Uma decisão publicada nesta semana pela Justiça do Nepal intimou o governo a limitar as permissões de escalada no Monte Everest e outras montanhas do pais. Com 8 dos 10 montes mais altos do mundo, o país asiático recebe milhares de aventureiros todos os anos, especialmente na primavera, quando o clima é mais propício às escaladas e expedições.
- Temporada 'mortífera' e 'trilha de papel higiênico': Nepal impõe novas regras para escalar o Everest
- 8.848 metros de altura: vídeo viral mostra alpinistas no topo do Monte Everest em 360º e impressiona a web
A informação foi confirmada nesta sexta-feira pelo advogado Deepak Bikram Mishra, autor de uma petição para reduzir as permissões. Em enrtrevista à AFP, ele disse que a Suprema Corte do país concordou com as preocupações públicas sobre as montanhas do Nepal e os ecossistemas locais.
— A decisão ordenou um limite no número de alpinistas e também impôs medidas para o manejo de resíduos e a preservação do ambiente das montanhas — disse Mishra à AFP.
O veredito determina que a capacidade das montanhas "deve ser respeitada", e que seja determinado um número máximo adequado de permissões, sem sugerir números aproximados considerados ideais. A decisão foi emitida no final de abril, mas publicada apenas nesta sexta-feira.
Hoje, o Nepal emite permissões para todos que solicitam e estão dispostos a pagar US$ 11 mil (R$ 55,7 mil) para escalar o Everest, a montanha mais alta do mundo, a 8.848 metros acima do nível do mar. No ano passado, houve um recorde de licenças emitidas: 478, rendendo ao governo US$ 5 milhões (R$ 25 milhões) — considerando todos os montes do país, foram emitidas permissões a 1.046 alpinistas, gerando US$ 5,6 milhões (R$ 28 milhões) aos cofres públicos.
Cada alpinista gasta pelo menos US$ 26.700 (R$ 133.270) em uma expedição no Nepal, incluindo taxas de permissão, combustível, alimentação, guias e viagens locais, de acordo com a Reuters.
Deixar a montanha respirar
Há anos, especialistas, moradores das áreas de montanha e os próprios sherpas, os guias locais, apontam para o excesso de aventureiros rumo ao topo do Everest e outros picos. Em 2019, um "congestionamento" em diversas etapas da escalada fez com que as expedições esperassem horas no topo, com temperaturas negativas e o risco de esgotamento das reservas de oxigênio — praticamente todos os escaladores precisam de suplemento de oxigênio por causa do ar rarefeito. Naquele ano, ao menos quatro das 11 mortes na montanha foram atribuídas ao congestionamento.
— Estamos pressionando muito a montanha e precisamos dar um alívio a ela — enfatizou Mishra à AFP.
![Montanhistas em fila descendo o Monte Everest, no Nepal — Foto: Lakpa SHERPA / AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/sTvM2237Uas0BLFrqzQAC7x-N-k=/0x0:3000x2000/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/m/8/aJg6AFSluAV1Ev8blhBQ/106786895-files-this-photograph-taken-on-june-2-2021-shows-mountaineers-descending-from-the-summit-o.jpg)
A decisão também impôs restrições aos helicópteros, que só poderão ser usados em resgates de emergência. Nos últimos anos, as aeronaves foram empregadas para transportar equipamentos de montanhismo para acampamentos e locais perigosos.
A presidente da Associação de Montanhismo do Nepal, Nima Nuru Sherpa, comentou que tais decisões devem ser tomadas após um estudo adequado e consultas com as partes interessadas.
— Ainda não esta claro como isso afetará a indústria. Não sabemos qual base foi usada para estabelecer os limites, e como serão divididas as permissões entre os operadores de expedição — disse Sherpa. — O importante é nos concentrarmos em como podemos tornar as montanhas mais seguras.
Até o fim de abril, o Nepal emitiu permissões para 945 escaladores para suas montanhas, incluindo 403 para o Everest.
Outras regras
Os rastreadores GPS, já utilizados por muitos alpinistas profissionais, ajudam a acompanhar o progresso em direção ao cume e também a garantir a segurança. Para a temporada de escalada iniciada em março e que segue até o final do mês, o Nepal exigirá localizadores profissionais e mais compactos, fáceis de costurar em uma peça de roupa e que não necessitem de recarga.
![Pessoas que escalavam o Everest precisaram ser resgatadas às pressas após o terremoto no Nepal provocar uma avalanche na região — Foto: ROBERTO SCHMIDT/AFP](https://s2-oglobo.glbimg.com/4nmPaULnJ6PjV53FxRGIl18Iblw=/0x0:4928x3280/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2023/l/2/afMQnJRRyP4BGSfPAWjw/34000233-topshots-an-injured-person-is-carried-by-rescue-members-to-be-airlifted-by-rescue-helic.jpg)
Antes da decisão da Suprema Corte, o Nepal passou a exigir que os alpinistas do Everest levem localizadores GPS para facilitar buscas e resgates, e que se responsabilizem pelo descarte de qualquer tipo de material biológico. As medidas visam a melhorar a higiene, a segurança e as condições de resgate. A última temporada foi uma das mais mortais já registradas, com 18 vítimas.
Os alpinistas também devem ser capazes de serem detectados mesmo sob 20 metros de neve.
— Os localizadores GPS são obrigatórios para os alpinistas este ano para que, em caso de acidente, sua localização possa ser identificada com precisão — disse na terça-feira o diretor de montanhismo do departamento de turismo do Nepal, Rakesh Gurung.