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Por , Em The New York Times — Washington, D.C.

Quase sete meses após o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, as manifestações que convulsionam os mais prestigiados campi universitários nos Estados Unidos estão expondo novas tensões dentro do Partido Democrata. O desafio é equilibrar as proteções à liberdade de expressão e o apoio aos palestinos em Gaza e, ao mesmo tempo, as preocupações levantadas por alguns judeus americanos sobre casos de antissemitismo.

De Nova York e Los Angeles a Atlanta e Austin, uma onda de ativismo estudantil se manifestou em acampamentos e outras mobilizações — e atraiu repressões policiais significativas. Os protestos também surgiram como o mais recente momento de tensão no debate interno sobre a guerra para os democratas. À medida que cenas de tumulto nos campi foram registradas em todo o país nos últimos dias do ano letivo, o momento também representa um risco político para um partido que tem usado promessas de estabilidade para ganhar as eleições deste ano.

— A verdadeira questão é: os democratas podem se retratar novamente como a mão firme no comando? — questionou Dan Sena, um estrategista democrata. — Coisas que criam caos nacional tornam isso mais difícil.

Sena e outros democratas argumentam que os americanos têm boas razões para associar seus oponentes ao caos: o ex-presidente Donald Trump (2017–2021), por exemplo, enfrenta vários casos criminais; a estreita e rebelde maioria republicana na Câmara tem suas próprias divisões em relação a Israel e à liberdade de expressão; alguns republicanos têm defendido o envio da Guarda Nacional para campi universitários e, por anos, os republicanos enfrentaram críticas pelo antissemitismo entre seus próprios membros.

Mas desde o ataque liderado pelo Hamas contra o território israelense, em 7 de outubro do último ano, e a resposta militar de Israel, que já matou mais de 34 mil pessoas, a disputa pela política americana em relação a Tel Aviv tem sido especialmente proferida pela esquerda. A maioria dos democratas diz que apoia tanto a liberdade de expressão quanto condena o antissemitismo, e considera a crítica ao governo israelense uma questão justa. Mas ao tentar abordar um conflito intratável marcado por narrativas históricas diferentes, porém, os debates sobre como distinguir críticas legítimas a Israel de discursos antissemitas são delicados e atingiram um ponto crítico nos campi.

Divisões internas

Para alguns legisladores que visitaram os acampamentos e compareceram às manifestações, os estudantes fazem parte de uma longa tradição de ativismo universitário — e sua liberdade de expressão está em risco. Eles afirmam que casos de antissemitismo não refletem o movimento mais amplo, que inclui muitos jovens judeus progressistas. O deputado Greg Casar, do Texas, foi à Universidade do Texas para mostrar solidariedade aos manifestantes, vinculando o ativismo deles ao dos estudantes que se opuseram às guerras do Vietnã e do Iraque.

— Com frequência, a história acaba justificando aqueles que clamam pela paz desde o início — disse ele. — Acredito que mais e mais membros do Congresso começarão a comparecer a esses eventos e a ouvir cada vez mais sobre a origem dos estudantes. Essas pessoas [antissemitas] são horríveis. Elas não fazem parte do movimento pela paz. Qualquer um motivado pelo ódio, seja racismo, islamofobia, antissemitismo ou ódio de qualquer forma, não é pacífico.

Para outros democratas, contudo, os casos de intimidação e assédio descritos por alguns estudantes judeus são uma característica definidora do movimento nos campi. Em nenhum lugar essas tensões foram mais claras do que na Universidade Columbia, em Nova York, que se tornou tanto um epicentro do movimento de protesto quanto um ponto focal para os seus detratores. Membros do Partido Democrata, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, líderes da Câmara e do Senado e candidatos proeminentes ao Senado, como Adam Schiff e Ruben Gallego, condenaram o assédio antissemita em torno da instituição.

Alguns democratas buscaram mostrar solidariedade pessoalmente aos estudantes judeus que disseram se sentir inseguros. O deputado Jared Moskowitz, democrata da Flórida, visitou recentemente um campus com vários outros legisladores judeus. Ele afirmou que alguns em seu partido minimizavam a natureza radical de alguns protestos, ressaltando que “há pessoas que são pacíficas e outras que não são”. Para Moskowitz, há uma “negação” por parte dos seus “amigos à esquerda” sobre a existência de antissemitismo.

Antissemitismo

O deputado não quis citar nomes, embora ele e Alexandria Ocasio-Cortez tenham discutido nas redes sociais. Ela, uma das várias legisladoras progressistas que visitaram o acampamento da Universidade Columbia, também condenou “pessoas horríveis vagando do lado de fora” do campus e que pregam “antissemitismo virulento”. De maneira geral, argumentou Moskowitz, algumas pessoas de esquerda que criticaram os cantos antissemitas de “homens brancos” que se manifestaram em Charlottesville em 2017 pareciam relutantes em denunciar discursos quando vinham de americanos com inclinações liberais.

— Não vejo o mesmo nível de indignação — disse Moskowitz. — É politicamente inconveniente agora.

O deputado Jerrold Nadler, membro judeu do Congresso, também expressou preocupações com o antissemitismo. Ele disse, porém, que seu partido era consistente em denunciar o preconceito, em contraste com muitos republicanos. Da mesma forma, Lauren Hitt, porta-voz da campanha de Biden, disse que, “enquanto Trump ficava orgulhosamente ao lado dos supremacistas brancos e incentivava repressões violentas contra manifestantes pacíficos”, Biden defende a Primeira Emenda e “reforçou as proteções contra antissemitismo e islamofobia”.

Na Geórgia, onde os manifestantes na Universidade Emory foram contidos com força, a deputada estadual Ruwa Romman disse que “não há espaço para antissemitismo neste movimento”. Ela alertou, contudo, contra o foco em “alguns rebeldes” em detrimento dos “milhares de estudantes que são acolhedores, que acreditam em um mundo multirracial, multicultural e multirreligioso”. Ela, que é uma democrata palestina, afirmou: “Quando perdemos jovens, não estamos perdendo apenas nas urnas, mas em todo o aparato eleitoral”.

Guerra de narrativas

Enquanto isso, alguns republicanos estão buscando retratar todo o Partido Democrata como extremista e excessivamente atento às preocupações dos manifestantes das universidades de elite. Jack Pandol, porta-voz do braço de campanha republicano da Câmara, disse que os democratas “demonstram ouvir um segmento muito pequeno e muito radical de sua base”.

O ex-deputado Steve Israel, que liderou o braço de campanha democrata da Câmara, disse que, embora os republicanos possam ver uma oportunidade de mensagens, era muito cedo para determinar se ela seria potente em novembro. Ele pontuou que os campi “geralmente esvaziam no verão”, e que a energia dessa questão “pode dissipar”. A questão, afirmou, é se o tópico retornará no semestre seguinte.

— A resposta para isso não está aqui. Está no Oriente Médio.

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