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Por e — Kiev e Vilnius

Enquanto os militares russos lançavam sua ofensiva contra a cidade ucraniana de Avdiivka, as forças da Ucrânia notaram uma mudança de tática ao ver coluna após coluna de soldados russos serem devastadas por disparos de artilharia. Os russos dividiram suas formações de infantaria em unidades menores para evitar serem alvejadas, e os ataques aéreos foram intensificados para derrubar as defesas da cidade.

Esse foi um dos principais ajustes feitos pelos russos para ajudá-los a mudar suas sortes após um primeiro ano desastroso. Mas essas mudanças foram deixadas em segundo plano por um outro detalhe: os militares pareciam mais dispostos a aceitar grandes perdas de homens e equipamentos, mesmo para pequenos avanços.

As forças russas têm um limite diferente para a dor, um representante de um governo ocidental declarou este mês, assim como uma visão pouco ortodoxa sobre o que pode ser considerado aceitável em termos de perdas militares. Centenas de milhares de soldados russos e ucranianos foram feridos ou mortos desde o começo da invasão russa, incluindo dezenas de milhares na batalha pela cidade de Bakhmut, no ano passado. Outra cidade ao sul, Marinka, foi tomada pelos russos em janeiro, depois de combates e perdas pesadas.

Comandante do exército ucraniano admite recuo em cidade que Rússia diz ter conquistado

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Avdiivka estava entre as de custo mais elevado. O número de mortos russos que circula entre analistas militares, blogueiros militares russos e integrantes do governo ucraniano sugere que foram perdidas mais vidas na tomada da cidade do que em 10 anos de guerra no Afeganistão, nos anos 1980.

Mas números de mortos são difíceis de verificar — inflados pelo lado que provoca essas mortes e reduzidos pelo lado que as sofre —, tornando o custo real da guerra desconhecido. O número oficial de vítimas soviéticas no Afeganistão, de 15 mil, é considerado subestimado. Um blogueiro militar disse que os russos perderam 16 mil homens em Avdiivka, algo que parece impossível de confirmar.

— Apesar das duras perdas em Avdiivka, eles ainda têm uma vantagem numérica ao longo das linhas de frente e podem manter os ataques em várias direções — disse Rob Lee, pesquisador do Centro de Pesquisas de Política Externa, nos EUA.

A lenta marcha adiante russa ocorre no momento em que as nações europeias tentam incrementar o apoio à Ucrânia e fortalecer suas próprias proteções contra uma potencial agressão russa. Na segunda-feira, a Otan eliminou a última barreira para aprovar a entrada da Suécia, cerca de um ano depois da adesão da Finlândia, uma expansão com a qual a organização pretende desafiar as esperanças de Vladimir Putin de abalar a união de seus adversários.

No domingo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que 31 mil soldados de seu país morreram na luta contra a Rússia. Seus comentários chamaram atenção pela raridade com que são feitos; participantes de guerras raramente falam em número de vítimas, e analistas militares dizem que eles são provavelmente mais altos.

Controle do Donbass

Desde o início da invasão, a Rússia está disposta a pagar um preço particularmente elevado para avançar na área no Leste da Ucrânia conhecida como Donbass, onde está Avdiivka. Partes da região russófona estão ocupadas por aliados de Moscou desde 2014, e, ao justificar a invasão, Moscou alegou que defendia a população etnicamente russa, dizendo que ela queria fazer parte da Rússia. Para especialistas, tomar o controle total do Donbass é o mínimo que o governo russo precisa fazer para declarar uma vitória em casa. Isso talvez explique a intenção de aceitar tantas baixas.

Avdiivka tem sido estratégica e simbólica para a propaganda russa por sua proximidade com Donetsk, a maior cidade do Donbass, ocupada pelos aliados de Moscou desde 2014. Ocupar Avdiivka afastaria a artilharia ucraniana da área, reduzindo as mortes e a pressão sobre as linhas de suprimentos.

A intenção do Kremlin para disparar mais artilharia, juntar mais soldados e contar com uma Força Aérea mais capaz e maior permitiu gradualmente à Rússia mudar o rumo contra as forças de defesa da Ucrânia na cidade. O alto número de feridos e mortos foi um efeito colateral de uma estratégia que conseguiu seus objetivos, apesar de tantas baixas e equipamentos perdidos, no momento em que a ajuda militar e os estoques de munição da Ucrânia se reduzem.

