do grupo Jewish Underground, que em 1980 perpetrou um atentado contra o prefeito de Nablus. O grupo é considerado terrorista por Israel. O assentamento surgiu de uma vingança pelo assassinato do filho de Zar, Gilad, cometido por palestinos.

— Se eles vêm nos matar, temos o direito de matá-los antes — afirma Ilana Shimon.

Em 2018, o rabino da comunidade, Raziel Sevach, foi assassinado e isso abriu o caminho para que o governo de Israel pudesse legalizar Havat Gilad, mas seis anos depois isso não ocorreu. Ainda assim, o assentamento vive de fundos captados da iniciativa privada.

— Cremos que Deus nos entregou esta terra — afirma Ilana.

Cerca de cem famílias vivem em Havat Gilad, situado numa colina cercada de povoados palestinos.

A ONG B’Tselem documentou o deslocamento forçado de 151 famílias palestinas da Cisjordânia devido aos ataques de colonos, que atuam protegidos por militares.

O porta-voz da ONG, Dror Sadot, diz que sanções internacionais contra indivíduos são ineficazes:

— Estamos diante da violência de Estado, que não pune os colonos.

A ONG Peace Now diz que o ano passado foi ruim para Israel, mas bom para os colonos. Segundo a ONG, as cifras que movimentam mostram que foram criadas “condições sem precedentes” para eles na Palestina à sombra do governo de Benjamín Netanyahu, desde dezembro de 2022.

Novos assentamentos

Nos 12 meses de 2023, segundo dados revelados semana passada, foram criados 26 novos assentamentos ao passou que 21 comunidades palestinas foram tiradas de sua terra. Também se anunciou e autorizou a construção de 12.349 casas na Cisjordânia, foram feitas mudanças administrativas para a anexação de mais terras e destinado um orçamento para estradas.

Somado a isso, após o ataque de três palestinos a uma dessas colônias no mês passado, Israel anunciou um plano para construir mais 3.000 novas casas na Cisjordânia.

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