Líder de partido da extrema-direita da Alemanha vai a julgamento após usar slogan nazista em comícios políticos

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O político de 51 anos, que chegou à audiência sorrindo, foi acusado em junho do ano passado por usar a expressão "Tudo pela Alemanha", usada e gravada nas facas do grupo paramilitar Stormtroopers, que atuaram durante a ascensão do nazista Adolf Hitler nos anos 1930. A declaração ocorreu durante uma reunião em maio de 2021 com cerca de 250 pessoas em Merseburgo, no estado de Saxônia-Anhalt.

Na semana passada, os promotores acrescentaram com sucesso uma segunda acusação contra Höcke no julgamento. Depois de enfrentar acusações por seu uso inicial do slogan, ele provocou o cântico em outro comício político, em dezembro do ano passado, gritando para a multidão "Tudo por -" e deixando os apoiadores gritarem a última palavra, "Alemanha!"

O uso de frases e símbolos nacional-socialistas é um crime passível de punição na Alemanha que, devido ao legado de Hitler, tem uma abordagem muito mais restritiva à liberdade de expressão em comparação com democracias como os Estados Unidos. Tanto Höcke quanto a seção estadual que dirige foram classificados pela inteligência interna como extremistas de direita e estão sob vigilância.

O líder da AfD alega que não sabia que a frase era um slogan nazista, mas os críticos advertiram que esse argumento não é confiável, já que Höcke era professor de história antes de se tornar político. Eles também observam que políticos do partido extremista em dois outros estados já foram detidos pelas autoridades nos últimos anos por usarem o mesmo slogan.

O julgamento ocorre na mais alta corte do estado, e deve durar até 14 de maio. Se for considerado culpado, Höcke poderá enfrentar até três anos de prisão ou uma multa. O tribunal também pode decidir revogar temporariamente seu direito de votar e concorrer em eleições. Essa decisão seria um duro golpe em um ano eleitoral crucial na Alemanha, no qual se espera que Höcke e o AfD obtenham a maior parcela de votos.

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Espera-se que o julgamento atraia grandes multidões de manifestantes, tanto a favor quanto contra o AfD. Höcke convocou seus apoiadores a comparecerem ao julgamento em uma declaração nas redes sociais: "Convido vocês a virem a Halle e testemunharem em primeira mão a situação dos direitos civis, da democracia e do estado de direito na Alemanha", escreveu.

Do lado de fora do tribunal, escoltados pela polícia, centenas de manifestantes contrários ao político seguravam cartazes que diziam "A aFD deve ser contida" e "Björn Höcke é um nazista".

Em todos os três estados do leste da Alemanha que realizarão eleições no final deste ano, o AfD é o partido mais popular. E, em todo o país, está com as pesquisas mais altas do que qualquer um dos três partidos do governo, apesar dos protestos em massa em todo o país que eclodiram depois que um relatório investigativo revelou que alguns membros do AfD haviam participado de uma conferência secreta para discutir a deportação de imigrantes.

O ressurgimento mais recente do AfD, fundado em 2013, começou na primavera passada (hemisfério norte), quando se beneficiou das ansiedades em relação ao aumento da migração e da frustração com a má administração do governo em relação à economia estagnada do país. A coalizão governamental do chanceler Olaf Scholz parecia fraca e dividida durante todo o tempo. Embora seja improvável que o AfD consiga tomar o poder em um dos três estados, Höcke se tornou um dos membros mais influentes de seu partido.

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Os analistas dizem que o político — tão direitista que um tribunal considerou aceitável chamá-lo de fascista — não só conseguiu empurrar seu próprio partido mais para a direita, mas também o debate político mais amplo, especialmente em questões como a migração. O maior partido da Alemanha, o conservador Democratas Cristãos, por exemplo, tem adotado uma postura cada vez mais hostil em relação ao tema.

Os principais partidos de todo o espectro político prometeram há muito tempo não trabalhar com o AfD, e muitos agora estão buscando caminhos legais para restringir a influência do partido de maneiras que provocaram um debate sobre até que ponto uma democracia pode agir contra forças que a prejudicam.

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Os líderes da AfD, como Höcke, argumentam que se tornaram vítimas de instituições estatais que abusam de seu poder para silenciá-los. Recentemente, ele publicou comentários nas redes sociais em inglês que atraíram o interesse de Elon Musk, dono da rede X (antigo Twitter), que perguntou por que o slogan que ele usou era ilegal.

"Porque todo patriota na Alemanha é difamado como nazista, já que a Alemanha tem textos legais em seu código penal que não são encontrados em nenhuma outra democracia", escreveu ele em resposta. "Eles visam impedir que a Alemanha se reencontre".

Orador habilidoso, Höcke sempre tentou reintroduzir palavras e slogans associados ao Terceiro Reich, no que os analistas descrevem como uma estratégia dupla.

— Não é aleatório, é bem escolhido — disse Johannes Hillje, um cientista político alemão que estuda o AfD.

Hijle afirma que esses termos podem servir como uma espécie de "dog whistle" (apito de cachorro, em português), instrumento que não é ouvido por humanos, mas pode ser captado por cães. Ao mesmo tempo, Höcke escolhe slogans que parecem relativamente banais.

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Em um debate televisionado na semana passada, o político insistiu que o slogan pelo qual estava sendo processado era tão comum que havia sido usado em um anúncio da principal operadora de telefonia da Alemanha, a Deutsche Telekom. (A empresa nega esse fato e emitiu uma ordem de cessação e desistência contra Höcke).

Neste caso, observou Hillje, o efeito é fazer com que as instituições estatais pareçam tendenciosas contra a AfD, porque ela é uma força anti-establishment.