O primeiro-ministro da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mohammad Shtayyeh, anunciou nesta segunda-feira a renúncia de seu governo, que controla parte da Cisjordânia ocupada. A decisão ocorre em meio à crescente pressão dos EUA e dos países árabes para uma reformulação da entidade, que busca estabelecer um papel para si mesma no governo dos territórios palestinos no pós-guerra Israel x Hamas.
— Apresentei a demissão do governo ao presidente [Mahmud Abbas] em 20 de fevereiro e a submeto hoje por escrito — disse Shtayyeh, que assumiu o cargo em 2019, explicando que é necessário levar em conta “a realidade emergente na Faixa de Gaza e a escalada na Cisjordânia e Jerusalém”. — A próxima etapa e os seus desafios exigem novos arranjos governamentais e políticos.
Abbas aceitou a renúncia, mas pediu que Shtayyeh permaneça no cargo até a formação de um novo governo. Fontes ouvidas pelo jornal israelense Haaretz indicaram que o presidente palestino pretende aproveitar o anúncio para impulsionar iniciativas como parte das reformas do “pós-guerra” dentro da ANP. Desde o início do conflito em Gaza, em 7 de outubro, Abbas tem sido criticado por sua impotência diante dos bombardeios no enclave e do aumento da violência na Cisjordânia.
Em comentários feitos horas depois do anúncio, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, não comentou diretamente a renúncia do premier, mas fez elogios aos planos de reforma sinalizados pela ANP.
— Achamos que essas medidas são positivas. Acreditamos que são um avanço importante para alcançar uma Gaza e uma Cisjordânia reunificadas sob a Autoridade Palestina — acrescentou Miller. Recentemente, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, instou a ANP a exercer controle sobre a Faixa de Gaza após a guerra.
Manifestações pró-Palestina voltam às ruas no mundo
Planos para o pós-guerra
Em entrevista à AFP na semana passada, o opositor Nasser al-Kidwa, ex-chefe da diplomacia palestina, afirmou que um “divórcio amistoso” de Abbas deveria ocorrer. Ele defendeu a renovação da liderança palestina e sugeriu que o Hamas “será enfraquecido” após o conflito. Em janeiro, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, propôs um plano pós-guerra no qual Gaza seria controlada por “entidades palestinas”.
— O Hamas não governará Gaza, e Israel não governará os civis de Gaza — assegurou Gallant ao apresentar seu plano à imprensa. — Os habitantes de Gaza são palestinos. Consequentemente, as entidades palestinas estarão encarregadas [da gestão], na condição de que não haja nenhuma ação hostil ou ameaça contra o Estado de Israel — acrescentou.
Já na última quinta-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apresentou os seus planos para o pós-guerra em Gaza. Netanyahu sugeriu a instalação de “autoridades locais” não afiliadas ao terrorismo para substituir o Hamas e administrar os serviços locais, o fechamento da agência de assistência da ONU para refugiados palestinos e a “liberdade indefinida” para atuação do Exército no enclave.
O primeiro-ministro se limitou a dizer que não permitirá que a ANP volte a governar Gaza, embora em alguns momentos tenha afirmado que Israel não aceitará a administração do órgão em sua forma atual, indicando que o país poderia conviver com a autoridade caso ela seja reformulada. Antes do Hamas assumir o controle da região, em 2007, o enclave era liderado pelo Fatah, partido político associado à ANP. (Com AFP e Bloomberg)
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY