Ao menos 13 pessoas foram detidas por vandalismo em seções eleitorais no primeiro dia das eleições presidenciais na Rússia, que começou nesta sexta-feira. A maioria dos incidentes ocorreu em seções eleitorais em Moscou, Voronej, no sul da Rússia, e na região de Carachai-Circássia, no norte de Cáucaso, de acordo com a agência estatal Tass. As autoridades não esclareceram se os atos eram protestos contra o presidente Vladimir Putin, que deve garantir ainda no primeiro turno mais um mandato e permanecer no cargo até 2030, pelo menos. Pouco antes do fim do primeiro dia de votação, a Comissão Eleitoral Central afirmou que 35,4% dos eleitores já depositaram seus votos, seja por papel, seja de forma eletrônica, como fez o próprio Putin mais cedo.
Em São Petersburgo, uma mulher lançou um coquetel molotov contra uma escola que servia como seção eleitoral. As autoridades locais afirmaram que “o ato ilícito foi rapidamente contido pela polícia” e que ninguém ficou ferido. Em Moscou, outra mulher ateou fogo a uma cabine de votação. As atividades foram retomadas após o caso. Em Kogalym, na região de Khanty-Mansi, uma mulher foi detida ao tentar jogar um coquetel molotov contra uma urna.
Também nesta sexta-feira, investigadores de Moscou disseram que abriram um processo criminal contra uma mulher que derramou tinta verde em uma urna. Um vídeo do incidente divulgado pela imprensa estatal mostra o momento em que uma jovem deposita seu voto e, na sequência, despeja a tinta na urna plástica transparente. Ela foi detida por policiais e acusada de “obstruir o exercício dos direitos eleitorais ou o trabalho das comissões”, publicou a agência Reuters.
Centros de votação na Rússia sofrem ataques em primeiro dia de eleições presidenciais
Dois casos semelhantes foram registrados também nesta sexta-feira em seções eleitorais de Simferopol, na Crimeia, península ucraniana anexada em 2014, e em Sochi, um dos balneários favoritos de Putin, no Mar Negro.
Há alguns anos, um tipo de líquido verde, o "Zelyonka", vendido em farmácias com antisséptico, foi usado em ações contra oposicionistas, incluindo Alexei Navalny, morto no mês passado em uma prisão no Ártico — apesar de normalmente não causar danos, o líquido era de difícil remoção, e acabou sendo usado como um símbolo dos dissidentes contra a repressão governista.
Em Skadovsk, cidade do sul da Ucrânia ocupada pela Rússia, um artefato explosivo foi colocado dentro de uma lata de lixo e detonado em um recinto eleitoral. A Comissão Eleitoral de Kherson afirmou que não houve vítimas ou feridos. A mesma fonte disse que a Ucrânia bombardeou locais de votação na cidade ocupada de Kakhovka.
Presidente da Comissão Eleitoral Central, Ella Pamfilova disse que interferir na eleição pode resultar em penas de até cinco anos de prisão. Ela anunciou que a polícia deteve todos os que até agora tentaram danificar cédulas de votação, e afirmou que serão processados. Pamfilova também comentou os relatos da mídia estatal russa que afirmavam, sem fornecer provas, que muitos dos que atacaram os centros eleitorais disseram ter sido pagos pela Ucrânia para causar problemas.
— [A lei será aplicada] especialmente para todos os canalhas que estão prontos para destruir os votos das pessoas por causa dessas moedinhas de prata. Qualquer outra pessoa que ousar [fazer o mesmo] será detida.
Ataques da Ucrânia
Os incidentes nas seções eleitorais ocorrem enquanto, no front da guerra na Ucrânia, a Rússia enfrentou nesta semana ataques contra refinarias de petróleo e repetidas incursões contra seu território de milícias pró-Kiev formadas por unidades russas que se opõem ao Kremlin. Nesta sexta-feira, Putin prometeu punir a Ucrânia pelas ações, que classificou como “esforços para perturbar as eleições presidenciais”.
Em discurso ao Conselho de Segurança da Rússia, ele declarou que Kiev “tentava realizar uma série de ações criminosas” e prometeu que os “ataques inimigos não ficarão impunes”. Putin também disse que 95% dos projéteis e mísseis disparados por Kiev foram derrubados pelas forças aéreas de Moscou, mas que alguns passaram, causando baixas entre civis russos.
Putin ainda disse que houve quatro ataques na região de Belgorod e um na região de Kursk, onde cerca de 2,5 mil ucranianos armados atuaram. O líder russo afirmou que eles tinham 35 tanques e 40 veículos blindados, mas que cerca de 60% dos soldados apoiados pela Ucrânia foram mortos. Metade dos blindados, ressaltou, foi destruída.
— Esses ataques, sem sentido do ponto de vista militar e criminosos do ponto de vista humanitário, visam dificultar as eleições presidenciais na Rússia — disse. Estou convencido de que nosso povo responderá a isso se consolidando ainda mais. Quem eles querem intimidar? O povo russo?
Pouco depois da fala, a Rússia lançou mais um mortal ataque contra Odessa, deixando cerca de 20 mortos e mais de 70 feridos, de acordo com o Serviço de Emergências da Ucrânia. Um prédio residencial, dez casas e um posto de gasolina foram danificados na ação, e vários bombeiros estão entre as vítimas. Nas últimas duas semanas, a cidade tem sido alvo recorrente de ataques com mísseis, que deixaram cerca de 40 mortos e dezenas de feridos.
As eleições presidenciais vão até domingo. A confiança de Putin na vitória – que deve ser a quinta desde 2000 – foi tanta que o presidente sequer fez campanha. Na sondagem mais recente, de fevereiro, o instituto independente Levada estimou que a popularidade do líder é de 86%.
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