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Por O Globo e agências internacionais — Washington

O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou que a morte de dezenas de pessoas durante a caótica entrega de alimentos na Faixa de Gaza vai complicar as negociações sobre um cessar-fogo no território palestino, que, segundo ele, poderia ser anunciado já na próxima segunda-feira. Biden não quis apontar responsabilidades pelas mortes, afirmando apenas que “há duas versões” diferentes para o que aconteceu, vindas do governo de Israel e do grupo terrorista Hamas.

— Nós estamos verificando isso agora mesmo, há duas versões diferentes sobre o que aconteceu. Não tenho uma resposta ainda — disse Biden a jornalistas na Casa Branca.

Quando questionado se as mortes, que segundo as fontes do Hamas poderiam passar de 100, afetariam as negociações sobre um cessar-fogo, ele foi sucinto, dias depois de afirmar que uma pausa nos combates ocorreria até o começo da próxima semana.

— Eu sei que elas vão — respondeu a uma jornalista da CNN. — Mas as esperanças ainda são eternas. Eu estava conversando pelo telefone com pessoas da região. E ainda estou. Provavelmente [não haverá um cessar-fogo] na segunda-feira, mas sigo esperançoso.

Forças Armadas de Israel divulgam vídeo mostrando multidões durante entrega de ajuda que deixou mortos

Forças Armadas de Israel divulgam vídeo mostrando multidões durante entrega de ajuda que deixou mortos

Na madrugada desta quinta-feira, dezenas de pessoas morreram durante uma caótica entrega de alimentos nos arredores da Cidade de Gaza, antes da guerra a maior do território palestino. Segundo as autoridades do Hamas e da Autoridade Nacional Palestina, os militares israelenses dispararam contra a multidão que tentava se aproximar dos caminhões com ajuda humanitária que haviam atravessado o posto de fronteira de Kerem Shalom, deixando 112 mortos e mais de 700 feridos.

Já o Exército israelense afirmou que os soldados fizeram disparos para o ar e contra as pernas de alguns dos palestinos que tentavam se aproximar, em “legítima defesa”. Em uma publicação no X, o antigo Twitter, os militares afirmaram que as mortes, chamadas pelo governo de “tragédia”, foram provocadas pelo “empurra empurra” e pelos caminhões, que atropelaram dezenas de pessoas ao tentar fugir da confusão.

“Nós lamentamos a perda de vidas inocentes e reconhecemos a dura situação humanitária em Gaza, onde palestinos inocentes apenas tentam alimentar suas famílias”, disse, em comunicado, um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. “Isso reforça a importância da expansão e da manutenção do fluxo de assistência humanitária para Gaza, incluindo através de um potencial cessar-fogo temporário.”

Em entrevista coletiva, Matthew Miller, afimou que "muitas pessoas morreram hoje", e que isso mostra o grau de desespero na Faixa de Gaza.

— Apenas com as imagens aéreas você pode olhar e concluir que a situação é incrivelmente desesperadora. As pessoas estão cercando esses caminhões porque estão famintas, porque precisam de comida, porque precisam de remédios e outras assistências. E isso mostra que precisamos fazer mais para levar ajuda humanitária — disse Miller.

Condenações

As mortes causaram uma onda de condenações pelo mundo, além dos pedidos para que um cessar-fogo imediato, que permita o envio de ajuda humanitária à população de Gaza, seja adotado.

O chefe da diplomacia da União Europeia, Joseph Borrell, disse no X que estava "horrorizado com a notícia de mais uma carnificina entre civis em Gaza desesperados por ajuda humanitária", acrescentando que as mortes são "totalmente inaceitáveis". "Privar as pessoas de ajuda alimentar constitui uma violação grave do Direito Internacional Humanitário (DIH)", finalizou Borrell.

O Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita emitiu um comunicado no qual “expressa a forte condenação e denúncia aos ataques contra civis indefesos no Norte da Faixa de Gaza, que resultaram na morte de dezenas e em centenas de feridos, em resultado do ataque pelas forças de ocupação (Israel)”.

O texto defende ainda o cumprimento das leis internacionais e a necessidade de um cessar-fogo imediato.

No X, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou que, após as mortes desta quinta-feira, vai suspender todas as compras de armas de Israel, e ainda acusou o país de "genocídio" e fez referência ao Holocausto nazista de judeus na Segunda Guerra Mundial.

