O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, cobrou uma participação mais ativa da China na redução de intensidade dos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio nesta sexta-feira, quando se encontrou com o presidente chinês, Xi Jinping, e o chefe da diplomacia do país, Wang Yi, em Pequim. Em contrapartida, o representante de Washington foi advertido sobre avanços americanos contra interesses de Pequim e que os dois países têm muitos assuntos pendentes a serem resolvidos.
Em um encontro que durou mais de cinco horas, os chefes da diplomacia de Washington e Pequim trataram de temas sensíveis da relação entre os dois países, bem como de assuntos correntes na comunidade internacional. A Wang, Blinken cobrou que a China exerça seu papel no Oriente Médio — convulsionado há mais de seis meses pelo conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas — por meio de sua relação com o Irã.
— Penso que as relações que a China tem podem ser positivas na tentativa de acalmar as tensões, prevenir a escalada, evitar a propagação do conflito — disse Blinken a jornalistas, ao fim da reunião, afirmando que o ministro chinês concordou em manter contato no Oriente Médio.
Logo ao fim da reunião, o secretário de Estado também disse aos repórteres que demonstrou a preocupação de Washington com o apoio chinês à Rússia no conflito com a Ucrânia. Oficialmente, Pequim nega apoiar o esforço de guerra russo, mas os EUA acusam o país de ajudar Moscou por meio de incentivo econômico e envio de componentes com fins militares.
— A Rússia sofreria para manter a invasão na Ucrânia sem o apoio da China — disse Blinken aos repórteres.
As relações entre Estados Unidos e China degradaram-se para um nível preocupante nos últimos anos. Os países cortaram comunicações militares em alto nível e se engajaram, cada um a sua maneira, em uma guerra comercial um contra o outro. A viagem de Blinken à Ásia tem o objetivo de avançar em alguns temas menores e pragmáticos e manter um contato ativo, mesmo que uma série de questões estratégicas sigam como um impasse, incluindo políticas comerciais e conflitos territoriais no Mar do Sul da China e em relação a Taiwan.
O ministro chinês foi claro ao advertir Blinken de que, embora reconheça que a relação entre os dois países esteja começando a se estabilizar, "fatores negativos" continuam a surgir, e que qualquer tentativa americana de se opor a interesses considerados legítimos por Pequim poderiam levar a uma "espiral descendente".
— Os legítimos direitos de desenvolvimento da China foram injustificadamente suprimidos e os nossos interesses fundamentais enfrentam desafios. Devem, a China e os EUA, manterem-se na direção certa para avançar com estabilidade ou regressar a uma espiral descendente? — disse Wang em pronunciamento.
O chanceler chinês também advertiu os EUA a "não pisarem nas linhas vermelhas da China relativas a soberania, segurança e interesses de desenvolvimento".
Os chanceleres também trocaram impressões sobre a região do Pacífico, cerne da maior tensão militar entre os dois países. A China acusa os EUA de trabalharem para cercear os interesses chineses no Pacífico — como por meio do último pacote de ajuda militar aprovado no Congresso americano, que previa repasses bilionários a Taiwan.
Blinken não mencionou o território que Pequim considera parte da China, mas fez um alerta sobre as Filipinas, nas imediações, prometendo defender o aliado em caso de qualquer avanço expansionista chinês. A China e as Filipinas estão envolvidas em disputas sobre as Ilhas Spratley, arquipélago reivindicado por vários países onde Pequim tem construído bases.
— Deixei claro que, embora os EUA continuem a diminuir as tensões, nossos compromissos de defesa com as Filipinas permanecem firmes — disse Blinken, acrescentando que abordou “ações perigosas de Pequim no Mar do Sul da China”.
'Parceiros, não rivais'
Ao concluir a agenda com Wang, o secretário de Estado teve um encontro mais breve com o presidente da China. Em uma aparição pública mais amena, o líder chinês disse que Pequim e Washington deveriam ser "parceiras, não rivais", afirmando que os dois países registraram "alguns progressos positivos" desde que ele se reuniu com o presidente americano, Joe Biden, no fim do ano passado.
— Muitos problemas que precisam ser resolvidos [persistem] e ainda há espaço para esforços adicionais — declarou o líder chinês. — Eu propus três princípios principais: respeito mútuo, coexistência pacífica e cooperação benéfica para todos. A Terra é grande o suficiente para abrigar o desenvolvimento comum e a prosperidade da China e dos Estados Unidos. (Com AFP e NYT)
Inscreva-se na Newsletter: Guga Chacra, de Beirute a NY