O Conselho de Direitos Humanos da ONU exigiu nesta sexta-feira a interrupção da venda de armas a Israel, apontando o risco de novas violações do direito humanitário internacional e de direitos humanos em Gaza, onde mais de 33 mil palestinos morreram desde outubro, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, território controlado pelo grupo terrorista Hamas. É a primeira vez que o órgão da ONU se posiciona sobre o conflito, iniciado após o ataque de 7 de outubro do Hamas no sul israelense, embora não tenha meios de obrigar o cumprimento da resolução.
A resolução foi aprovada com 28 votos a favor, incluindo do Brasil, seis contra — com Estados Unidos e Alemanha — e 13 abstenções, dentre as quais de França, Índia e Japão.
— Um voto sim é um voto a favor do Hamas — disse a embaixadora de Israel no CDH, Meirav Shahar.
Em contrapartida, o representante palestino na organização, Ibrahim Mohammad Khraishi, defendeu a medida acusando Israel de cometer genocídio em Gaza.
— Temos que despertar (a consciência) e pôr fim a esse genocídio retransmitido ao vivo pelas televisões de todo o mundo — afirmou Khraishi.
![Israel divulga vídeo sobre operação no hospital Al-Shifa, em Gaza Israel divulga vídeo sobre operação no hospital Al-Shifa, em Gaza](https://s02.video.glbimg.com/x240/12444585.jpg)
Israel divulga vídeo sobre operação no hospital Al-Shifa, em Gaza
A resolução, apresentada pelo Paquistão e apoiada por Bolívia, Cuba e Autoridade Nacional Palestina, foi modificada na quinta-feira para evitar a referência à noção de genocídio em várias passagens do texto. No entanto, manteve a manifestação de "profunda preocupação ante as informações que apontam graves violações de direitos humanos e violações graves do direito internacional humanitário, em particular eventuais crimes de guerra e crimes contra a Humanidade".
O documento também exige que Israel “acabe com a ocupação” dos territórios palestinos na fronteira de 1967 (em referência às anexações feitas durante a Guerra dos Seis Dias), incluindo Jerusalém Oriental, e que “levante imediatamente o bloqueio à Faixa de Gaza e todas as outras formas de punição coletiva”.
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A resolução apela a “todos os Estados para que parem com a venda, envio e entrega de armas, munições e outros equipamentos militares a Israel (…), para evitar novas violações do direito humanitário internacional e violações dos direitos humanos”.
Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU adotou uma resolução apelando a um cessar-fogo, que não teve impacto no terreno. Israel também há muito tempo acusa o Conselho de Direitos Humanos da ONU de ter posições tendenciosas.
O documento aprovado nesta sexta-feira não menciona o Hamas nominalmente, embora condene o lançamento de foguetes contra áreas civis israelenses.
![Homem caminha em área devastada da Cidade de Gaza, próxima ao Hospital al-Shifa — Foto: AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/4i2qvVmKhvI5ZIPvl1VUGqFUZeA=/0x0:5592x3728/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/x/B/kdqYhxQE2YB7Kk6vgmoA/106457140-a-man-pushes-a-bycicle-along-as-he-walks-amid-building-rubble-in-the-devastated-area-aroun.jpg)
A resolução "também condena os ataques contra civis, em particular em 7 de outubro de 2023, e exige a libertação imediata de todos os reféns, pessoas detidas arbitrariamente e vítimas de desaparecimentos forçados, bem como a garantia de acesso humanitário imediato aos reféns e prisioneiros ".
No ataque há seis meses, integrantes do Hamas deixaram quase 1,2 mil mortos, em sua maioria civis, e capturaram cerca de 250 reféns. Após parte deles ter sido trocada em novembro por prisioneiros palestinos durante uma trégua temporária, Israel estima que ainda haja 102 pessoas em cativeiro, onde também estariam os corpos de outros 34 reféns.