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Por O Globo e agências internacionais — Tel Aviv e Washington

Os pais de mais de 900 soldados israelenses enviados para a guerra em Gaza assinaram uma carta em que instam o Exército a cancelar a ofensiva em Rafah, no extremo sul do enclave controlado desde 2007 pelo grupo terrorista Hamas. No documento, eles classificam o ataque iminente como uma “armadilha mortal” para os seus filhos, informou o jornal britânico The Guardian nesta segunda-feira. Ao todo, segundo autoridades israelenses, mais de 600 soldados morreram desde o início do conflito, iniciado após o grupo terrorista Hamas deixar quase 1,2 mortos e fazer quase 250 reféns ao atacar o sul israelense em 7 de outubro do ano passado. O descontentamento sobre o conflito também pôde ser testemunhado nesta segunda-feira no Dia da Memória de Israel, em que a população homenageia pessoas mortas durante as guerras do país e em ataques terroristas. Em todo o país, manifestantes interromperam várias cerimônias, questionando os ministros do governo.

Desde a semana passada, as Forças Armadas de Israel (FDI) emitiram alertas para que moradores retirem-se da cidade, em uma indicação de que uma operação terrestre em larga escala deverá sair do papel apesar de críticas internacionais. A Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) estima que 360 mil pessoas fugiram de Rafah desde então — número superior à população local antes da guerra, de cerca de 250 mil pessoas.

“É evidente para qualquer pessoa com bom senso que, após meses de avisos e anúncios sobre uma incursão em Rafah, há forças do outro lado ativamente se preparando para atacar nossas tropas”, diz o texto, enviado ao ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, e ao chefe do Estado-Maior das FDI, tenente-tenente-general Herzi Galevi, em 2 de maio. A carta foi inicialmente assinada pelos pais de cerca de 600 soldados, mas nos últimos dias mais 300 assinaram. “Nossos filhos estão física e mentalmente exaustos, e agora os senhores pretendem enviá-los para essa situação perigosa? Isso parece ser nada menos que imprudência.”

Além da fuga mais recente das pessoas que estão em Rafah, que passou a abrigar um total de quase 1,5 mil palestinos desde o início do conflito, a UNRWA afirmou haver registros de que no norte do enclave também houve bombardeios e ordens de retirada que “criaram mais deslocamento e medo para milhares de famílias”, de modo que “não há para onde ir”. Philippe Lazzarini, comissário-geral da organização, afirmou que a maioria dos palestinos se mudou, em média, uma vez por mês para evitar os bombardeios.

— A afirmação de que há ‘zonas seguras’ é falsa e enganosa. Nenhum lugar é seguro em Gaza. Ponto final — disse ele.

Exército de Israel ordena retirada de ao menos 100 mil de área em Rafah, no extremo sul de Gaza — Foto: Arte/ O GLOBO
Exército de Israel ordena retirada de ao menos 100 mil de área em Rafah, no extremo sul de Gaza — Foto: Arte/ O GLOBO

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, rejeitou a pressão dos Estados Unidos para adiar um combate em larga escala no local. Em reunião com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, no último mês, Netanyahu afirmou que a ofensiva ocorrerá “com ou sem o apoio dos EUA”. Na ocasião, o chefe da diplomacia americana pontuou que uma grande incursão terrestre na região ameaçaria “isolar ainda mais Israel do mundo”.

Na ultima semana, altos funcionários americanos repetiram as advertências, prevendo que a ação levaria a muitas mortes de civis. O presidente dos EUA, Joe Biden, chegou a advertir que bloquearia o envio de mais armamentos se a ofensiva for levada adiante — até agora, os EUA suspenderam o fornecimento de 3,5 mil bombas.

Apesar da pressão, o governo americano não acredita que a ação de Israel em Gaza seja "genocídio" — como acusa a África do Sul em caso ainda em andamento na Corte Internacional de Justiça (CIJ) —, embora considera que o governo Netanyahu deva "fazer mais para garantir a proteção e o bem-estar dos civis" palestinos, conforme disse, nesta segunda-feira, o assessor de Segurança Nacional do presidente Biden.

— Rafah é uma armadilha mortal — disse Anat, mãe de um soldado das FDI, ao Guardian. — O Hamas teve muito tempo para preparar o local para matar nossos soldados. Estamos preocupados e assustados. Nos primeiros meses de guerra, apoiamos toda a operação. Não havia outra escolha senão lutar e se livrar do Hamas em Gaza. Mas, nos últimos meses, entendemos que não há um plano claro.

Último reduto do Hamas

Israel retratou Rafah como “o último reduto” terrorista no enclave, argumentando que a operação deve ocorrer para que a destruição do Hamas seja finalizada. Mas, ainda segundo o Guardian, o grupo já conseguiu se reagrupar em áreas previamente atacadas pelas FDI. No domingo, Blinken disse estar preocupado com a possibilidade de que a falha de Israel em estabelecer um modelo para governança da Faixa de Gaza signifique que suas vitórias podem não ser “sustentáveis”, sendo seguidas por “casos de anarquia e, em última instância, pelo Hamas novamente”.

À NBC, o secretário de Estado americano afirmou que o plano israelense em Rafah “corre o risco de causar enormes danos à população civil sem, no entanto, resolver o problema”. Ao ser questionado se Washington considerava que morreram mais civis em Gaza do que integrantes do Hamas, ele respondeu que “sim”. Neste domingo, o Ministério da Saúde do enclave afirmou que mais de 35 mil palestinos foram mortos no conflito, em sua maioria mulheres e crianças. Blinken conversou com Gallant, o ministro da Defesa israelense, e insistiu que os EUA são contrários a uma grande operação em Rafah.

— Vimos o Hamas voltar às áreas que Israel libertou no norte, inclusive em Khan Younis (localidade em ruínas perto de Rafah) — acrescentou a autoridade americana.

Autoridades dos EUA também afirmam que Yahya Sinwar, o principal líder do Hamas em Gaza, não está escondido em Rafah — algo que poderia enfraquecer a justificativa israelense para uma operação militar na cidade. As mesmas fontes afirmaram, segundo o New York Times, que agências de inteligência israelenses concordam com a avaliação americana de que os líderes do grupo estão em outros locais. Para órgãos de espionagem dos dois países, Sinwar provavelmente nunca deixou a rede de túneis sob Khan Younis, onde as construções são mais profundas e chegam a até 15 andares. O líder do grupo também estaria cercado por reféns que usa como escudos humanos.

Protestos interrompem dia de luto

Enquanto os israelenses se reuniam em todo o país nesta segunda-feira para o primeiro dia nacional de luto desde os ataques liderados pelo Hamas no último ano, manifestantes interromperam várias cerimônias e vaiaram ministros do governo de Israel. Netanyahu foi vaiado ao comparecer a um memorial no Monte Herzl, em Jerusalém, local do cemitério nacional do país. Uma pessoa foi ouvida gritando “lixo”, e outra disse: “Você levou meus filhos”. Em outra cerimônia, o ministro da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, foi chamado de “criminoso”. Alguns pediram a renúncia da ministra dos Transportes, Miri Regev, e um manifestante segurou um cartaz em referência a Gallant, o ministro da Defesa, que dizia: “O sangue deles está em suas mãos”.

As interrupções têm precedentes. Os manifestantes já haviam provocado Ben-Gvir e outros ministros no ano passado, antes do início da guerra, quando a raiva sobre os esforços do governo para reformar o sistema judicial era a fonte mais proeminente de divisão social. Neste ano, porém, os protestos refletiram a crescente angústia entre partes da população sobre como o governo de coalizão de direita de Netanyahu lidou com a guerra. Críticos culpam o primeiro-ministro por não ter evitado a invasão de 7 de outubro.

O governo conseguiu garantir a libertação de mais de 100 reféns, mas pelo menos metade dos sequestrados está morta ou permanece em cativeiro. Muitos dos seus entes queridos querem que o governo concorde com um cessar-fogo imediato que permitiria a libertação dos reféns restantes, mesmo que isso signifique deixar o Hamas no controle de partes de Gaza. Segundo uma pesquisa realizada neste mês pelo Instituto de Democracia de Israel, a maioria dos israelenses vê um acordo de reféns como uma prioridade sobre a operação em Rafah.

As autoridades israelenses não responderam à carta dos pais dos soldados. No entanto, durante cerimônia no Muro das Lamentações em Jerusalém no domingo, o chefe do Estado-Maior do Exército israelense, Herzi Halevi, disse que era responsável por fornecer retornos às famílias de militares que foram mortos. Idit, mãe de um comandante de Israel, disse ao Guardian nesta segunda-feira que seu filho enviou uma mensagem pelo WhatsApp afirmando que os soldados estão “a caminho de Rafah”. Ela afirmou que ele não queria invadir o território, mas que fará isso porque é “leal ao Exército”.

— Estou aterrorizada. Não somos contra a missão de lutar contra o Hamas, mas entrar em Rafah não justifica essa missão. (Com AFP e New York Times)

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