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Por — Moscou

A Rússia afirmou nesta terça-feira que um possível envio de soldados para a Ucrânia "não convém" ao Ocidente, em resposta a uma declaração feita na véspera pelo presidente francês, Emmanuel Macron, de que não descartava um potencial envio de tropas ocidentais para auxiliar Kiev no conflito. A fala causou inquietação na própria França e entre líderes europeus, que apesar do apoio financeiro e militar a Kiev, rejeitam o envio de forças terrestres. A Otan e o governo dos EUA, principal integrante da aliança militar, também afastaram a ideia.

— Não convém a esses países de forma alguma, e eles devem estar cientes disso — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, aos repórteres nesta terça-feira.

Segundo Peskov, o simples fato de Macron ter levantado essa possibilidade supõe "um novo elemento muito importante" na guerra, que completou dois anos no último fim de semana.

A fala de Macron ocorreu em uma conferência de apoio à Ucrânia em Paris, no momento em que aliados de Kiev tentam manter os níveis de apoio, especialmente militar, contra a invasão russa. As tropas ucranianas têm enfrentado um estoque de munições cada vez mais escasso — um dos grandes "calcanhares de Aquiles" do apoio ocidental a Kiev.

Na conferência, o presidente francês afirmou que as posições de Moscou estão se "fortalecendo" no front ucraniano e em nível interno, citando o caso de Alexei Navalny, um dos principais opositores do presidente Vladimir Putin, que morreu em uma prisão no Ártico no dia 16. Macron declarou que fará "tudo que for necessário para garantir que a Rússia não vença essa guerra", uma vez que a derrota de Moscou, na visão do líder da França, "é indispensável para a segurança e a estabilidade na Europa".

— Não há consenso hoje para enviar tropas terrestres, mas nada deve ser excluído — afirmou. — A Rússia está adotando uma atitude mais agressiva não apenas na Ucrânia, mas contra todos nós em geral.

Prudência no Ocidente

Logo após a reunião, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, cujos detratores o consideram próximo de Moscou, disse que não havia consenso sobre o envio de tropas, mas que há países "prontos para mandar seus próprios soldados para a Ucrânia". Mas, nesta terça-feira, Alemanha, Espanha, Polônia, Reino Unido e República Checa, que também fazem parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), manifestaram oposição à medida, além dos próprios EUA, que lideram a aliança.

"O presidente [Joe] Biden deixou claro que os EUA não enviarão tropas para lutar na Ucrânia", disse, em comunicado, a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson. Segundo ela, Biden acredita que o "caminho para a vitória" é o Congresso aprovar a ajuda militar bloqueada "para que as tropas ucranianas tenham as armas e munições de que necessitam para se defender" contra a invasão russa, referência ao pacote bilionário de US$ 60 bilhões parado na Câmara.

— Acho que as consequências de não agir na Ucrânia são terríveis a cada dia. Eu tenho conversado com cada um de nossos parceiros do G7, eles estão preocupados — disse Biden, nesta terça, antes de um encontro com líderes do Congresso na Casa Branca.

Em Freiburg, o chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que "o que foi acordado no início entre nós também se aplica ao futuro, ou seja, não haverá soldados em solo ucraniano enviados por países europeus ou países da Otan".

À AFP, uma autoridade da Otan afirmou nesta terça-feira que a aliança e seus membros "estão prestando assistência sem precedentes à Ucrânia" , mas não há planos para enviar tropas de combate para o terreno na Ucrânia".

— Precisamos lembrar do que é essa guerra: uma guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia, violando abertamente as leis internacionais — disse um representante da Otan à CNN. — De acordo com as leis internacionais, a Ucrânia tem o direito à autodefesa, e nós temos o direito de apoiá-los. E é isso que os aliados da Otan fazem e continuarão fazendo.

Já o premier da Suécia, Ulf Kristersson, cujo país está prestes a ingressar na Otan após sinal verde da Hungria na segunda-feira, disse nesta terça que o envio de tropas "não está em pauta no momento". Kristersson enfatizou que a Suécia atualmente concentra no envio de "equipamentos avançados" para Kiev depois que seu governo anunciou um novo pacote de ajuda militar no valor de US$ 682 milhões em 20 de fevereiro.

O chanceler da Hungria, Péter Szijjártó, foi ao Facebook expressar sua oposição à ideia, de certa forma coerente com a posição local sobre a ajuda à Ucrânia: recentemente, Budapeste barrou, até o último minuto, um pacote de € 50 bilhões a Kiev centrado em medidas para garantir a liquidez do país, mas cedeu após longas e difíceis negociações em Bruxelas.

"Ouvimos e vemos as notícias sobre o encontro de ontem [segunda] à noite em Paris. A posição da Hungria é clara e sólida: não estamos dispostos a enviar armas nem soldados para a Ucrânia. A guerra não deveria ser aprofundada e ampliada, mas sim encerrada", disse Szijjártó.

'Inevitabilidade'

Quando questionado se a presença de tropas dos países membros da Otan em Kiev levaria a um confronto direto entre a aliança militar ocidental e a Rússia, o porta-voz russo respondeu:

— Nesse caso, teríamos que falar não de uma possibilidade, mas da inevitabilidade [de tal confronto]. — disse Peskov, alertando: — E esses países têm [...] que se perguntar se [o confronto com a Rússia] é de seu interesse e, acima de tudo, se é do interesse de seus cidadãos.

Pelo Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte, pilar fundamental da Otan, um ataque contra um país significa um ataque contra todos os demais integrantes. Esse mecanismo foi acionado apenas uma vez em sete décadas, após os atentados do 11 de Setembro de 2001, e existe o risco de que, ao enviar militares à Ucrânia, a aliança se veja envolvida em um conflito direto contra a Rússia, dona do maior arsenal nuclear do planeta. Segundo analistas militares, já existem soldados e oficiais ocidentais dentro da Ucrânia — algo que até o Pentágono reconheceu —, mas exercendo funções de supervisão e de inspeção dos armamentos enviados ao país. Ao menos pela versão oficial.

Dentro da França, o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, chamou de "loucura" a ideia de Macron, enquanto a extrema direita disse que o presidente "perdeu a cabeça". O posicionamento unido contra a proposta forçou a realização de um debate parlamentar sobre o apoio à Ucrânia.

Perante a Assembleia Nacional, o chanceler francês, Stéphane Séjourné, defendeu o chefe de governo afirmando que países ocidentais deveriam "pensar em novas ações para apoiar a Ucrânia".

— Algumas dessas ações poderiam requerer uma presença em território sem ultrapassar qualquer limite de beligerância — afirmou.

Para Rym Momtaz, pesquisadora do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), "não estamos falando de soldados na linha de frente do combate, mas de atividades específicas longe do front".

Paralelamente à conferência de Paris na segunda-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, criticou a União Europeia por ter fornecido apenas 30% do milhão de projéteis de artilharia que havia prometido.

Além das questões referentes ao apoio europeu, crescem as dúvidas sobre a viabilidade do apoio em longo prazo dos EUA a Kiev, especialmente com a possibilidade de um retorno de Donald Trump à Casa Branca e enquanto um novo pacote de ajuda permanece bloqueado no Congresso.

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