Os conflitos em Gaza, no Sudão e na República Democrática do Congo aumentaram o número de pessoas deslocadas internamente, levando ao nível recorde de 75,9 milhões no final de 2023, segundo um relatório do Centro de Monitoramento de Deslocamentos Internos (IDMC, na sigla em inglês) publicado nesta terça-feira.
Ao longo em 2023, foram registrados 46,9 milhões de movimentos internos, registrados em 151 países e territórios. E as tragédias naturais e desastres ambientais representaram mais da metade dos deslocamentos do ano passado: 26,4 milhões de movimentos foram provocados por inundações, tempestades, terremotos, incêndios florestais e outras catástrofes.
No final de 2022, o mundo registrava 71,1 milhões de deslocados internos, segundo o IDMC. Agora, o número é de 75,9 milhões, um aumento de 6,8% — no total, o aumento chegou a 50% nos últimos cinco anos.
Quase metade do número total de pessoas deslocadas internamente (46%) vivem na África Subsariana. Do número total de deslocados internos registrados, a violência e os conflitos são a principal causa: forçaram 68,3 milhões de pessoas, o equivalente a quase 90%, a deixarem suas casas, enquanto as catástrofes e tragédias ambientais obrigaram 7,7 milhões a sair.
— Esses dados são úteis para conhecer o estado de resolução de diferentes conflitos, a resiliência de um país a desastres naturais ou os efeitos das mudanças climáticas. Em comparação com outros dados socioeconômicos e de desenvolvimento, eles fornecem uma perspectiva útil — explicou o coordenador do relatório, Vicente Anzellini, ao El País.
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Mundo violento
Nos últimos cinco anos, o número de pessoas deslocadas devido à violência e aos conflitos aumentou em 22,6 milhões. As altas mais expressivas aconteceram em 2022 e 2023. Com 9,1 milhões de deslocados no total, o Sudão tem o maior número de pessoas nesta situação desde que o IDMC iniciou o balanço em 2008.
— Nos últimos dois anos, constatamos um número alarmante de pessoas obrigadas a fugir das suas casas devido a conflitos e à violência, inclusive em regiões onde a tendência parecia melhorar —declarou Alexandra Bilak, diretora do IDMC, afirmando que "os conflitos e a destruição provocados impedem que milhões de pessoas reconstruam suas vidas, muitas vezes durante anos".
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Ao longo do ano passado, o conflito entre dois generais rivais no Sudão provocou seis milhões de deslocamentos forçados, número que supera o total registrado nos 14 anos anteriores no país. Este é o segundo número mais elevado de deslocamentos forçados em um ano, superado apenas pelos 16,9 milhões registrados na Ucrânia em 2022, quando começou a invasão das tropas da Rússia.
Na cidade de Rafah, extremo sul da Faixa de Gaza, alguns moradores já acumulam cinco ou seis deslocamentos internos, afirmou a ONG na semana passada. O local, classificado como o último reduto do Hamas, responsável pelo ataque terrorista a Israel em outubro passado, tem sido alvo de ordens de deslocamento parcial do Exército israelense desde a semana passada.
No final do ano passado havia 1,7 milhão de deslocados no enclave palestino, mas o número de deslocamentos em 2023 foi o dobro: 3,4 milhões.
— Quando alguém é deslocado repetidamente, sua resiliência financeira sofre, assim como sua subsistência, e isso leva ao empobrecimento que terá repercussões mais profundas e de longo prazo. Por exemplo, em Gaza, mais de 60% das casas estão danificadas ou desaparecidas, portanto, mesmo que os ataques israelenses terminem, levará muitos anos para que os habitantes de Gaza recuperem suas condições de vida anteriores — exemplificou Anzellini, pontuando impactos nas gerações futuras e na soberania alimentar.
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Dos 26,4 milhões de deslocamentos forçados provocados por inundações, tempestades, terremotos, incêndios florestais e outras catástrofes, um terço aconteceu na China e na Turquia devido a fenômenos meteorológicos violentos e terremotos de grande magnitude. Ainda segundo o relatório, 148 países e territórios reportaram deslocamentos por tragédias ambientais, como o Canadá e a Nova Zelândia.
— Nunca registramos tantas pessoas forçadas a abandonar suas casas e comunidades. É um veredicto contundente sobre as falhas na prevenção de conflitos e na promoção da paz — afirmou o diretor do Conselho Norueguês para os Refugiados, Jan Egeland.
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A organização norueguesa criou o IDMC em 1998, mas os registros de deslocamentos e de pessoas deslocadas internamente começaram apenas em 2019.
— O sofrimento e os deslocamentos perduram mais do que o ciclo atual. Com muita frequência, a situação é enfrentada com silêncio e negligência. A falta de proteção e assistência sofrida por milhões de pessoas não pode continuar — disse Egeland. (Com AFP e El País)
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