Pelo menos por enquanto.

'Mil cortes'

O analista militar russo Ruslan Pukhov escreveu na semana passada que o ataque em Avdiivka foi parte de uma estratégia mais ampla dos russos para pressionar as forças ucranianas ao longo dos 960 km de linha de frente para exaurir o inimigo “através de mil cortes”, referência a uma forma de tortura da China imperial que é autoexplicativa.

“Essa estratégia, contudo, é custosa à Rússia em termos de perdas, que pode levar ao esvaziamento de suas forças”, disse Pukhov, em uma revista de assuntos contemporâneos. “Isso pode dar ao lado ucraniano a iniciativa mais uma vez.”

Mas a maioria dos analistas está emitindo opiniões pessimistas sobre as perspectivas da Ucrânia para 2024 se o país não receber a ajuda americana. Com a guerra entrando em seu terceiro ano, os dois lados têm dificuldades para encontrar homens para lutar com o mesmo nível de intensidade. A maior população da Rússia, de 144 milhões de pessoas, três vezes o tamanho da Ucrânia, lhe dá uma vantagem significativa.

Mas a escala das perdas russas parcialmente negou o impacto dessa aritmética.

A decisão do Kremlin de mobilizar até 300 mil homens em setembro de 2022, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, chocou a nação, segundo pesquisas. Centenas de milhares de homens já tinham fugido do país com o início da guerra, ameaçando a imagem de normalidade cultivada por Putin.

Desde então, o governo tenta adiar uma nova rodada de mobilizações. Em vez disso, incrementou os incentivos financeiros e legais para atrair detentos, devedores, imigrantes e grupos socialmente vulneráveis para as linhas de frente para lutar como voluntários. Também começou a aplicar as leis sobre o serviço militar obrigatório para homens jovens.

Em uma publicação no Telegram, no dia 18 de fevereiro, um blogueiro militar citou uma fonte anônima para afirmar que, desde outubro, as forças russas sofreram 16 mil baixas “insubstituíveis” e perderam 300 veículos blindados em Avdiivka. As forças ucranianas sofreram entre 5 mil e 7 mil baixas “insubstituíveis”, escreveu o blogueiro Andrei Morozov. As alegações não podem ser confirmadas de forma independente.

Morozov decidiu publicar os números sobre os mortos para responsabilizar os comandantes russos pelo que ele considera ser uma campanha desnecessariamente sangrenta. A publicação foi deletada dois dias depois, após ter sofrido, segundo ele, uma pressão para fazê-lo vinda de comandantes militares e propagandistas do Kremlin. Morozov foi encontrado morto horas depois de publicar mensagens sobre a pressão que sofreu.

Forças de reserva

Apesar das perdas russas em Avdiivka, funcionários do governo dos EUA acreditam que a Rússia continuará a pressionar as forças russas ao redor de várias partes da linha de frente, na esperança de que as unidades ucranianas eventualmente cedam. As derrotas e a moral em baixa da Ucrânia pode dar às formações russas uma chance para explorar a situação.

O que os militares russos não têm, contudo, são forças de reserva que possam atacar as linhas de defesa enfraquecidas da Ucrânia em Avdiivka. Agências de inteligência dos EUA disseram que o comando militar russo esperava criar uma força capaz de obter avanços rápidos, mas que o plano foi arquivado pela necessidade de reforçar as linhas defensivas durante a contraofensiva ucraniana do ano passado.

Atacar posições entranhadas significa riscos maiores. As tropas estão expostas, e retirar os feridos e mortos é mais difícil do que para aqueles que estão nas trincheiras. Forças ucranianas ficaram alarmadas com o número de soldados russos vistos ao redor dos campos de batalha. Mesmo assim, as forças da Rússia seguem vindo, e, com as munições em baixa, os ucranianos estão mais seletivos sobre quando usá-las. Um comandante de unidade disse que pediu um apoio de artilharia contra um grupo de russos e ouviu como resposta a alegação de que não havia militares inimigos suficientes para garantir que seriam atingidos.

— Você realmente não pode pará-los — disse o comandante, sob condição de anonimato. — Enquanto os que vêm à frente estão se movendo, eles estão trazendo outros por trás.

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