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Por — Washington

A vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, se encontrou com o líder do oposicionista partido de União Nacional de Israel, o general Benny Gantz, que integra o Gabinete de guerra formado após o 7 de outubro, quando o grupo terrorista do Hamas deixou quase 1,2 mil mortos e sequestrou 240 pessoas no sul de Israel. Apesar de ter-se unido ao esforço de guerra, que também deixou mais de 30 mil mortos em Gaza em quase cinco meses, segundo autoridades palestinas, Gantz é rival político do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.

Segundo comunicado da Casa Branca, Harris condenou os ataques do Hamas, reiterou o direito de Israel à autodefesa e o compromisso dos EUA com a defesa de Israel. Ao mesmo tempo, expressou sua "profunda preocupação com as condições humanitárias em Gaza, e a recente horrível tragédia em um comboio de ajuda no norte de Gaza", se referindo à morte de dezenas de pessoas que buscavam caminhões com alimentos na região. A vice-presidente não emitiu opiniões sobre o episódio, no qual existem acusações de que as forças israelenses teriam disparado contra a multidão.

Harris mencionou a "urgência de um acordo para os reféns" e "congratulou Israel pela abordagem construtiva nas negociações sobre os reféns", pedindo ao Hamas que "aceite os termos sobre a mesa, pelos quais a libertação dos reféns levaria a um cessar-fogo imediato por seis semanas, permitindo a entrada de ajuda humanitária em Gaza". Por fim, a vice-presidente expressou a preocupação com uma iminente ofensiva militar em Rafah, no sul de Gaza, onde está abrigada a maior parte da população no enclave. O comunicado não trouxe as observações de Gantz.

Ministro do Gabinete de guerra de Israel, Benny Gantz chega para reunião com a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris — Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP
Ministro do Gabinete de guerra de Israel, Benny Gantz chega para reunião com a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris — Foto: Brendan SMIALOWSKI / AFP

Dias antes da reunião, o premier israelense advertiu que "não aprovava" a viagem de Gantz aos EUA, enquanto Doudi Amsellem, ministro da Cooperação Regional, afirmou no X (antigo Twitter): “Senhor Gantz, sua entrada no governo foi destinada a criar união em um momento de emergência, e não para ser um cavalo de Troia". Duas falas que exemplificam o péssimo estado das relações entre Israel e os americanos, e também dão pistas sobre as movimentações políticas em Israel

No domingo, Harris criticou Israel por não fazer o suficiente para conter uma “crise humanitária” na Faixa de Gaza e pediu um “cessar-fogo imediato”, em sua declaração mais incisiva desde o início do conflito. Harris também disse que Israel deve fazer mais para permitir o fluxo de ajuda para Gaza, incluindo a abertura de novos cruzamentos de fronteira, a suspensão de restrições desnecessárias à entrega de suprimentos e a restauração de serviços no enclave.

— O que estamos vendo todos os dias em Gaza é devastador. Temos visto relatos de famílias comendo folhas ou ração animal. Mulheres dando à luz a bebês desnutridos com pouco ou nenhum atendimento médico. E crianças morrendo de desnutrição e desidratação. Como disse muitas vezes, muitos palestinos inocentes foram mortos — disse Harris.

Desde quinta-feira, quando autoridades palestinas acusaram Israel de atirar contra pessoas aglomeradas que esperavam ajuda humanitária, deixando 112 mortos e 760 feridos, aumentou a pressão internacional por uma investigação independente do incidente e para que o governo de Netanyahu aceite uma trégua e facilite a entrega de suprimentos à população do enclave. Israel nega que tenha aberto fogo contra a multidão, dizendo que as mortes decorreram de um tumulto, com soldados tendo só disparado para o ar e contra um grupo que se aproximou de uma unidade militar.

No domingo, Harris também afirmou que o Hamas deveria concordar com a pausa de seis semanas atualmente em discussão, reafirmando a posição de crítica ao grupo fundamentalista islâmico:

— A ameaça que o Hamas representa para o povo de Israel deve ser eliminada. E, dada a imensa escala de sofrimento em Gaza, deve haver um cessar-fogo imediato, pelo menos nas próximas seis semanas.

O presidente americano, Joe Biden, tem pressionado por um acordo entre o Hamas e Israel que permita a libertação de reféns e um cessar-fogo temporário até o Ramadã, mês sagrado muçulmano que começa por volta de 10 de março. Autoridades americanas disseram que o governo israelense concordou “mais ou menos” com os termos do acordo, mas que o grupo ainda não aceitou a proposta.

Divisão no Partido Democrata

Harris discursou num momento em que as consequências políticas do apoio da administração Biden a Israel começam a se tornar mais evidentes. Enquanto o presidente tem criticado cada vez mais a resposta israelense ao ataque de 7 de outubro, sua rejeição aos apelos por um cessar-fogo permanente e uma dificuldade de demonstrar empatia pelos palestinos têm dividido o Partido Democrata. Além disso, as ações do presidente têm afastado eleitores-chave, incluindo negros, jovens e árabes americanos.

Opositores da guerra e manifestantes pró-palestinos têm seguido Biden em eventos por todo o país para protestar contra seu apoio a Israel. Líderes religiosos negros pediram ao governo que interrompa a assistência financeira a Israel, alegando que a ofensiva equivale a um “genocídio em massa”. Somado a isso, mais de 100 mil pessoas, muitas delas árabes-americanas, votaram na opção “sem compromisso” nas primárias de Michigan na semana passada — uma prévia do que pode acontecer em outros estados que ajudaram a eleger Biden em 2020.

Cálculo eleitoral?

Se a guerra influencia as eleições já previstas de novembro nos EUA, em Israel, o conflito ocorre em meio a um debate aberto sobre a convocação de eleições antecipadas, nas quais Netanyahu provavelmente seria derrotado, segundo pesquisas. Na semana passada, o ex-premier trabalhista Ehud Barak escreveu um artigo na revista Foreign Affairs defendendo que Israel “deve decidir para onde está indo, e quem deverá liderar” o país até lá, afirmando que uma nova ida às urnas é necessária.

Mesmo antes do conflito em Gaza, Netanyahu era considerado um dos políticos menos populares do país, e enfrentava meses de protestos pedindo sua renúncia — com um mandato obtido graças a um acordo com a extrema-direita, o premier é alvo de vários processos na Justiça, e muitos israelenses veem a busca pela permanência no poder como uma tentativa desesperada de se livrar da prisão. Planos de reforma no Judiciário, consideradas ações de blindagem dos políticos, incluindo Netanyahu, se mostraram extremamente impopulares.

O fracasso do Exército e da inteligência israelense para evitar os ataques de 7 de outubro pareceram uma gota d’água para muitos eleitores, e os pedidos para eleições antecipadas ganharam corpo. Nesse contexto, Gantz, que integra o Gabinete de Guerra, parece se apresentar como uma voz mais moderada no governo, mirando em uma nova votação.

Seu partido, o da União Nacional, aparece em primeiro nas pesquisas recentes, que também apontam para uma dura derrota de Netanyahu e seus aliados. Gantz, já derrotado pelo premier anteriormente, busca nos laços com Washington talvez se aproveitar do clima cada vez mais azedo entre Biden e Netanyahu, o que poderia eventualmente lhe trazer dividendos em uma eventual eleição.

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