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Por e , Em The New York Times — Dresden, Alemanha

Primeiro foi o presidente da França, Emmanuel Macron, a deixar seus aliados da Otan enfurecidos com a sugestão de que, em breve, o Ocidente poderia ser forçado a mandar tropas para a Ucrânia, abrindo caminho para um confronto direto com as forças russas que o resto da aliança rejeita já muito tempo.

Depois foi a vez do chanceler alemão, Olaf Scholz, expor novas divisões. Ao tentar justificar os motivos da Alemanha não repassar seu mais poderoso míssil, o Taurus, para a Ucrânia, ele deu a entender que o Reino Unido, a França e os EUA podem secretamente estar ajudando Kiev a obter armas similares, algo que Berlim não poderia aceitar. Embora Londres e Berlim não tenham comentado oficialmente — eles quase nunca discutem quais armas estão sendo enviadas — Scholz foi imediatamente acusado por antigos integrantes de governos de revelar segredos de guerra.

— O comportamento de Scholz mostrou que, sobre a segurança da Europa, ele é o homem errado na hora errada — disse Ben Wallace, ex-ministro da Defesa do Reino Unido, ao Evening Standard, um jornal britânico.

Tobias Ellwood, um conservador que já comandou uma importante comissão de defesa na Câmara dos Comuns, deu várias declarações à imprensa local afirmando que a fala de Scholz foi um “flagrante abuso de inteligência”.

Em uma semana na qual o presidente Vladimir Putin ameaçou usar linguagem nuclear se a Otan entrasse no conflito, as tensões entre os aliados ocidentais ressaltaram como eles estão lutando para manter a união em um momento de aparente impasse na guerra e de apoio internacional decrescente, especialmente em Washington.

Para a Otan, o desafio agora é encontrar algum tipo de combinação de novas armas e apoio financeiro sem um confronto direto com Putin, mesmo sem saber exatamente onde a linha entre todos esses pontos está. E essa é uma dança especialmente difícil para Scholz.

A Alemanha forneceu mais armas e prometeu mais apoio à Ucrânia do que qualquer outra nação que não os EUA, mas Scholz estabeleceu um limite no míssil Taurus, cujas capacidades, ele teme, poderão soar como provocação a Putin.

Os problemas do chanceler se aprofundaram no fim de semana, quando uma chamada telefônica de 38 minutos entre o chefe da Força Aérea alemã e outros oficiais foi publicada pela imprensa estatal russa, deixando claro que havia planos de contingência caso Scholz mudasse de ideia e resolvesse mandar o míssil Taurus. O vazamento foi interpretado por Berlim como uma operação russa para incitar a oposição a novos envios de ajuda à Ucrânia.

A revelação deu início a investigações em Berlim, a começar sobre o motivo da conversa entre oficiais acontecer em uma linha desprotegida, dando aos russos uma maneira fácil para constranger o líder alemão diante dos líderes da Otan e seus eleitores, no momento em que os alemães parecem mais reticentes com um maior envolvimento na guerra.

Os militares alemães confirmaram que o áudio é autêntico, mas não comentaram seu conteúdo, incluindo a discussão sobre a necessidade do envolvimento alemão na operação do sistema caso ele fosse cedido à Ucrânia. Hoje, a Alemanha tem à disposição cerca de 100 mísseis Taurus, que têm um alcance maior do que o ATACMS (Sistema de Mísseis Táticos do Exército) fornecido pelos EUA, o Storm Shadow britânico ou o SCALP francês.

Diferença decisiva

O Parlamento Europeu indicou o sistema Taurus como um dos necessários para a Ucrânia em uma resolução não vinculante que exige que todos os Estados do bloco forneçam mais armas. Mas ainda não está claro se a Alemanha já forneceu os mísseis à Ucrânia, como requisitado pelo presidente Volodymyr Zelensky, o que faria uma diferença decisiva no conflito.

A decisão alemã de mandar os tanques Leopard no ano passado não garantiu aos ucranianos o sucesso na contraofensiva contra os russos, e há dúvidas se os caças F-16, prestes a serem entregues a Kiev, conseguirão mudar o curso da guerra.

O que a Ucrânia precisa mais agora, segundo integrantes do governo americano, são as tradicionais munições de artilharia para barrar os avanços da Rússia, além de sistemas de defesa aérea contra os mísseis e drones.

A razão pela qual a Ucrânia não recebeu os mísseis alemães é simples, Scholz disse a eleitores em um comício na cidade de Dresden, na quinta-feira passada. Embora a Alemanha tenha prometido US$ 30 bilhões (R$ 148 bilhões) em armamentos nos próximos anos, o míssil Taurus poderá atingir alvos a até 500 km de distância.

Isso colocaria Moscou, que fica a cerca de 450 km da fronteira entre os dois países, em risco, e Scholz deixou claro que não acredita que as forças ucranianas evitariam levar a guerra lutada em seu país para o Kremlin. A Alemanha também não acredita que um ataque direto contra a Rússia ocorreria sem o risco de um confronto direto com Moscou.

Ucrânia afunda navio de guerra russo com drone marítimo

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O chanceler afirmou ainda que a Alemanha deu e prometeu mais armas do que quase qualquer outro país no mundo, angariando “o direito de às vezes dizer sim, mas também, às vezes, ‘não agora’”.

Mas o que lhe causou mais problemas foi sua descrição de como os sistemas avançados de mísseis simplesmente não poderiam ser dados aos ucranianos; ele sugeriu que o equipamento precisaria de forças da Otan para definir os alvos desses armamentos complexos. Scholz afirmou que uma coisa era dar armas a Kiev, e outra seria a Alemanha mirá-las nos alvos.

— Nós não podemos estar ligados, de qualquer forma, ou qualquer lugar, à definição de alvos militares — disse.

Ponte de Kerch como alvo

Mas então vieram os vazamentos dos telefonemas, que incluíam o general Ingo Gerhartz, o mais alto oficial da Força Aérea. A conversa do militar o pegou, ao lado de outros oficiais, se preparando para uma sessão secreta de informações que daria em seguida. O general descreveu, detalhadamente, como os soldados alemães seriam necessários para mirar as armas, especialmente contra alvos difíceis de alvejar, como a Ponte de Kerch, que liga a Crimeia à Rússia.

Os militares discutiram como a Alemanha só poderia mandar um máximo de 100 mísseis, ou seja, cada disparo teria que valer a pena. A conversa incluiu ainda maneiras de programar o sistema de forma que a Alemanha não fosse ligada diretamente ao ataque, e sem mandar soldados alemães para a Ucrânia. Uma opção sugerida foi trabalhar, de forma silenciosa, através da fabricante do equipamento, ou mandar as informações a serem inseridas no sistema por via terrestre.

— No pior cenário, eu teria que ir e voltar de lá de carro — disse um oficial.

No domingo, Roderich Kiesewetter, membro da poderosa comissão de Inteligência do Parlamento, disse que um ouvinte não autorizado aparentemente conseguiu acessar a conversa e não foi notado pelos militares. No domingo, o ministro da Defesa, Boris Pistorius, se referiu ao vazamento como um “ataque híbrido por desinformação” dos russos, e pediu uma reação em mesmo nível.

— Isso ocorreu para minar nossa união — disse a repórteres.

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