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Por O Globo e agências internacionais — Nova York

A ex-atriz pornô Stormy Daniels, figura central do caso histórico que colocou Donald Trump no banco dos réus — e que pode levá-lo à prisão — depôs pela primeira vez nesta terça-feira. Por quase quatro horas, ela descreveu aos promotores de Nova York, nos Estados Unidos, seu encontro sexual de 2006 com o republicano, acusado de fraude contábil, afirmando que teria se "assustado" ao vê-lo na cama e que teria sofrido uma ameaça, anos depois, após vender a história para uma revista. O magnata teria desembolsado US$ 130 mil (R$ 659 mil, na cotação atual) para comprar o silêncio da atriz na reta final da campanha eleitoral de 2016, na qual saiu vitorioso. A audiência foi encerrada e Daniels deve voltar ao tribunal na quinta-feira para responder mais perguntas da defesa.

O depoimento de Daniels era um dos mais esperados do julgamento, que entrou na terceira semana e lançou luz sobre os bastidores da campanha presidencial do republicano em 2016, quando seus escândalos sexuais vieram à tona. Nervosa e diante do olhar imperturbável de Trump, a ex-atriz pornô detalhou sua infância difícil e contou como conheceu o magnata num torneio de golfe quando tinha 27 anos e trabalhava como relações públicas na empresa de filmes adultos Wicked Entertainment.

A acusação mostrou uma foto dos dois abraçados e jogando golfe, e ela disse ter consciência de que o magnata era mais velho, inclusive “provavelmente mais velho” que seu pai (na época, Trump tinha 60 anos). Daniels afirmou que, na ocasião, o republicano disse que gostaria de jantar com ela. A ex-atriz disse ter ficado relutante com a oferta, mas que aceitou posteriormente, após ter sido incentivada por seu assessor. Naquela noite, Trump teria oferecido a ela uma participação no programa "O Aprendiz", reality show de 2004.

Em seu testemunho, Daniels descreveu o espaço do encontro — uma suíte de hotel “três vezes maior” que seu apartamento — e ressaltou que Trump vestia um “pijama de cetim”, substituído depois por uma camisa e calças sociais. A testemunha disse ainda que teve uma conversa "muito breve" com o ex-presidente sobre sua esposa, Melania, e que chegou a perguntar sobre ela. Ela também afirmou que se recorda do republicando respondendo "não dormimos mais no mesmo quarto". Neste momento, segundo a CNN, o ex-presidente fechou os olhos, balançou a cabeça e murmurou algo para seus advogados na mesa de defesa.

Dinâmica de poder

Daniels afirma que foi duas vezes ao banheiro para tentar contatar uma amiga, mas que não conseguiu retorno. Ao voltar da segunda ida, encontrou o magnata na cama, usando uma cueca boxer e camiseta.

— Senti como se o quarto girasse em câmera lenta [quando saiu do banheiro] — relembrou a testemunha, descrevendo que "sentiu o sangue deixar minhas mãos e pés, quase como se tivesse levantado muito rápido", acrescentando: — Eu pensei, "meu Deus, o que eu interpretei errado para chegar aqui?"

Ela disse que ficou "assustada", como se tivesse "levado um susto", confessando não estar esperando que alguém estivesse ali, "especialmente sem muitas roupas". Daniels afirmou que ali a intenção "era bem clara" e que Trump levantou-se, ficando entre ela e a porta, embora "não de uma forma ameaçadora". A testemunha confirmou que, em seguida, eles tiveram uma relação sexual, contando alguns detalhes ao tribunal. O testemunho explícito levou a defesa do ex-presidente a pedir a anulação do julgamento muitas vezes, o que foi negado pelo juíz.

— Muito do testemunho sobre o qual esta testemunha falou hoje é muito diferente da história que ela vendia em 2016 — afirmou o advogado Todd Blanche.

Trump, que nega ter tido relações sexuais com a ex-atriz pornô, não teria usado preservativo, de acordo com Daniels. Ela também afirmou que o ex-presidente não pediu que ela mantivesse o encontro em segredo e que, por isso, teria contado a "muitos e muitos amigos" que tinha ido até seu quarto e o encontrado. Apesar disso, a parte do sexo ficou restrita à "pouquíssimas, pouquíssimas pessoas próximas".

A correspondente jurídica chefe da CNN, Paula Reid, ponderou como, no relato de Daniels, a comparação, por exemplo, do tamanho da suíte do hotel em que encontrou o ex-presidente com o seu apartamento criou uma dinâmica de poder intimidador.

