O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou que vai se reunir com o líder venezuelano, Nicolás Maduro, durante a cúpula da Celac, prevista para esta sexta-feira em São Vicente e Granadinas. Mas adiantou que não vai abordar a disputa histórica entre a Venezuela e a Guiana pela região do Essequibo, um território de 160 mil quilômetros quadrados, rico em petróleo e minério sob jurisdição guianesa e que Caracas reivindica.
— A reunião não é para isso, é para discutir a Celac. Eu vou encontrar com o Maduro lá, e eu pretendo discutir a hora que eles quiserem marcar uma reunião, e o presidente (primeiro-ministro) Ralph (de São Vicente e Granadinas), que é o coordenador que vai marcar, o Brasil estará totalmente a disposição para participar.
O tema também não foi discutido durante reunião com o presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, nesta quinta.
— Não discutimos a questão do Essequibo, não era o momento de discutir. Mas o presidente Ali sabe, como sabe o Maduro, que o Brasil está disposto a conversar com eles quando for necesário, a hora que for necessário porque queremos convencer as pessoas de que é possível, através de diálogo, encontrar a manutenção da paz — afirmou Lula na Guiana, após encontro com o presidente do país.
Lula ainda afirmou que o tema também não estará na pauta do seu encontro com Nicolás Maduro, que acontecerá em São Vicente e Granadinas durante a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
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Ao falar sobre a disputa, Lula ressaltou sua confiança nos meios diplomáticos para a solução do conflito, mas afirmou que as tratativas ainda podem durar algumas décadas.
— O Brasil vai continuar empenhado para que as coisas aconteçam na maior tranquilidade possível. Se em 100 anos não foi possível resolver esse problema, é possível que a gente leve mais algumas décadas, a única coisa que eu tenho certeza é que a violência não resolverá esse problema, criará outros problemas.
A disputa, que remonta ao século XIX, ganhou novos capítulos quando Maduro organizou um referendo consultivo em dezembro do ano passado sobre a anexação do território, aprovado por mais de 95% da população. O "sim" em massa apoiava a criação na região de uma província venezuelana, a "Guiana Essequiba", e a concessão da nacionalidade a seus habitantes — a Venezuela chegou a abrir um escritório do serviço de identificação e migração (Saime), em Tumeremo, na fronteira com o Essequibo.
Desde o início, a Guiana considerou a consulta uma "ameaça direta", e Ali chegou a levar a questão ao Conselho de Segurança da ONU, que terminou sem declaração final. Dias antes, a Guiana anunciou que estava em contato com "aliados" militares e deu sinal verde guianês para uma possível presença do Comando Sul dos Estados Unidos em seu país, ato classificado como "imprudente" pela Chancelaria da Venezuela.
O Brasil, que defende uma solução pacífica, anunciou a decisão de reforçar a presença militar na fronteira e intensificou seus contatos diplomáticos para mediar a disputa pela região do Essequibo, tentando exercer um papel de liderança regional. Dias depois, após um encontro mediado por Gonsalves, os governos da Venezuela e da Guiana concordaram em não usar a força na disputa.
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