Com vetos da Rússia e da China, o Conselho de Segurança das Nações Unidas não aprovou a resolução dos Estados Unidos sobre um “cessar-fogo imediato” na Faixa de Gaza, apresentada para votação nesta sexta-feira. Os EUA já tinham vetado três propostas anteriores que exigiam o fim dos combates no enclave. Nas ocasiões, o argumento era o de que Israel tinha o direito de se defender após o ataque liderado pelo grupo terrorista Hamas em 7 de outubro, e que as medidas poderiam interromper as negociações sobre os reféns.
Ao todo, onze membros votaram a favor da resolução apresentada nesta sexta. Além dos dois vetos, porém, a Argélia também votou contra a medida – e a Guiana se absteve. Em todas as votações anteriores realizadas no Conselho de Segurança, os Estados Unidos deram o único voto contra. Rússia e Reino Unido se abstiveram da primeira votação, em outubro, quando um texto do Brasil foi apresentado. O Reino Unido ainda se absteve das votações de dezembro e fevereiro.
No entanto, à medida que o número de mortos aumenta em Gaza – ultrapassando a marca dos 30 mil, segundo as autoridades de saúde do enclave –, e com o acúmulo de denúncias sobre a situação humanitária local, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e outros funcionários americanos tornaram-se cada vez mais críticos do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Em discurso neste mês, Biden pediu que o premiê israelense permitisse mais ajuda em Gaza.
Vetos da China e Rússia
Antes da votação, o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, disse que Moscou apoia um cessar-fogo imediato, mas questionou a resolução apresentada pelos EUA. Ele afirmou que a proposta não tinha uma determinação clara sobre a trégua ou a libertação dos reféns, e que isso significa que “a representante dos Estados Unidos na ONU, [Linda Thomas-Greenfield], e o secretário de Estado americano, [Antony Blinken], deliberadamente enganaram a comunidade internacional”.
Como resposta, Thomas-Greenfield afirmou que Moscou priorizou a política em detrimento do progresso ao vetar a resolução, “atirando pedras” enquanto “vive em uma casa de vidro”. Ela acrescentou que tanto a Rússia quanto a China não estavam fazendo nada de significativo para promover a paz. O embaixador chinês, Zhang Jun, classificou o texto apresentado como “ambíguo” e “desequilibrado”, uma vez que “impõe condições para que o cessar-fogo ocorra”.
Após a rejeição do texto dos EUA, fontes diplomáticas disseram que uma resolução alternativa elaborada por vários membros não permanentes do Conselho provavelmente seria submetida à votação no final do dia. O documento, ao qual a AFP teve acesso, “exige um cessar-fogo humanitário imediato no Ramadã (mês sagrado muçulmano que teve início no último dia 10)” e a libertação imediata de todos os reféns.
O que dizia a resolução dos EUA?
O texto observava a necessidade de um "cessar-fogo imediato e sustentado para proteger civis de todos os lados, permitir a entrega de assistência humanitária essencial e aliviar o sofrimento humano".
Dessa forma, apoiava "esforços diplomáticos para garantir tal cessar-fogo em conexão com a libertação de todos os reféns restantes". Os críticos dos Estados Unidos, incluindo a Rússia, observaram que o texto não usava explicitamente a palavra necessária para indicar o pedido de cessar-fogo. Ele também defendia que a medida deveria ser condicional à libertação de todos os reféns.
Quais eram as chances de o texto passar?e
O embaixador adjunto russo na ONU, Dmitry Polyanskiy, disse aos repórteres nesta quinta-feira: "Não estamos satisfeitos com nada que não exija um cessar-fogo imediato", o que já indicava que Moscou poderia usar seu veto. Um projeto de resolução concorrente também está circulando, que é mais explícito sobre um cessar-fogo imediato.
Os EUA afirmaram que seu projeto tinha o apoio de pelo menos nove dos 15 membros do Conselho de Segurança, o suficiente para a votação ser aprovada, desde que nenhum veto fosse usado por um dos cinco membros do Conselho de Segurança, como ocorreu nesta sexta-feira.
Isso importaria?
Diplomaticamente, os EUA poderiam se beneficiar ao mostrar uma liderança positiva na ONU e demonstrar que não estão tão isolados quanto pareceram em seu apoio a Israel. A maior parte do conteúdo operacional do texto era direcionado a Israel, e as críticas não eram explícitas. Ele reiterava os apelos para que a ajuda fluísse para o enclave, com medidas como a abertura de mais passagens terrestres e menos restrições aos bens permitidos a entrar em Gaza. O texto também demonstrava oposição ao deslocamento forçado de palestinos.
Se aprovado, esta também seria a primeira vez que a ONU condenaria coletivamente o Hamas, pedindo restrições em suas finanças.
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY