As Forças Armadas de Israel (FDI) intensificaram, nesta quarta-feira, bombardeios em várias regiões da Faixa de Gaza, principalmente em Rafah, um dia após tomar a passagem de fronteira que separa o sul do enclave palestino e o Egito. A ofensiva ocorre enquanto uma delegação israelense e outra do Hamas participam de negociações mediadas no Cairo, em meio a uma crescente pressão da comunidade internacional para o fim das hostilidades — incluindo de aliados do Estado judeu, como os EUA, que bloquearam o envio de armas, como revelaram fontes americanas.
Testemunhas no território relataram ataques aéreos em numerosas partes do enclave palestino, especialmente na Cidade de Gaza, onde um hospital anunciou a morte de sete pessoas de uma família. A rede catari al-Jazeera noticiou três mortes em Khan Younis, no sul, e bombardeios em áreas densamente povoadas de Rafah, com hospitais notificando a entrada de várias pessoas feridas.
Israel intensificou a ofensiva militar contra o território palestino, lançando uma operação contra Rafah, que há meses motivava preocupações na comunidade internacional. Com tanques, os militares tomaram o controle da passagem fronteiriça e ingressaram na cidade. As FDI afirmaram que a ação terá escopo limitado, e que ainda não corresponde à ação de larga escala, que autoridades defendem para alcançar os últimos batalhões do Hamas.
O medo de que a ofensiva em Rafah possa agravar ainda mais a crise humanitária em Gaza afetou até mesmo a relação entre Israel e seu principal aliado, os EUA, que já vinham expressando desacordo com o ataque. Autoridades do governo americano confirmaram, na noite de terça-feira, que o presidente Joe Biden suspendeu o envio de armas para Israel na semana passada, para evitar que armas fabricadas nos EUA fossem usadas contra a cidade do extremo sul do enclave.
Ao todo, 3.500 bombas foram retidas pelos EUA: 1.800 delas com aproximadamente 900 kg, e 1.700 com cerca de 220kg. Fontes que conversaram em anonimato com jornais americanos afirmaram que o governo está revisando futuras transferências de equipamentos militares, incluindo kits de orientação que convertem as chamadas bombas burras em munições guiadas de precisão.
Países que atuam como mediadores do diálogo entre Israel e Hamas também exigiram uma reação internacional à ofensiva israelense. O Catar fez um apelo, nesta quarta-feira, para que a comunidade internacional evitasse um “genocídio” em Rafah, e ameaçar uma operação em grande escala — na terça, autoridades israelenses disseram que invadiriam com força total, caso não houvesse progresso na libertação de reféns cativos em Gaza.
“[Apelamos por uma] ação internacional urgente para evitar que a cidade seja invadida e que seja cometido um crime de genocídio", pronunciou-se o país do Golfo em um comunicado, por meio do qual condenou "firmemente" os bombardeios contra a cidade.
Apesar do cenário tenso, negociadores tentam manter algum grau de otimismo ante a nova rodada de negociação se inicia no Cairo. Autoridades do Egito confirmaram que as tratativas foram retomadas, nesta quarta-feira, com representantes de todos os lados.
“As negociações de trégua foram retomadas hoje no Cairo com todas as partes presentes”, informou o jornal egípcio al-Qahera News, que é próximo dos serviços de inteligência, citando um “alto funcionário” que não identificou. (AFP e NYT)
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