— Ela também testemunhou que teve uma origem pobre, o que aumentou a dinâmica de poder assimétrica entre os dois — explicou Reid.

Suposta ameaça

Daniels afirma que encontrou Trump em uma boate na noite seguinte, e que concordou em encontrá-lo novamente, porque estavam em um local público. Semanas após o encontro, eles teriam começado a conversar constantemente, às vezes até uma vez por semana.

— Meu assessor achou que era uma boa ideia continuar conversando com ele sobre o programa de televisão — respondeu, ao ser questionada porque manteve contato com o republicano, que também teria dado a ela o número de sua assistente.

Trump teria voltado a encontrá-la, segundo o depoimento, algumas vezes em 2007. Daniels também afirma que parou de atender as chamadas do Magnata após ele afirmar que não conseguiria sua participação no reality. Quatro anos depois, ela contou que deu uma entrevista à revista In Touch Weekly, que teria pago US$ 15 mil na época pela histórica. A história, porém, nunca foi pulicada.

No mesmo ano, em junho, ela firmou que foi abordada por um homem no estacionamento de um shopping em Las Vegas. Daniels, que estava com a filha no momento, disse que ela foi ameaçada "para não continuar a contar a história", e que estava "com medo". Ao tribunal, ela disse que não levou o caso às autoridades, e não contou ao pai da menina sobre a abordagem. Susan Necheles, advogada de Trump, procurou retratar Daniels como uma mentirosa movida pela ganância, sugerindo que o episódio da ameaça havia sido inventado.

Em 2015, um ano antes da eleição que levou Trump à Casa Branca, ela afirma que foi procurada "por muitas pessoas", mas que não conseguiu vender a história até a publicação da fita "Access Hollywood", na qual Trump se gaba de apalpar mulheres e foi proibida de ser apresentada ao júri pelo juiz. Ela conta que Trump e seu advogado na época, e atual testemunha no caso, Michael Cohen, estavam interessados em comprar a história.

— O que foi a melhor coisa que poderia acontecer... porque eu estaria segura e a história não seria divulgada — explicou, afirmando que não "se importava com o valor".

Entenda o caso

Segundo especialistas, o pagamento em si não é ilegal, mas sim a maneira como ele ocorreu. Na época, o advogado de Trump, Michael Cohen, tirou o dinheiro do próprio bolso e, depois, foi ressarcido pelo republicano, que empregou os valores como “despesas legais” de sua empresa familiar, a Trump Organization. Agora, o ex-presidente de 77 anos é acusado de falsificar 34 documentos contábeis para ocultar a transferência. Ele fez com que o dinheiro parecesse fazer parte de “despesas legais” de Cohen, outra testemunha importante.

O pagamento foi repassado como despesas legais para Michael Cohen, então advogado de Trump, para esconder uma suposta relação que o ex-presidente teve com Daniels dez anos antes, algo que ele sempre negou. Agora, o atual candidato republicano a retornar à Casa Branca nas eleições de novembro se vê forçado a presenciar o depoimento desta testemunha-chave, que tem sido protagonista no julgamento do magnata, acusado de 34 falsificações de documentos contábeis para disfarçar os pagamentos.

Segundo especialistas, o pagamento em si não é ilegal, mas sim a maneira como ocorreu: Cohen tirou o dinheiro do próprio bolso e, depois, foi ressarcido pelo republicano, que empregou os valores como “despesas legais” de sua empresa familiar, a Trump Organization.

Nesta segunda-feira, os promotores interrogaram Jeffrey McConney, um executivo da companhia, que contou aos jurados sobre os reembolsos. Além de Daniels, de 45 anos, Cohen, atual inimigo declarado de Trump, também deverá ser uma das testemunhas de acusação, que espera concluir seu interrogatório em duas semanas.

O magnata republicano, que afirma ser vítima de uma “caça às bruxas”, frequenta desde 15 abril a Suprema Corte de Manhattan, onde testemunhas esclarecem os bastidores de sua campanha eleitoral de 2016 diante do júri popular que vai decidir seu destino. Se for considerado culpado, Trump poderá ser condenado à prisão, embora isso não o impeça de assumir a presidência do país, caso vença as eleições em novembro. O republicano culpa seu atual rival, o presidente democrata Joe Biden, por ter que comparecer às inúmeras audiências em vez de fazer campanha.

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