"Pedindo comida, mais de 100 palestinos foram assassinados por Netanyahu. Isso se chama genocídio e lembra o Holocausto, mesmo que os poderes mundiais não gostem de reconhecer isso. O mundo deve bloquear [Benjamin]Netanyahu[premier de Israel]. A Colômbia suspende toda a compra de armas de Israel", escreveu Petro, que desde o início da guerra em Gaza não tem economizado nas críticas a Israel. Não se sabe até que ponto a decisão do presidente colombiano terá algum efeito, uma vez que em outubro do ano passado Israel havia suspendido as "exportações de segurança" à Colômbia, em resposta a declarações de Petro.

Em comunicado, o governo da Turquia acusou Israel de "cometer mais um crime contra a Humanidade" em Gaza, e de "usar a fome como uma arma de guerra".

"O fato de Israel, que condenou a população de Gaza à fome, desta fez mira em civis inocentes em uma fila de ajuda humanitária, é a prova de que [Israel] tem como objetivo consciente destruir o povo palestino de forma coletiva", diz o texto da Chancelaria. "O mundo todo precisa perceber que a atrocidade em Gaza está prestes a se tornar uma catástrofe global, com repercussões além da região."

O presidente francês, Emmanuel Macron, expressou sua "mais forte condenação" ao episódio em uma postagem no X. "Profunda indignação com as imagens vindas de Gaza, onde civis foram alvo de soldados israelenses", disse ele na plataforma de mídia social. "Expresso minha mais forte condenação a esses tiroteios e apelo à verdade, à justiça e ao respeito pelo direito internacional".

Por sua vez, a Chancelaria da França, em comunicado, declara que "os disparos dos militares israelenses contra os civis tentando acessar alimentos são injustificáveis", e diz "esperar que todos esclarecimentos sejam feitos sobre os atos mencionados, que são muito graves".

"De toda forma, é responsabilidade de Israel cumprir as regras do direito internacional e de proteger a distribuição de ajuda humanitária à população civil. Esse evento trágico ressalta que a situação humanitária em Gaza é de urgência absoluta, e que um número crescente e insuportável de civis palestinos sofrem de fome e doenças", diz o texto, que defende um cessar-fogo "imediato e durável".

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou as mortes, e citou a situação desesperadora de centenas de milhares de civis no território palestino.

— Os civis em Gaza precidsam de ajuda urgente, incluindo aqueles sitiados no Norte, onde as Nações Unidas não têm sido capazes de entregar ajuda há mais de uma semana — afirmou a repórteres o porta-voz de Guterres, Stephane Dujarric. —O secretário-geral está chocado com o trágico número de mortes no conflito em Gaza, no qual mais de 30 mil pessoas foram mortas, e mais de 70 mil feridas. Tragicamente, um número desconhecido de pessoas ainda estão sob os escombros.

O chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA), Philippe Lazarini, resumiu a situação como “mais um dia do inferno”.

“Gaza atinge um número sem precedentes de mortos, 30 mil palestinos, enquanto mais 100 pessoas são supostamente mortas e mais de 700 feridas quando tentavam desesperadamente atingir ajuda vital de um comboio. Nem a UNRWA nem a ONU estavam envolvidas nessa distribuição. Quando a loucura vai parar?", escreveu no X.

O chefe de operações humanitárias da ONU, Martin Griffiths, disse no X que “a vida está sendo drenada rapidamente de Gaza”, e que mesmo após cinco meses de combates a situação em Gaza ainda tem “a capacidade de nos chocar”.

“Estou chocado com os relatos sobre os mortos e as centenas de feridos durante a transferência de ajuda a leste da Cidade de Gaza hoje (quinta-feira). Eles chegam no momento em que o número de mortos em Gaza desde o dia 7 de outubro supera os 30 mil”, disse Griffiths.

No começo da noite, o Conselho de Segurança da ONU deve se reunir para discutir a situação em Gaza, em um encontro a portas fechadas requisitado pela Argélia. Na semana passada, os EUA vetaram, pela terceira vez, uma resolução defendendo um cessar-fogo no território palestino, ao mesmo tempo em que sinalizaram negociações para apresentar um texto próprio, algo que ainda não aconteceu tampouco tem data para ocorrer.

Na véspera, um grupo de sete ONGs de ajuda humanitária emitiu um comunicado conjunto defendendo a adoção urgente de uma resolução sobre Gaza, citando relatos feitos por organizações internacionais sobre a cada vez mais crítica situação no território.

“O Conselho de Segurança da ONU precisa garantir a implementação de suas resoluções adotadas sobre Gaza, que exigem um pleno, rápido, seguro e ininterrupto acesso humanitário para e ao redor da Faixa de Gaza. Além disso, o Conselho de Segurança tem um papel vital para garantir o cumprimento das decisões da Corte Internacional de Justiça e para garantir a efetiva aplicação da lei internacional”, diz o texto.

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