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Por O Globo e agências internacionais — Washington

O presidente Joe Biden anunciará durante o Discurso sobre o Estado da União, na noite desta quinta-feira, a ordem dada ao Exército americano para construir um porto temporário na região costeira da Faixa de Gaza para facilitar a entrega de ajuda humanitária pelo mar. O anúncio será feito em um momento em que o governo americano é alvo de críticas por manter seu apoio militar a Israel enquanto cresce a catástrofe humanitária em Gaza, alvo de cerco e ataques israelenses há cinco meses, desde que o grupo terrorista Hamas deixou quase 1,2 mil mortos e fez 240 reféns ao atacar o sul de Israel em 7 de outubro. Segundo autoridades palestinas, o conflito deixou mais de 30 mil mortos em Gaza. Há expectativa de que parentes dos reféns comparecem ao pronunciamento no Capitólio, em Washington, previsto para as 21h locais (23h em Brasília).

A sinalização mais concreta para Biden de que sua posição no conflito é avaliada negativamente por parte da população está vindo das urnas. Na Super Terça, dia mais importante das prévias americanas que coroarão os candidatos democrata e republicano à Presidência, mais de 255 mil eleitores democratas em 15 estados votaram na opção "sem compromisso", que significa endosso ao partido, mas não aos candidatos listados. Em Minnesota, um bastião democrata, o "sem compromisso" ficou em segundo lugar, com 19% do total de votos.

O protesto começou há uma semana com o sucesso da campanha "Ouça o Michigan" nas primárias do estado, que abriga a maior população árabe dos EUA e onde 100 mil eleitores votaram na opção "sem compromisso" no fim de fevereiro. Em 2020, o voto da população árabe-americana teve um peso importante na vitória estreita de Biden contra o ex-presidente republicano Donald Trump, que deve ser seu rival em novembro.

'Missão emergencial'

Embora as autoridades dos EUA afirmem que a entrega de ajuda por vias terrestres seja "a maneira mais eficiente e econômica de levar assistência", o anúncio de Biden ressaltará a urgência da crise humanitária em Gaza, evidenciada por um incidente na entrega de suprimentos no último dia 29 que, segundo autoridades palestinas, terminou com mais de 100 mortos na principal cidade do enclave. Autoridades palestinas acusaram as forças israelenses de disparar contra a multidão, mas Israel nega, afirmando que as mortes decorreram de um tumulto. Desde o episódio, os EUA fizeram quatro entregas de ajuda ao território pelo ar — grupos de ajuda, porém, descreveram a medida como ineficaz, afirmando que o mais significativo seria pressionar Israel a levantar o cerco a Gaza.

Em seu discurso nesta quinta, Biden deve anunciar o que, segundo a Casa Branca, é uma "missão emergencial" para montar um porto temporário no Mediterrâneo, na costa de Gaza, que receba grandes navios com alimentos, água, medicamentes e abrigos temporários para entregar a uma população que, segundo a ONU, está à beira da fome catastrófica. De acordo com uma autoridade americana, o porto terá um píer temporário, que "fornecerá a capacidade para o trânsito diário de centenas de caminhões carregados de suprimentos" em coordenação com países da região e organizações humanitárias não governamentais. Também avalia-se a possibilidade de fazer a distribuição das mercadores a partir de pequenos barcos.

Baseado na descrição fornecida pela Casa Branca e autoridades militares, o jornal New York Times afirma que o porto será construído a partir de navios americanos e então movido para perto da costa. O projeto pode levar de 30 a 60 dias para ser desenvolvido, de acordo com autoridades militares, e envolverá centenas ou milhares de soldados americanos trabalhando em alto-mar nos navios, mantendo a promessa de Biden de não haver nenhum militar americano dentro de Gaza enquanto o conflito ainda está em andamento.

— Essa nova capacidade significativa levará algumas semanas para ser planejada e executada. As forças que serão necessárias para completar essa missão já estão na região ou começarão a deslocar-se para lá em breve — disse uma fonte à rede americana CNN.

Segundo funcionários americanos, os EUA "trabalharam de perto" com Israel para desenvolver a iniciativa, mas não especificaram se o Estado judeu fornecerá assistência direta ou apoio para sua construção ou operação. Uma fonte citada pelo New York Times disse que Israel trabalhou durante meses com os EUA e outras nações para desenvolver o processo de inspeção em um porto no Chipre, onde a ajuda humanitária poderá ser examinada e então distribuída — um requerimento-chave para o novo porto americano em Gaza. O porto no Chipre fará distribuição de suprimentos enviados pelos Emirados Árabes Unidos.

Nova passagem terrestre

O novo porto marítimo, quando concluído, constituirá uma rota adicional para a ajuda humanitária, que está atualmente limitada a duas passagens terrestres para a parte sul de Gaza. As autoridades disseram nesta quinta-feira que uma terceira passagem terrestre, para a parte norte de Gaza, poderia abrir para entregas limitadas dentro de uma semana.

— Essa terceira travessia permitirá que a ajuda flua diretamente para a população do norte de Gaza, que precisa urgentemente de assistência — disse uma autoridade americana a repórteres. — Como a ONU confirmou hoje (quinta-feira), esperamos que as primeiras entregas transitem por essa passagem nas próximas semanas, começando com um piloto e depois aumentando.

Após quase cinco meses de guerra, a ONU estima que 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, estejam ameaçadas pela fome em Gaza, especialmente no norte, onde destruição, combates e saques tornam quase impossível o transporte de ajuda humanitária. De acordo com a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), quase 2,3 mil caminhões de ajuda entraram em Gaza em fevereiro, com uma média de 82 veículos por dia. O número é 50% menor que em janeiro. Antes do conflito atual, quando as necessidades da população eram menos urgentes, cerca de 500 caminhões entravam no enclave todos os dias.

Palestinos que trabalham em organizações humanitárias disseram ao jornal israelense Haaretz acreditar que a iniciativa de Biden é uma arma de relações públicas para desviar a atenção de sua incapacidade de conseguir um cessar-fogo. Segundo relatos deles, há enormes quantidades de ajuda humanitária no aeroporto egípcio de El-Arish, no Sinai, prontas para serem entregues.

— Montar o porto e a logística vai demorar semanas. E até lá, o que acontecerá? As pessoas vão continuar morrendo em Gaza e Israel terá mais tempo para atacar? — questionou um funcionário.

Entrega de ajuda humanitária a Gaza — Foto: Editoria de Arte
Entrega de ajuda humanitária a Gaza — Foto: Editoria de Arte

Também nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores espanhol, José Manuel Albares, declarou que Madri fará uma doação de 20 milhões de euros à UNRWA, durante coletiva ao lado do diretor da agência, Philippe Lazzarini.

— Faremos uma nova contribuição de 20 milhões de euros à UNRWA para apoiar a organização em seu trabalho humanitário crucial em Gaza — afirmou Albares.

Lazzarini expressou a esperança de que a decisão do governo espanhol incentive os outros países que, em janeiro, suspenderam sua ajuda à agência, em uma perda de US$ 450 milhões, após denúncias de Israel de que ao menos 12 funcionários da agência participaram dos ataques do 7 de outubro.

Na semana passada, a União Europeia anunciou o desbloqueio de € 50 milhões (R$ 268 milhões) em fundos para a UNRWA diante do compromisso assumido pela agência para investigar o caso. Há informações de que, até o momento, não foram entregues por Israel às Nações Unidas evidências que apoiem as acusações, e membros da inteligência dos EUA disseram ao Wall Street Journal que há “pouca confiança" sobre a participação de integrantes da UNRWA nos ataques.

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